Olá amigos!
Quando Pedro e Raquel chegaram ao consultório para a primeira consulta de terapia de casa, eles mal estavam conversando. Com o semblante triste, ela começou explicando que a terapia de casal era a última tentativa para que o casamento desse certo. Tanto ele como ela sentiam que já não formavam um casal, que estavam distantes um do outro e, além disso, como as brigas eram constantes, estavam se perguntando se ainda valia a pena continuar. O fato de terem filhos, claro, pesava na decisão, assim como terem que passar por um longo processo para dividir os bens, caso a separação ocorresse.
Mas o que mais perturbava o casal era o fato de que eles pareciam não falar mais a mesma língua. Como se ela falasse português e ele falasse norueguês. Com o tempo, não existiam mais conversas, apenas palavras trocas entre os gritos e berros das discussões.
O principal problema dos relacionamentos amorosos
Com o progresso da terapia, ficou claro para Pedro e Raquel que o problema principal de seu relacionamento era a comunicação. Ou melhor, a falta da comunicação junto de uma comunicação deficiente, falha, equivocada.
Por exemplo, alguns dias antes de terem chegado ao consultório, Raquel tinha se decepcionado novamente com seu marido pelo fato de ele não querer conversar sobre o próprio relacionamento. Para ela, o silêncio era uma falta de respeito que implicava que ele não tinha o menor interesse nela e no casamento. Para Pedro, discutir a relação era algo detestável, porque de todas as vezes em que ele tinha concordado em conversar, as conversas tinham virado brigas e nada de bom havia saído dali.
Ainda estava em sua memória o dia em que voltavam para casa, depois de um jantar com amigos, e ele estava feliz e animado e queria conversar com ela sobre a possibilidade de mudarem de cidade em virtude da nova oportunidade de trabalho. Enquanto para ele, a perspectiva de mudança seria ótima para todos, por causa do salário maior, Raquel somente via que ia perder o contato com sua família e amigos e pensava que a simples de ideia de mudar era uma afronta dele contra ela.
Com o tempo de terapia, portanto, ficou claro para os dois que o principal problema residia na comunicação. Como não conseguiam manter um diálogo franco e aberto, cada um ficava imaginado (e a palavra imaginando tem que ser frisada aqui) o que o outro estava pensando.
É o que chamamos na psicologia cognitiva de leitura da mente. Embora possa dar certo, na maioria das vezes a nossa leitura do que está passando pela cabeça da outra pessoa é incompleta, quando não totalmente errada.
Quando queria falar da perspectiva de um novo salário, Pedro tinha em mente que a família teria uma melhor condição de vida e ao olhar para Raquel e vê-la triste e distante, ele não conseguia compreender o que ela pensava e começou a pensar que ela não poderia ficar feliz com o seu crescimento profissional e até que ela não se importava com o bem estar dele e dos filhos. Ela, por sua vez, em sua tristeza calada, interpretava o jeito dele como egoísta, como se ele não se importasse com o que ela teria que abrir mão, a presença dos amigos e familiares.
Ora, o que torna a comunicação a grande questão deste casal – assim como a grande questão para a maioria dos casais em crise – é que os reais motivos não são ditos. Ele não chegou a dizer que o novo trabalho representaria uma vantagem para toda a família, enquanto ela não disse que sentiria falta das pessoas próximas. Tanto ele como ela apenas ficaram imaginando o que o outro estava pensando. E adivinhem: ficaram imaginado errado.
Do mesmo modo quando ela queria conversar sobre o relacionamento. Para ela, tentar desabafar seria uma ótima saída, enquanto que para ele remoer o passado seria só um gatilho para iniciar uma nova briga. Os motivos pelos quais um queria conversar e o outro não, da mesma forma, nunca foram ditos e, novamente, eles tiveram que “ler a mente” um do outro e novamente de forma incorreta.
O que fazer para superar os erros de comunicação
Mesmo as teorias mais rudimentares e simples sobre a comunicação entendem que a comunicação pode ter ruídos, quer dizer, falhas na mensagem enviada do emissor para o receptor. O que é incrível não é que existam falhas na comunicação, o que é incrível é o inverso: como as pessoas podem conseguir conversar e dialogar de forma harmônica e se entenderem, porque cada pessoa tem um mundo próprio, tem uma forma de conceber a realidade e até as próprias palavras e, ao entrar em contato com outra pessoa, estará também entrando em contato com um outro horizonte de perspectiva.
