A verdade é que não existe uma apresentação pública perfeita. E a verdade é que para começarmos a aprender como falar bem em público devemos avaliar o modo como nos expressamos com mais consideração, deixando as autocríticas de lado e mantendo a nossa atenção no que deu certo

Olá amigos!

Eliseu Mocitaíba é um dos mais incríveis palestrantes que já tive a oportunidade de apreciar. Em um Curso dado por ele aqui em São Lourenço, ele nos ensinou dois preceitos muito importantes para quem quer se aperfeiçoar no comportamento de falar em público. São eles:

– Quem está falando em público já foi um ouvinte. O melhor orador, o melhor palestrante esteve há pouco ouvindo, vendo. O melhor professor foi um aluno. E a posição de falar, assim como a posição de ouvir, é intercambiável, ou seja, podemos assumir ora uma posição, ora outra. E, com isso, podemos passar a pensar que falar em público é um comportamento como outro qualquer e que pode ser emitido por qualquer pessoa;

– Não existe algo como a fala perfeita. Até o orador mais brilhante, aquele que tiver preparado nos mínimos detalhes a sua apresentação, terá que fazer uso de um pouco de improviso e não estará totalmente afastado da possibilidade de errar um pouquinho aqui e ali ou sair do script. Com este segundo preceito, começamos a deixar de lado uma concepção frequente de que em uma fala pública nós temos que ser perfeitos, de que não há espaço ou margem para erro. Este perfeccionismo ideal é a causa de muitas pessoas terem medo ou ansiedade antes, durante e após terem que falar para um grupo.

Antes de continuarmos, uma observação importante: ao longo do nosso Curso, nós vamos passar as melhores técnicas para falar em público. Falar em público aqui não é sinônimo de ler em público. Se você ver com atenção um jornal na TV, notará que o jornalista tido como um excelente orador está, na verdade, lendo. Ler em voz alta é um comportamento que não é o nosso objetivo no Curso.

Queremos aperfeiçoar a habilidade de falar com desenvoltura. É claro que em um momento ou outro, é viável ler um trecho de um Power Point, de um Keynote, de uma nota em um papel ou tablet. Porém, para os nossos propósitos aqui é importante deixar claro que não estamos visando a leitura em voz alta. Falar em público, portanto, é uma habilidade que envolve a preparação do tema, mas também certa dose de improviso e de memória, além de comportamentos específicos (simples, excessivamente simples) que trabalharemos nas Lições seguintes. São simples, mas em conjunto, dão toda a diferença entre aquele que é considerado pela audiência como um orador que domina o tema e outro que não.

Na Lição de hoje, vamos começar pelo fim de uma apresentação, ou melhor, vamos começar pelo que acontece após uma fala. Estamos utilizando o modelo cognitivo da Psicologia Cognitiva que divide o comportamento em 3 partes:

1) Fase antecipatória (como o próprio nome diz é a fase antes de falar em público);

2) Exposição situacional (durante o evento de falar em público);

3) Processamento pós-evento. Segundo Aaron Beck consiste no “viés de lembrança e interpretação de desempenho social e desfecho passados” (BECK, 2012, p. 351). É esta parte 3 que abordaremos nesta Lição.

A importância do Processamento pós-evento

Na fase do Processamento pós-evento, conseguimos distinguir pelo menos dois grupos de indivíduos:

1) os que se autocriticam

2) os que se autoelogiam

A tendência é que as pessoas que se autocritiquem passem a ter a probabilidade de não-emissão de comportamento até chegarem ao ponto de evitar qualquer possibilidade disponível de falar em público. Como avaliam as suas apresentações passadas de maneira muito negativa, elas não acreditam na sua própria capacidade e mantém a crença de o ideal de uma fala em público perfeita que nunca será atingida por elas.

As pessoas que se autoelogiam conseguem enxergar que, em suas apresentações, a maior parte do que foi dito e mostrado foi bem. Claro que não existe apresentação perfeita (neste sentido concordo completamente com o Eliseu), por isso, as pessoas que se autoelogiam também sabem que podem se preparar e melhorar nas apresentações seguintes. Assim, elas notam que aqui e ali cometeram um pequeno deslize, um erro ou uma falha, e, embora isto tenha passado desapercebido do público (que não se lembrará futuramente destes erros), ela anota apenas para poder aperfeiçoar o que pode ser aperfeiçoado nas falas seguintes.

