Muitas pessoas me perguntam sobre a faculdade de psicologia. Muitas pessoas querem fazer, mas tem dúvidas. Uma das dúvidas comuns é a seguinte: “será que devo fazer a faculdade de psicologia, consigo resolver os problemas dos outros mas não os meus”.
Olá amigos!
Diariamente recebo dezenas de dúvidas sobre fazer ou não fazer a faculdade de psicologia. Já escrevi bastante aqui no site sobre o tema e uma dúvida que sempre aparece é a seguinte: “Eu tenho vontade de fazer a faculdade de psicologia, consigo ajudar e dar conselhos para meus amigos, mas não consigo ver ou resolver meus próprios problemas”. Esta é uma questão interessante para pensarmos a escolha da profissão e da faculdade de psicologia.
Em primeiro lugar, temos que nos lembrar que vamos fazer uma faculdade para aprender. Para muitas pessoas, isto não está evidente. A profissão, depois da faculdade, obscurece o fato de que as instituições de ensino superior foram criadas para ensinar. Quando nós falamos em vida acadêmica (não confundir com academia de ginástica), estamos nos referindo a um lugar, como na Grécia Antiga, ao qual nos dirigimos para aprender. A separação entre vida teórica (theorétika) e vida prática também vem dos gregos.
Assim, antes da atuação prática na profissão, é imprescindível aprender as teorias, as abordagens, as concepções dos grandes autores. E uma das ideias que está frequentemente presente na faculdade de psicologia é que o profissional também deve fazer terapia.
Para quem não sabe, esta ideia foi elaborada pelo psicólogo suíço Carl Gustav Jung, enquanto trabalhava ao lado de Freud, ao perceber que muitos candidatos a analista poderiam ter sérios transtornos mentais. Assim, ao tentar atender um paciente, ele poderia ter um surto psicótico. Outra possibilidade negativa, mais comum, é que o psicólogo clínico iniciante confunda as suas questões pessoais com as questões dos seus pacientes – o que, é claro, será prejudicial à condução do tratamento.
Deste modo, dentro da psicanálise inicialmente, e depois dentro da psicologia clínica de um modo geral, há a recomendação de que todo psicólogo ou psicóloga faça terapia, faça análise, que enfrente o desafio de se conhecer para que possa realizar o seu trabalho com competência e sem interferências de seus próprios complexos.
Resolvo o problema dos outros mas não os meus
Esta questão, que muitas pessoas desejosas de fazer psicologia me fazem, é semelhante ao ditado popular: “pimenta nos olhos dos outros é refresco”. Pode parecer que não há nenhuma relação. Mas é fácil ver o problema dos outros e dar uma solução, porque não estamos na pele do outro. Um dos itens que foram levantados para psicólogos não tão bons (no texto 10 sinais de que o profissional da psicologia não é bom) é a minimização do problema do paciente.
Afinal, qualquer problema alheio parece menor do que é para a pessoa que está sofrendo. No consultório, vemos muitas dificuldades emocionais que são causadas por fatores que praticamente qualquer pessoa consideraria irrelevante. Mas para a pessoa que está sofrendo aquele é o “meu problema”.
Desta forma, não é tão simples quanto poderia parecer a princípio. Eu tenho sérias dúvidas de que conselhos benéficos possam ajudar. Na maioria das vezes acabam servindo de consolo, porém não solucionam a questão que deve ser tratada com profundidade.
Podemos ver isso, se tentarmos aplicar os conselhos à nossa própria vida. Surgirá então esse problema: “consigo resolver o problema dos outros mas não os meus”. Ora, talvez, muito provavelmente, nem o problema dos outros é resolvido de forma definitiva. E, depois, ao tentar aplicar o bom conselho à própria vida, a pessoa verá que o buraco é mais embaixo, ou seja, há uma necessidade de considerar o problema – emocional ou mental – com muito mais cuidado, calma, atenção e profundidade.
Aprende-se com isso, durante a faculdade de psicologia, que um bom conselho é apenas isso. Um bom conselho. Aprende-se também que o sofrimento dos outros não é o nosso sofrimento e, portanto, não deve ser diminuído. Como diz Caetano, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é” e, neste sentido, a dor é individual e só quem está vivendo sabe o que está vivendo.