Um exemplo pensarmos como cada pessoa sente um único elemento da linguagem como uma palavra. Para certa pessoa, a palavra mudança será extraordinária e implicará um sentimento positivo, alegre, contente, feliz. Para outra pessoa, que adora a estabilidade, mudar é sinal de fraqueza, de incompetência, de incapacidade.
Ou seja, se em apenas uma única palavra pode haver desentendimentos, imagine em uma relação de anos!
Por isso, apesar de parecer contraditório, para superar o serros de comunicação temos que nos comunicar mais. Não mais do mesmo, quer dizer, temos que nos comunicar mais e de um jeito diferente, melhor, com mais atenção.
E o primeiro passo para isso é parar de ficar imaginando os motivos do comportamento observável e perguntar. Se Raquel tivesse perguntado o porquê de Pedro não querer discutir a relação, teria entendido que não era o desinteresse a razão, mas sim a tentativa dele de evitar uma outra briga. Se Pedro tivesse perguntado para ela porquê de ela estar triste e emburrada quando ele mencionava a mudança de cidade, teria entendido que a preocupação dela residia na distância das pessoas que gostava. Se soubesse do real motivo, poderia ter encontrado uma saída, como proposto viagens frequentes para visitar os amigos e parentes.
Portanto, o primeiro passo é parar de imaginar o que está passando pela cabeça da outra pessoa e perguntar. É algo tão simples e deixado de lado, como se preferíssemos ficar imaginando coisas que não existem, razões imaginárias e frequentemente negativas, para interpretar o semblante.
Por exemplo, imagine que você está contando uma história um pouco triste do seu passado e a pessoa que está te ouvindo começa a esboçar um sorriso. O que você vai fazer? Vai ficar triste com a reação? Vai ficar bravo com a falta de atenção, como se não estivesse sendo ouvido? Ou vai perguntar o porquê do sorriso?
Veja bem que se você não perguntar o porquê do sorriso, não saberá o real motivo. Nunca saberá, a não ser que a pessoa te diga. E se você não perguntar, talvez a pessoa não te diga…
Apenas esta única mudança – perguntar o porquê do comportamento do outro – fez com que Raquel* e Pedro se reaproximassem. Eles ainda estão trabalhando outras questões frequentes em relacionamentos, mas é notável como sentem mais proximidade agora.
*Os nomes do casal foram mudados por questão de privacidade e ambos concordaram com o presente texto
E o que fazer quando ao perguntamos o motivo a pessoa responde que acha que não há necessidade de diálogo sobre a vida cotidiana? A duas semanas terminei um relacionamento de 7 anos, sendo 3 deles morando juntos em um grande silêncio. Ele alega que acredita que o diálogo cotidiano, a conversa sobre trivialidades como trabalho e dia a dia não se faz mais necessário. Pois por morarmos juntos e me ver todo dia ele sabe que estou bem, não vê razão para perguntar ou falar dele mesmo. Como fazer para pessoa entender que relacionamento tem que sim ter diálogo?
E quando a pessoa está se auto enganando ou tem medo de falar o real motivo, seja para não se expor demais, seja por causa da reação do outro. Aí ela conta algo um pouco diferente do real e só depois de muita insistência (briga) ela confessa os seus reais motivos…. Gerando sempre uma desconfiança…
Olá Lady Lu!
Eu estava esperando já por uma pergunta parecida como a sua, quer dizer, e quando a outra pessoa simplesmente não quer conversar?
Bem, então, penso que temos duas possibilidade: ou a pessoa é mais calada e reservada (e é assim desde o começo da relação) ou a pessoa simplesmente não quer fazer mais nenhum esforço para que o relacionamento continue bem.
No primeiro caso, quando a pessoa é mais reservada, a mudança é mais difícil porque se trata de uma característica de personalidade que tende a ser mais constante. No segundo caso, penso que é importante avaliar se os dois estão olhando para a mesma direção, ou seja, se tem as expectativas semelhantes sobre o futuro (e o futuro da relação).
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Ronald,
Tanto a confiança como a honestidade são valores importantes em um relacionamento. Quando um destes dois pilares é quebrado, é necessário todo um esforço para que o relacionamento possa ser reconstruído.
Creio que a pergunta que deve ser feita é: por que a pessoa tem medo de falar o real motivo? Por que ela sente que não pode ser honesta? Por que da desconfiança?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
O relacionamento entre casais com muita diferença de idade.