Deste modo, há uma grande diferença no que ocorre com as pessoas que se elogiam e com as pessoas que se criticam na fase do Processamento pós-evento. Evidentemente, dividi de forma didática em dois grupos, contudo podemos notar variações nos indivíduos que vão gradativamente de um grupo a outro.

O importante é notar que ter um ideal muito elevado de uma apresentação perfeita só trará mais nervosismo e ansiedade. (Veremos na Lição 10 como combater a ansiedade na fase antecipatória). Lembre-se “não existe apresentação perfeita”, com isso, é totalmente normal e humano errar em um ponto ou outro, trocar uma palavra, parar para pensar em um ou outro momento, etc.

Certa vez, em um Curso de PNL voltado para a comunicação verbal e oratória, um de meus colegas de Curso falou sobre a avaliação parcial e a avaliação total. Ele foi até o quadro e fez um rabisco no meio:

quadro

E depois perguntou e a turma respondeu que o que nós víamos era um rabisco estranho bem no centro do quadro. Ele disse então, vocês estão observando errado, o que vocês estão vendo é um quadro 99% por cento correto e apenas 1% com um erro. O mesmo acontece com aqueles que se autoavaliam de maneira negativa após uma apresentação.

Qualquer pequeno erro que possa ter sido cometido representa apenas 1% do total da apresentação. E no final das contas o público não se lembrará do que foi falado errado ou do que representou uma ou outra pequena falha. Além disso, como até 50% por cento da população pode ter fobia social (de leve a grave) a maioria das pessoas entende que é natural apresentar um pouco de nervosismo.

Então, para comprovar o que estou falando, um de meus professores de oratória fez um experimento impossível de ser refutado. Ele filmou todos os alunos do Curso se apresentando e, depois, mostrou o vídeo para a turma. Consequência: todos viram que, apesar de imaginarem ter dificuldade, de se autoavaliarem como não falando tão bem ainda, notaram que antes do Curso já falavam superbem e que a autoavaliação posterior era equivocada. Quer dizer, a pessoa que se autocritica foca a sua atenção no 1%, no rabisco, enquanto que para todos os ouvintes sua apresentação foi muito boa! Até para ela mesma se ela se ver falando em vídeo!

Conclusão

A partir de agora, comece a fazer uma avaliação mais realista de suas apresentações. E fazer uma avaliação mais realista consiste em ver que as autocríticas são geralmente muito exageradas. Em uma apresentação, mesmo o melhor orador poderá errar um pouquinho. Isto faz parte pois não existe uma apresentação totalmente perfeita.

Por isso, ao invés de ficar se criticando, lembrando que você cometeu um errinho aqui e outro ali, avalie a sua apresentação como boa e muito boa. Afinal, é esta a avaliação do público que, depois, não ficará lembrando do que podemos chamar de pequenos erros, ok?

Desta forma, você passará de uma interpretação tendenciosa – se tiver – e equivocada sobre como foi a sua apresentação, interpretação esta que poderá fazer com que você fale cada vez menos ou até não fale nunca. Com autoavaliações mais corretas, mais verdadeiras, você verá que você já fala muito bem, hoje, agora.

Como um mestre disse para o discípulo: “Você já é perfeito. Mas ainda pode melhorar”. Em outras palavras, a sua capacidade para falar em público já está aí e as dicas que passaremos nas Lições seguintes vão lhe ajudar a expressar este potencial.

Para concluir, após uma apresentação recorde-se sempre da importância de ter um processamento pós-evento que seja verdadeiro. Para todos os efeitos, mantenha o foco da sua atenção no que foi bem feito e passe a avaliar as suas apresentações com olhos mais amorosos. Isto não quer dizer que você não terá que melhorar e treinar para ficar ainda mais capaz.

Na próxima Lição, falaremos sobre porque temos que treinar o máximo que pudermos e como fazer isto em situações cotidianas.

Veja aqui a continuação – Lição 2 – Curso Grátis Como Falar em Público

Veja também:

Página Inicial – Como falar em público

Lição 1 – Processamento Pós-Evento 

Lição 2 – Treinamento contínuo

Lição 3 – Exposição situacional – Pausas de 5 segundos 

Lição 4 – Exposição situacional – Olhos nos olhos

Lição 5 – Exposição situacional – Firmeza na fala

Referências Bibliográficas

BECK, Aaron, CLARK, David. Terapia Cognitiva para os Transtornos de Ansiedade. Porto Alegre: Artmed, 2012.