Sabia que você não precisa “comprar” os seus pensamentos?
Com as práticas regulares de Mindfulness, notamos em nossa própria experiência um efeito curioso: não compramos (todos) os nossos pensamentos. Sabemos que uma mente não atenta, não concentrada tem muitos pensamentos. Mas uma mente atenta e concentrada também. A diferença é que a última não se agarra aos pensamentos (nem tenta afasta-los).
É como estar andando por uma rua cheia de lojas. Você vai andando e vendo as vitrines e tudo o que está ali exposto. Em uma atitude comum, você vai querer comprar certos itens mas não vai querer levar outros. Há o apego e há a aversão.
Uma outra atitude aparece quando estamos em uma viagem. Nunca antes vimos aquelas lojas. E vamos com curiosidade observando cada uma delas e as coisas todas. Talvez até paramos por mais tempo em uma e talvez até compremos certas lembranças (souvenir).
Se mantivermos essa atitude de curiosidade com os nossos próprios pensamentos, veremos que eles passam. Uma hora estamos em uma “loja” e logo em seguida estamos em “outra”. Se continuarmos atentos veremos que gostamos mais de certos itens e repudiamos outros. Alguns levamos para casa e expomos para as visitas. Outros mantemos guardados em compartimentos secretos. Só temos uma visão geral quando vamos mudar e percebemos o acúmulo de peso desnecessário.
Pensar é natural para nós. É quase “instintivo”. O que as práticas de Mindfulness nos proporcionam é uma outra atitude com o nosso próprio processo de pensamento. Não precisamos comprar os nossos pensamentos. Ou seja, não precisamos acreditar neles e manter eles conosco por um longo período de nossas vidas. É como digo: uma ofensa dura poucos segundos. Mas se você quiser, pode durar uma vida inteira.
Muitas pessoas não querem pensar em certas coisas (proibidas, difíceis, dolorosas) ou desejam que o pensamento cesse completamente. A última alternativa é impossível e a primeira acaba provocando o efeito oposto. E é fácil de observar se quisermos. Durante um tempo, procure não pensar no que você fez de errado no verão passado. Mas você tem que fazer com perfeição. Se pensar uma única coisa, ficar se lembrando, estará errando.
(Se você fizer esse exercício, verá que a tentativa de afastar um pensamento o mantém e o esforço de afastar é sofrimento). Em resumo é o famoso “não posso pensar nisso” que gera mais pensamentos sobre ou próximos do “isso”.
Outra tentativa de lidar com os pensamentos é procurar ter só pensamentos positivos. Nada errado de procurar ter bons pensamentos, pensamentos motivadores, etc, mas é comum que apareça um paradoxo. Pensamos em afirmações positivas e notamos o surgimento de pensamentos negativos (mais do que o usual ou imediatamente). Todo o processo pode gerar esforço e tensão também.
Com Mindfulness aprendemos um jeito bem mais simples de lidar com os conteúdos de nossa mente. Não vamos aos extremos: não afastamos com aversão nenhuma forma mental nem procuramos manter aquelas que são agradáveis. Somos convidados a olhar o que surge e deixar que passe. Entre os pensamentos, silêncio.
Pensamentos são só pensamentos. Tão reais como objetos em lojas. Só não precisamos “acreditar” neles, tomar tudo como verdade. Não precisamos “compra-los’ e nos apegar a alguns itens, nem precisamos fugir do passeio.
Seria uma boa dica caso os pensamentos fossem mesmo conteúdos da consciência.
Professor Felipe, meus parabéns, gostei muito da metáfora da “loja dos pensamentos”!
Infelizmente a maioria de nos atualmente esta “comprando demais”… o “ruído” das lojas é tanto que as pessoas deixaram de ter controlo sobre os seus pensamentos e suas vidas! Obrigado pela partilha!
David Santiago
http://Www.facebook.com/peacefulresolutionUK
Não sei se você está se referindo à psicanálise com o conceito de inconsciente, mas uma boa parte do processo de análise consiste em dizer e observar os próprios pensamentos sem julgá-los, mesmo sendo bobo, obsceno, ridículo, triste, etc. Esse processo, em si, já possibilita o afastamento dos pensamentos e uma maior liberdade, independente de o conteúdo de um pensamento ser conscientemente criado ou não.
Felipe, primeiramente parabéns pelo excelente conteúdo. Desculpe estar enviando uma questão diferente do apresentado no texto. Gostaria de uma opinião sua. Sou graduado em Comunicação Social e pós graduado em marketing. Estou iniciando este semestre minha graduação em psicologia. A principio meu principal objetivo é direcionar meus estudo para a área da Psicologia do Consumidor (que acredito ser uma sub-area da Psicologia Social). O que acha desse ramo da psicologia?
Olá Eduardo!
Acho muito interessante!
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Então,tenho pensamentos na quais não fiz,e minha mente acusa que fiz algo,me identifiquei bastante com essa frase “Pensamentos são só pensamentos. Tão reais como objetos em lojas. Só não precisamos “acreditar” neles, tomar tudo como verdade.”
Os pensamentos me fazem imaginar e parecer ser tão reais ao ponto de eu ate acreditar que eu fiz isso,ou que não quero certa coisa,e aparecem de forma involuntária você acaba evitando pensar por medo de ceder a esses pensamentos,ou acha-los que são verdadeiros e que tomem conta de sua personalidade.