O que você avalia como prazeroso e como desprazeroso, o que você gosta e o que você não gosta de fazer vai, lentamente e consistentemente, moldando a sua vida.
Olá amigos!
Existe uma parte da nossa existência que é pouco considerada mas é extremamente relevante para definir os caminhos que vamos seguindo ao longo de nossas vidas. A psicologia lhe deu diversos nomes: função sentimento, interpretações, valorizações, sensações, associações. Como neste texto o meu objetivo não é entrar nas teorias mas compartilhar tais ideias de uma forma mais prática, vamos dizer que o modo como nós estabelecemos o que é prazeroso e o que é desprazeroso, o que é agradável e o que é desagradável é fundamental para as escolhas que fazemos.
Como as escolhas que fazemos vão, lentamente mas certamente, moldando a nossa vida, não é difícil entender por lógica que o que associamos na nossa cabeça como sendo dor ou prazer vai acabar criando – mais cedo ou mais tarde – a vida que vivemos.
Um experimento de força de vontade
Creio que todos imediatamente entendem quando dizemos a respeito de força de vontade. Por exemplo, quando falamos que alguém é perseverante, que vai à academia todos os dias ou que trabalha sem reclamar durante anos para comprar a sua casa. Na psicologia, nós temos um experimento que mostra de forma simples o que é força de vontade.
Na década de 1960, o psicólogo Walter Mischel, da Universidade de Standford, avaliou o comportamento de crianças de 4 anos de idade experimentalmente.
No laboratório, havia uma mesa com dois marshmallows (um doce apreciado pelas crianças). O pesquisador dizia para a criança o seguinte: “Você pode comer um mashmallow agora ou, se esperar alguns minutos, poderá comer os dois” e depois de avisar, saia da sala e só voltava depois de 15 minutos.
Portanto, as crianças de 4 anos tinham uma escolha:
1) Satisfazer a sua vontade imediatamente, mas ganhar apenas um doce;
2) Segurar a sua vontade e, então, poder comer, em vez de um, dois doces.
As crianças ainda bastante pequenas estavam com uma grande tentação à sua frente. Ser uma criança e esperar 15 minutos é uma eternidade. Mas cerca de 30% delas conseguiram segurar e controlar os seus impulsos.
O que é interessante é que depois de muitos anos, os pesquisadores conseguiram reencontrar as crianças que participaram do teste. E comprovou-se que aqueles 30% por cento tinham notas mais altas no Ensino Médio, conseguiam notas mais altas no vestibular, tinham mais amigos e usavam menos drogas do que aqueles que, aos 4 anos, tinham cedido imediatamente à tentação.
Mas o que isto tudo tem a ver com o assunto do nosso texto de hoje sobre prazer e dor?
Como o prazer e a dor determinam sua vida
Bem, de uma maneira simples podemos ver como o que determinou a escolha daquelas crianças foi a associação que fizeram entre o prazer e a dor. Algumas escolheram o prazer de comer um doce e perder o outro. Outras acharam tolerável (menos doloroso) esperar e comer dois doces ao invés de um.
Este é apenas um exemplo de como é evidente que o modo como nós associamos prazer e dor vai construindo a nossa existência nesse mundo.
Podemos achar desprazeroso fazer uma conta de matemática. Aos cinco ou seis anos isto seria irrelevante. Mas no longo prazo, o desprazer associado à matemática determinará não só a nossa escolha de uma profissão e de uma faculdade como poderá nos colocar em apuros financeiros (por exemplo, ao não fazer as contas dos juros de uma prestação de um bem de consumo).
Estes dias um querido leitor nos contou a sua história em um comentário. Disse que desfez diversos relacionamentos amorosos porque a sua prioridade é financeira. Ou seja, ele associa o prazer ao ver o seu volume de dinheiro aumentando no banco do que ter gastos com uma outra pessoa e constituir uma família.
Um conhecido deixou de assumir um cargo de liderança em uma grande empresa porque não gostava de falar em público. Um outro conhecido deixou uma carreira na qual tinha feito faculdade porque não podia conversar direito com o paciente (odontologia).
Até os gostos musicais podem ir tecendo o que muitos chamam de destino. Se você gosta de música clássica vai a um concerto. Se gosta de rock vai a um festival. Se gosta de música eletrônica vai a uma rave.
O que associamos com o prazer e com o desprazer vai ajudando a criar ou a afastar certas pessoas. Algumas consideramos desagradáveis (por isto ou por aquilo), enquanto outras se tornam grandes amigos e amigas.
Em relacionamentos mais íntimos é curioso como a natureza pode enganar. Sabe-se que as chamadas substâncias do amor tem uma duração de 1 a 2 anos. É um período em que o casal está incrivelmente apaixonado. Depois dessa fase inicial, tais emoções diminuem e, dependendo de outras circunstâncias, o relacionamento acaba. Ou seja, o que podemos sentir no início é uma grande sensação de bem estar e de vontade de estar perto. E esta mesma vontade pode esvanecer com o tempo e o prazer se transformar em desprazer da presença.
