Pode parecer engraçado que no tratamento psicológico de crianças utilizemos a ludoterapia, a terapia através do jogo e da brincadeira. Mas existe algo muito sério no jogo:
Você se lembra de quando era criança e jogava um determinado jogo ou um esporte, como volei ou futebol? Ganhar ou perder era quase uma questão de vida e morte.
Quando jogamos, perdemo-nos totalmente no jogo, como diz Hans Gadamer, em seu livro Truth and Metod.
Quando jogo, perco-me tanto no jogo que esqueço, deixo de lado, quem eu sou. Para haver jogo, há de se ter seriedade. E para haver seriedade é necessário que eu esqueça a minha vida fora do jogo.
Em inglês, a palavra play possui 3 significados importantes para a nossa análise. Podemos dizer:
I play guitar. Eu toco violão.
I play a game. Eu jogo um jogo.
He plays Romeo in the play Romeo and Juliet. Ele atua como Romeu na peça Romeu e Julieta.
Portanto, usa-se a mesma palavra para dizer jogar, atuar e tocar (uma música, com algum instrumento). Vamos nos ater ao significado de atuação. Um bom ator é aquele que esquece de si mesmo enquanto atua. Ele representa o seu papel independente de quem é na vida real. Entretanto, na vida real, podemos dizer que também atuamos em papéis. Posso ser pai, filho, empresário, jogador de futebol de fim de semana etc.
Lembre-se que personalidade vem do grego persona, a máscara que era usada nos teatros para representar um determinado personagem (Personagem tem a mesma origem – persona).
Recomendo a todos que vejam o filme Melinda e Melinda, de Woody Allen, no qual vemos que uma história pode ser cômica ou trágica, dependendo do modo como a contamos, do modo como a vivenciamos.
Recebi de um de meus leitores uma crítica dizendo que a vida não é um desenho animado. O argumento era: a vida é séria. A vida é séria, assim como um jogo e como atuar em uma peça. O trágico ou o cômico fica por conta de quem dirige a peça.
Para saber mais: Truth and Method. Autor: Hans Gadamer. Editora Continuum.
FELIPE DE SOUZA