Quando eu tento falar algo com meu marido ou perguntar algo ele sempre fala alto não tem paciência comigo sempre acha que tenho desconfiança então o que fazer nestas horas? Se já vivi plena em constante silencio a vida toda e mesmo assim ele me traiu devo confiar dar chance a uma pessoa assim ?
E quando vc enfim consegue estabelecer um dialogo, expoe o que te incomoda e a pessoa até entende os motivos da insatisfação mas não dá nenhuma alternativa de mudança e adaptação, vc tendo sentimentos inquestionáveis por essa pessoa deveria agir de que forma? como aceitar situações “inaceitaveis”??
Olá Elisabete!
Ótimo tema!
Em breve, escreveremos sobre o mesmo, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Mila!
Bem, são duas questões: como conviver com alguém que não quer conversar e se devemos ou não perdoar uma traição.
Como disse em um comentário acima, as pessoas podem ter os seus motivos para não querer conversar. Alguns são até legítimos (como uma personalidade mais retraída ou reservada). Entretanto, como argumento no texto, não podemos saber o que se passa pela cabeça da outra pessoa. Portanto, quanto mais comunicação melhor o relacionamento.
Com relação à traição, é uma questão muito pessoal. É possível sim perdoar e seguir em frente. Muitas pessoas conseguem fazê-lo, mas há a necessidade de querer continuar junto.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Ana,
Para responder à sua pergunta – que é excelente – teríamos que escrever um novo texto.
Mudar não é difícil, nem impossível, nem nada do tipo. Porém, para que haja mudança, duas questões são necessárias: que seja de dentro para fora e que a pessoa aceite que precisa mudar.
Se a mudança for de fora para dentro e se a pessoa não acha que deve mudar, dificilmente a mudança será realizada.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Felipe,
Parabéns pelo texto
Parabéns pelas respostas.
Atenciosamente,
Beatriz Souza
Olá Beatriz!
Obrigado querida!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Muito bom o texto de Felipe.
Elé é um grande psicólogo,seus
texto tem ajudando muita gente.
Sou um grande admirador de seu trabalho.
Olá Pedro!
Obrigado meu caro!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe!
Primeiramente gostaria de parabenizar os seus artigos! São ótimos!
Segundo… estou em um relacionamento de 3 anos e ao ler este artigo vejo que um dos maiores problemas realmente é a falta de comunicação correta. A minha pergunta é a seguinte: Sou do tipo que gosta de conversar sobre o dia a dia, compartilhar as coisas, idéias, enfim, adoro discutir assuntos diversos e tal, a minha parceira por outro lado, evita qualquer assunto do dia a dia. Por exemplo, nós duas fazemos faculdade (ela ed. física, eu psicologia), adoro expor o que aprendi na aula para ela (até porque gravo mais fácil as coisas), ela por outro lado, não fala nada, não compartilha … Se pergunto como foi o trabalho ela responde: nada de novo, tudo igual e etc etc, para chegar uma semana depois e ela me contar que naquele outro dia aconteceu isso e aquilo. Muitas vezes fico sabendo de coisas da vida dela por intermédio de outra pessoa ou do facebook, o que me deixa muito chateada, apesar de gostar de conversar “com ela”, não forço a barra. Enfim, nos últimos dois anos simplesmente desisti de querer entender isso (até ler o artigo), tanto que fiquei muito mais fechada, reservada e dando os mesmos tipos de resposta que ela dá (o que por sinal deixou ela com raiva :S). Por que isso acontece? Será o tipo dela de não compartilhar? Desculpa pelo enorme texto!
Olá Alessandra!
Obrigado querida!
É curioso quando falamos que um dos principais problemas de relacionamento reside na comunicação e sempre encontramos exemplos (até nossos mesmo) de que a outra pessoa não gosta de se abrir.
Bem, as pessoas são diferentes e o principal deste texto é ainda um pouco além da recomendação de se comunicar. É não interpretar de forma equivocada a comunicação (ou a falta dela). Por exemplo, digamos que você descubra que a sua parceira prefere não contar nada do que foi desagradável para você porque ela entende que com você ela quer ter apenas bons momentos.
Digamos, como hipótese, que seja este o caso. Então, ela teria uma interpretação (te poupar e viver apenas bons momentos contigo), enquanto que você interpretaria o silêncio dela como descaso, falta de confiança, distância, etc. Entende? A questão é que nunca vamos saber a intenção da pessoa a não ser que perguntemos…
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá boa noite…
Gostaria de ouvir algumas opiniões sobre a relação que me encontro neste momento.
