Olá amigos!
Uma dúvida comum que tem aparecido em nosso Curso Jung, Estudos Psiquiátricos, é sobre a diferença entre inconsciente e subconsciente. O livro Estudos Psiquiátricos reúne publicações do início da obra de Jung, entre os anos de 1902 e 1906 e por isso é o 1° Volume de suas Obras Completas. Em alguns dos artigos deste livro, encontramos o uso ainda da palavra subconsciente em certos pontos e o uso, também, da palavra inconsciente.
Mas qual é a diferença? Neste texto, portanto, vou explicar para vocês o que é um e o que é outro, com os respectivos termos em alemão (língua original das publicações de Freud e Jung) e o uso que se consagrou e porque é até certo ponto comum ouvirmos falar até os dias de hoje em subconsciente.
Diferença entre Inconsciente e Subconsciente
Se formos parar para pensar nos principais conceitos da psicanálise (de Freud) e da psicologia analítica (de Jung), veremos que o conceito fundamental é o conceito de inconsciente. Embora possam existir definições variadas – ao longo das obras destes autores – é possível começar a entender o conceito de inconsciente através da ideia de algo que não é consciente.
Como dizia Lacan, por ser um conceito negativo, não-consciente (in-consciente) seria até um conceito alvo de confusões. De todo forma, independente da linha teórica, o que basicamente está por trás da ideia de inconsciente é que a consciência não é a totalidade da psique. Em outras palavras, existem “partes” ou “funções” da nossa psique que não são conscientes ou não estão sob o controle da consciência.
As palavras inconsciente e subconsciente querem, justamente, indicar esta relação com a consciência. Inconsciente em alemão é Unbewusste e subconsciente é Unterbewusste. Ou seja, as duas palavras – assim como no português – tem a palavra consciente – Bewusste. E assim como no português, a diferença reside no sufixo. In-consciente é Un-Bewusste e sub-consciente é Unter-Bewusste. Bewusste vem de wissen, verbo que significa saber. Por isso, também é comum notarmos nos textos a referência de que o inconsciente é o desconhecido.
Então, Un, em alemão, é um sufixo de negação. Então teríamos o inconsciente como o que é não-consciente. E Unter, em alemão, significa por baixo. Com isso, temos sub-consciente, em baixo ou por debaixo da consciência.
Nesse sentido, podemos ver que as duas palavras, praticamente, significam a mesma coisa, o que está para além da consciência, seja o que é não consciente, seja o que está por debaixo da consciência. Em princípio, qualquer uma das palavras poderia ter sido escolhida para designar este conceito.
Porém, como os principais autores da psicanálise e da psicologia analítica escolheram o termo inconsciente, este foi o termo que se consagrou para definir o conceito que, diga-se de passagem, é controverso e apresenta uma série de definições possíveis.
Mas, historicamente, no começo do século era comum os autores utilizarem tanto inconsciente como subconsciente, por isso, pode ficar um pouco confuso para quem está começando a estudar.
Outro motivo de confusão é que a literatura mais popular ainda usa o termo subconsciente, embora 100 anos e até mais tenham se passado desde que o termo foi sendo progressivamente substituído por inconsciente. Temos, por exemplo, um livro que foi bestseller, “O Poder do Subsconsciente”, do Dr. Joseph Murphy. Deste modo, embora os principais autores não tenham nunca mais utilizado o termo subconsciente depois de 1906, autores populares, de auto-ajuda continuam a usar o termo que foi abandonado, como ainda dizem que Freud defende a teoria do trauma.
E outro motivo de confusão é que os conceitos de inconsciente, como disse, também variam de autor para autor. Até 1920, Freud fazia uso dos conceitos que ficaram conhecidos como da primeira tópica (primeira teoria a respeito das localizações dentro da psique): consciente, pré-consciente, inconsciente. Após 1920, ele passou a utilizar os conceitos da segunda tópica: Ich, Es, Uberich, em tradução literal, Eu, Isso, Supereu – ou na tradução feita a partir do inglês, Ego, Id e Superego.
Para Jung, era necessário distinguir entre o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo, ou seja, uma parte do inconsciente tinha origem na vida pessoal do sujeito, enquanto outra parta seria coletiva, arquetípica e próxima, enquanto forma simbólica, da experiência da humanidade, independente da cultura.
Conclusão
Durante a faculdade de psicologia, eu aprendi que o termo utilizado não importa tanto como a compreensão do conceito. Evidente que se o autor fala em inconsciente, vamos utilizar o termo inconsciente. Mas temos que nos lembrar de que o termo utilizado é o termo em alemão.
Como disse acima, existem erros de tradução. Se formos chatos com a terminologia, diríamos que não existe algo na teoria de Freud como Id, Ego e Superego. O que ele escreve, em uma tradução correta, é Isso, Eu, Supereu. Porém, como os termos acabaram ficando consagrados, ainda que literalmente equivocados, temos que pular a designação apenas significante, apenas da palavra, e compreender a fundo o termo.