Conclusão
Através destes singelos exemplos pessoais podemos ver como o que definimos e sentimos como sendo bom ou ruim, o melhor ou o pior, o mais divertido ou o mais tedioso, o mais interessante ou o mais desinteressante, vai (devagar e sempre) construindo também a nossa identidade.
Você está lendo este texto provavelmente porque se interessa por psicologia e por assuntos relacionados. Mas você poderia não estar lendo este texto, se não achasse isso interessante, ou seja, se não sentisse prazer em aprender mais sobre a psique e os comportamentos das pessoas (acredite, muitas pessoas não gostam de saber de tais assuntos e farão de tudo para se manterem inconscientes de si mesmas).
Assim, se é evidente a tese defendida por mim neste texto (de que o que você considera prazer ou desprazer vai criando a vida que você vive), devemos fazer uma avaliação do que consideramos prazeroso ou desprazeroso.
Afinal, o fato em si de achar X prazeroso não diz muita coisa. Por exemplo, eu posso adorar bolo de cenoura com cobertura de chocolate (hummm) mas isto não terá muito impacto em minha vida se eu comer uma vez por mês. Agora, se o prazer de comer doces e chocolates for excessivo, isto poderá me fazer engordar e prejudicar a minha saúde.
De modo que temos que avaliar o que é agradável e o que não, mas também temos que avaliar o impacto que tais pequenas avaliações tem em nossa vida, no curto, no médio e no longo prazo.
Igual ao experimento com os dois doces oferecidos para as crianças na Universidade de Standford. Às vezes é mais vantajoso esperar e ter um pouquinho de desprazer do que ser impulsivo. Como fazer um exercício físico que é cansativo – como o Pilates – mas que é útil no longo prazo. Ou como estudar 1 hora por dia durante 10.000 dias para se tornar especialista em algo…
Deixe sua opinião abaixo nos comentários!
Olá, Dr.Felipe!
Em 2009, me formei em Filosofia. Inicialmente, estava muito motivado. Acreditava que tinha escolhido a melhor de todas as profissões.
Contudo, a partir de 2012 comecei a ficar totalmente desmotivado e, por incrível que pareça, passei a odiar essa área. As razões para isso, acredito, foram inúmeras: alguns colegas de profissão (que mesmo formados parecem semi-analfabetos); as críticas por parte da família; o pouco valor dado pelas pessoas à área; a falta de cientificidade; a “politicagem” que reina nessa área; etc.
Como posso voltar a sentir motivação e entusiasmo pela área?
Agradeço,
Roger
Olá Roger,
Penso que é importante separar as questões.
Quando escolhemos uma faculdade, escolhemos basicamente duas vertentes:
– uma área de estudo;
– uma área de atuação profissional.
Por sua vez, a representação social de um profissional nem sempre é positiva. E nem sempre a remuneração corresponde com as nossas expectativas. Temos que ter cuidado para não vincular o que os outros acham da nossa profissão com o que nós pensamos e sentimos dela.
Por exemplo, quem é da área de humanas e ganha muito dinheiro não é criticado (tanto)… porque será?
Assim, tente pensar o que é importante para você: o estudo, a atuação, o dinheiro, a valorização social, o status…
Lembrando que é sempre possível ter uma profissão e um hobby, também é possível mudar de rumos (caso seja necessária uma mudança radical).
Atenciosamente,
Felipe de Souza
sou formado em pedagogia e fiz vários cursos pós em gestão educacional e outros n área de saúde -iridologia,terapia ortomolecular,medicina chinesa,neuro-linguística,psicanalise lacaniana sem autorização e agora quero fazer psicanálise analítica junguiana ms mas trabalhar como terapeuta os seus cursos valem para isso.
Fraternalmente
antonio
Olá Antonio, não.
Para trabalhar com psicologia analítica de Jung você tem que fazer a graduação em psicologia, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe,
Estou muito contente com suas publicações. Há uns dois meses venho acompanhando as novas postagens, além de ler os tópicos do seu curso. Tenho me interessado no assunto e devo muito a você por isso. Em breve termino o curso de RH e tenho planos de fazer o de Psicologia. Obrigado.
Olá Edcleyton!
Muito obrigado!
Fico muito feliz com a sua avaliação!
Será sempre um prazer contar com sua participação por aqui!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Muito interessante
Eu sinto muito prazer em aprender sobre Psicologia e Filosofia. Também tenho interesse em aprender Matemática, mas tenho dificuldade nessa área de exatas, apesar de achar a Física maravilhosa. Gostaria de achar um jeito de estudar essas matérias mas não consigo sozinha. Você conhece algum site que ensine desde o elementar e vá aos poucos dificultando para alguém que tenha dificuldade nessa área de exatas?
Olá Maria!
O melhor método que vi até hoje para aprendermos matemática é o Kumon. Entretanto, creio que não existe ainda online.
Atenciosamente,
Felipe de Souza