Estou a morar com alguém à cerca de 8 meses, existe muito amor de ambas as partes disso não tenho qualquer dúvida. O problema é que ele é divorciado e tem guarda partilhada com a ex mulher, tendo as quartas feiras e de quinze em quinze dias vai buscá-lo às sextas à escola e entregando-o na segunda na escola. Ele tem quase 8 anos, trabalho com crianças e sinceramente estou pasma como se educa os miúdos de hoje em dia. Bem para começar exige dormir com o pai, come só o que gosta, é obrigatório estar às 21h na cama porque fica cheio de sono e de mimo e no dia seguinte às 7h não mais ninguém dorme. Resumindo tentei que ele o trouxesse cá para casa mas as coisas não deram certas para começar se ficar na cama sozinho passa a noite a chamar o pai para lhe ir fazer massagens e o pai acha normal porque se não for à beira dele ele não dorme, resumindo ninguém dorme, ultimamente sempre que está com o filho vai dormir para a casa da mãe, onde quando se come sopa o menino come especial, é uma criança que não sabe ouvir um não sendo contrariado está sempre com as lágrimas nos olhos . Se for às compras ou passear tem que ter o que pede caso contrário faz uma birra envergonhando-nos, imagine-se que para comer uma sopa consegue demorar uma hora. Estamos a ponderar sinceramente acabar com a relação uma vez que estamos juntos mas passamos muitos dias separados porque vai dormir com o filho para a avó. O pai desculpa-se dizendo que o filho está com problemas derivado ao divórcio visto que o miúdo presenciou certas discussões. A verdade é que eu já não tenho gosto algum em estarmos juntos a verdade é que só podemos estar os 3 ao domingo, porque o pai sexta está na cama com o filho às 21h ,sábado 21h e domingo 21h, pergunto nem sequer se pode sair à noite, aconteceu algumas vezes em que deixou o filho na avó a dormir e fomos acordados às 3 da manhã porque ele acorda sente a falta do pai e não dorme mais. Isto porque o filho em casa dorme com a mãe e o pai sempre o habituou a dormir com ele. Ele ainda me culpa de eu não ter paciência nenhuma e a maluca sou eu e eu é que preciso de consultar um médico. Gostava de ter uma opinião se me poderem ajudar obrigada…
Olá Elisabeth!
Esta é uma questão bastante particular que só você poderá dar uma resposta.
Em resumo, entretanto, posso dizer que todo e qualquer relacionamento terá dificuldades. (No seu caso, a relação dele com o filho seria a dificuldade atual). Avaliar se vale a pena tentar superar a dificuldade ou não é uma questão sua.
Atenciosamente,
Felipe de SOuza
Obrigado pela resposta.
O relacionamento não pode acabar por causa da criança, esta deve se adaptar a vida com o pai e sua nova companheira.
Concordo. que a relação não acabe por causa do miúdo mas faço uma pergunta é normal se dormir com um filho com quase 8 anos, eu acho que não, trabalho com crianças e vejo que não o é. O pai desculpa-se se uns dias tem dores de barriga, outros tem sonhos maus e até outros dias fica assustado só porque a avó o levou a um cemitério, para mim tudo serve de desculpa para o pai não o colocar a dormir sozinho, certo é que consegue sempre o que quer, o pai ao lado dele a noite toda.
Olá Elisabete!
Sim, você tem razão quanto ao fato de dormir junto.
Entretanto, temos que ver que os conflitos são oriundos muitas vezes da nossa tentativa de controlar o comportamento alheio.
Sugiro o texto – https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/2013/11/o-que-voce-pode-e-o-que-voce-nao-pode-controlar.html
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Parabéns pelo artigo, achei excelente!! Gosto de ler os comentários dos seguidores e suas respostas. Acho difícil manter uma comunicação verdadeira e leve com meu marido depois anos de traição dele, acredito que não existe perdão para erros constantes, hoje vivemos em conjunto um inferno, pois não confio mais e não há respeito nem mesmo em conversas acabam em discussões, gritos, ofensas e etc. Vivemos um “companheirismo” por causa dos filhos, mas até quando?
Olá Daniela!
Esta é uma boa pergunta para a qual não existe uma única resposta.
Porém, penso que é importante perceber que quando nos tornamos pais, somos pais, mas também somos seres com necessidades individuais.
Atenciosamente,
Felipe de Souza