O mesmo acontece com relação ao uso de inconsciente e subconsciente. O termo correto é inconsciente para os autores principais que estudamos dentro da psicanálise e da psicologia analítica. Porém, se quisermos estudar outros autores, como o Murphy, (do livro O Poder do Subconsciente), já vamos imaginar que o que ele está dizendo a respeito da psique tem relação com este campo da psicologia. Pode não ser idêntico, ou seja, pode não ser um livro de psicanálise, mas de uma forma ou de outra ele acaba sendo herdeiro desta tradição que defende o ponto de vista segundo o qual a psique não é totalmente do campo da consciência.
Para ele, vai haver um sub-consciente, um por debaixo da consciência, que influencia o comportamento assim como para a psicanálise vai haver um não-consciente, uma parte da psique que está para além da consciência, com sua dinâmica própria.
Enfim, apesar do termo ser idêntico no sentido literal, temos que ficar atentos para os conceitos que estão sendo trabalhados. No livro do Murphy, por exemplo, existe a ideia de que podemos controlar ou influenciar diretamente no subconsciente, ideia esta que não será compartilhada pelos psicanalistas.
Com isso, quero concluir, dizendo que é importante sabermos da origem dos termos, da etimologia das palavras, da língua em que foram pensados. Porém, mais importante ainda é entender os conceitos que estão por detrás dos termos. Sem o conceito, o termo é apenas uma ideia vazia.
Boa Tarde, Dr. Felipe:
Passei na 1ª fase e na prova discursiva para o Cargo de Juiz Federal. Agora, tenho pela frente a prova oral (marcada para a próxima semana). Serei indagado pelos membros da banca examinadora do concurso.
Quais são as dicas que você, como Psicólogo, pode dar para que o examinando se sinta seguro, confiante…e não perca o raciocínio durante o certame oral?
Att,
Bernardo M.J. (quase Juiz Federal)
Olá Felipe. Muito bom o texto de hoje assim como outros que tenho acompanhado por este canal. Sou estudante da UFRJ e há algum tempo atrás, ainda cambaleando pelas disciplinas, te questionei sobre como me guiar pelas abordagens que mais me interessam. Hoje, já mais amadurecida, gostaria que você me respondesse baseado na sua experiência, se é viável me especializar para trabalhar apenas com avaliação psicológica e psicodiagnóstico. A psicometria me interessou bastante e também gosto de psicanálise,mas não para clinicar e sim para conhecer melhor o sujeito. Um abraço Rosângela Fonseca
Olá Rosângela,
Bem, apenas em avaliação psicológica penso que é até possível, mas se você se voltar mais para avaliação para empresas.
No consultório é mais comum que façamos o tratamento completo, não é?
Mas, pelo que conheço é uma área bastante específica. Talvez você possa unir, também, com a área acadêmica, de pesquisas.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Oi Dr. Felipe…..to me sentindo muito insegura e gostaria muito que me indicasse o que devo fazer, não consigo me concentrar nas leituras. tenho fibromialgia e a depressão me fadiga muito….ajuda-me……bj.
Olá Rejane,
Neste caso, é necessário que você faça uma avaliação com seu médico e também com um profissional da psicologia, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Bernardo!
Me desculpe pela demora em responder.
Bem, quando somos avaliados podemos ficar um pouco nervosos ou ansiosos com o resultado. Algumas pessoas conseguem superar a ansiedade, enquanto outras podem ter muita dificuldade para se acalmar.
Eu sugiro um livro muito bom que pode ser utilizado. Chama-se Vencendo a Ansiedade e a Preocupação, do criador da Psicologia Cognitiva, Aaron Beck.
Ele dá diversas dicas que podem ser utilizadas por todos nós – não só por quem tem muito dificuldade, fobia ou ansiedade social – para o que você precisa, ok?
Espero que o tempo de resposta não tenha vindo tarde demais.
Boa sorte!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Acredito que o Termo Subconsciente possa ser usada de forma diferente do termo inconsciente. Vejamos um exemplo:
Ao dizer eu sou motorista seria diferente de dizer eu estou dirigindo, porém
os dois casos continuam sendo a pessoa motorista da tua vida.
Seria o mesmo caso, dizer que estas informações estão no inconsciente, as informações do inconsciente estão agindo sobre a pessoa tornando por tanto subconsciente.
Olá Val,
Bem, o que é importante notar é o conceito por de trás da palavra, ok?
Cada autor terá a sua terminologia e, na obra dos autores mais importantes da psicologia, como Freud, Jung e outros veremos que os termos também são modificados com o tempo. Portanto, temos que nos atentar para o uso que eles fazem e a que conceito se referem.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Prezado Felipe,
Sou neurótico e em razão disso sempre procuro conhecimento e autoconhecimento a fim de aliviar minhas dores. Confesso que leio muito pouco sobre psicologia e fiquei em dúvida quando li seu artigo, pois pelo que entendi, subconsciente e inconsciente são a mesma coisa.
Eu sempre entendi que a mente tem três níveis, o consciente (que ora uso para escrever), o subconsciente (que é semelhante a um armazém de informações, fáceis de recuperar quando exigidas pelo consciente – ex.: operações matemáticas), e o inconsciente (onde estão gravadas as informações e sensações que não são facilmente acessíveis, principalmente porque estão ligadas a uma fase da vida em que ainda não raciocinamos ou raciocinamos de modo falho).
O psicólogo Wilfred Bion escreveu sobre o que ele chama de “terror sem nome” que são sensações gravadas no inconsciente. O subconsciente seria uma camada intermediária, ligada à função memória. Enquanto a informação for útil, ela fica disponível no subconsciente e pode ser chamada pelo consciente sempre que necessário, caso contrário ela afunda no inconsciente. As coisas que estudei no segundo grau, relativas à biologia e química orgânica, eu não consigo recuperar conscientemente, pois são informações que afundaram.
Talvez a mente possa ser vista como em três camadas funcionais: a função raciocínio (consciente), a função memória (sub e inconsciente) e a função gerencial (que mantém o corpo funcionando, independente das funções anteriores). Assim talvez seja mais fácil estudar a função memória e suas subfunções, e os efeitos, benéficos e maléficos, na vida cotidiana.
Olá Said,
Como digo no texto, é uma questão de compreender o termo em cada autor. Freud e Jung, por exemplo, usam apenas o termo inconsciente, embora também façam distinções sobre “partes” do inconsciente. Basta pensarmos no Es, Ich, Uberich (Isso ou Id, Eu ou Ego, Supereu ou Superego) de Freud e os conceitos de inconsciente individual e coletivo de Jung.
Bion eu não conheço para afirmar alguma coisa.
Portanto, é sempre importante conhecer os termos utilizados por cada autor. Para os principais, o termo subconsciente foi abandonado depois de certo tempo.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá, prof. Felipe de Souza,
Li seu texto “Diferença entre Inconsciente e Subconsciente”, e achei muito bom.
Só gostaria de observar que, no terceiro parágrafo, quando o sr explica a origem dos dois termos, há um engano quando o sr. fala do sufixo “in”, que na realidade é prefixo, e não sufixo.
Atenciosamente,
Zeli R. Souza.
Obrigado Zeli!
Oi, Felipe. Muito bom seu site.
Fiz uma boa pesquisa, usando o net, livros e ajuda de outros profissionais e posso te garantir que Said está certo.
Mas, concordo com seu argumento. Confúcio diz que “a harmonia do Universo depende da retificação dos nomes”, e, talvez, essa explicação “esotérica” do subconsciente seja mais uma classificação diferente do consciente, só que não acadêmica.
É legal simplificar as teorias pra que pessoas leigas como eu e Said, que estudamos e gostamos de entender o que se passa com a gente, possam entender e participar do debate.
Abraços e continue assim.
Boa noite Felipe!
Gosto muito de ler seu site
Estou escrevendo relatórios para Atividades Complementares para a faculdade (Psicologia), e em algumas pesquisas sobre análise do filme “Divertida Mente” me deparei com psicanalistas utilizando o termo subconsciente, então resolvi pesquisar a respeito.
Apenas uma observação: Parabéns pela gentileza e atenção ao responder cada comentário que é feito em suas postagens. Não é todo autor que possui essa delicadeza com o público! :)
Att
Lais Renata
Obrigado Lais! :)
boa tarde,
Nos primeiros meses da faculdade foi passado para os alunos que o termo subconsciente é ultrapassado e de que essa palavra vamos dizer: “não se usa mas” ou (o subconsciente não existe e que foi uma palavra inventada apenas). E que de fato sim o inconsciente e o consciente é o correto.
O subconsciente enfim, é de fato uma palavra que não tem necessidade de ser estudada ou trabalhada? Ela realmente existe? Ela foi em termos “inventada”?
Mateus,
Historicamente foi como dissemos no texto. As duas palavras eram usadas, no começo da psicanálise. Mas optou-se pelo uso exclusivo do termo inconsciente. Outras linhas e outros autores ainda usam subconsciente.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Bacana, na hipnoterapia nós chamamos a “área” mais poderosa da mente de subconsciente. Cada um trabalha com uma terminologia que no final das contas se refere a mesma área da mente.
Verdade Valdeir!
Gostei muito da tua explicação. Foi que mais esclareceu. Quando fiz o curso de parapsicologia essa era uma questão que sempre me deixava confusa. Agora estou escrevendo um artigo e realmente agradeço pela clareza que do texto.