Na faculdade de psicologia, então, aprendemos que os próprios problemas devem ser tratados com terapia. A terapia vai ajudar a entender o que está acontecendo, os pontos fracos, as dificuldades, as causas e as crenças negativas que estão em sua base e vai provocar a mudança do comportamento com o tempo.
Por isso, temos que fazer a grande separação entre:
1) fazer a faculdade de psicologia para aprender psicologia
2) fazer a faculdade de psicologia para “se conhecer”.
O segundo motivo é inválido. Mesmo que você conheça todos os manuais de psicologia, todos os livros e todos os tratados, a sua história não estará lá. Quer dizer, você pode saber, você pode ter o conhecimento teórico, o conhecimento de técnicas, mas você não ganhará muito insight sobre si mesmo. Para o segundo motivo – para se conhecer – recomenda-se um caminho mais rápido: a terapia.
Para quem faz a faculdade de psicologia, o segundo caminho é sempre apontado como uma solução. Uma solução para resolver os próprios problemas e também como um caminho para a qualificação profissional.
Como trabalhar com psicologia tem a sua carga afetiva, o profissional deve cuidar da sua saúde. E, por este motivo, vemos sempre os bons profissionais fazendo terapia ou supervisão.
Conclusão
As pessoas confundem muito o conhecimento teórico com a individualidade. Alguém pode ter todo o conhecimento da psicologia, mas isto não significa que será equilibrado emocionalmente ou que não terá problemas em seu trabalho, estudos ou vida social. Também não se deve confundir o fato de fazer terapia com ser um doente mental. A terapia é indicada para todas as pessoas, de todas as idades e pode ter centenas de motivos ou indicações.
Veja aqui – 9 razões para fazer terapia
Para concluir, gostaria de deixar bem clara a seguinte ideia: se você quer fazer a faculdade de psicologia para se conhecer, faça terapia primeiro. Pode ser que você faça psicologia logo mais, mas para se conhecer, a terapia é mais indicada do que a faculdade.
Se você quer fazer a faculdade de psicologia porque acha que ajuda os seus amigos com seus conselhos, mas não consegue ajudar a si mesma, faça terapia também, tanto para saber se a psicologia será a melhor escolha para ti, quanto para conseguir resolver as pendências que ainda não conseguiu resolver.
Gostaria que comentasse um pouco sobre a “história da Psicologia”. estive lendo algumas obras e vi que grandes nomes como Watson(cientista, Psicologo) acha que a historia de psicologia não é assim de grande interesse de ser aprendida para futuros, psicologos. Obrigado.
Professor,
O importante não é fazer uma faculdade como o senhor explana, e sim, obter o conhecimento. Se se eu tivesse de fazer uma nova faculdade faria sociologia.
Obrigado
Sérgio Gaiafi
Recomendo o documentário da Sabina Spierlrein
Tema nota 10.
Felipe, eu tive a oportunidade de fazer terapia e desde então indico para todos. Como é bom você aprender a enxergar a vida por outros ângulos. Isso ajuda no relacionamento pessoal, no trabalho, na vida social enfim, você aprende a lidar com as emoções. Sou fã desse processo que chamo de “como aprender a conhecer “você mesmo”. Portanto, o seu parágrafo explicação está perfeito. “Mesmo que você conheça todos os manuais de psicologia, todos os livros e todos os tratados, a sua história não estará lá. Quer dizer, você pode saber, você pode ter o conhecimento teórico, o conhecimento de técnicas, mas você não ganhará muito insight sobre si mesmo. Para o segundo motivo – para se conhecer – recomenda-se um caminho mais rápido: a terapia.”
Oi, eu gostaria de tira uma duvida, bom, as alguns pessoas que eu conheço falam que eu não poderia fazer por causa do meu jeito de ser e também que eu ficaria com depressão, porque tomaria as dores dos meu pacientes (confusa, meio infantil entre outras coisas), mas eu dicondo totalmente, pois elas pensam que a pessoa que quer fazer psicologia tem que ser pessoas serias e frias eu relação ao sentimento dos outros (visão totalmente errada na minha opinião), pois acho que na faculdades psicologia ensinam como temos que nos comportar, entre outras coisas.
Gostaria de saber qual dua opinião, e se para fazer psicologia tem quer ter indo ao psicologo antes, e se tem que ter taleto?
Muito obrigada pela atenção
Olá Mirian,
Teremos em breve um Curso Completo sobre a História da Psicologia, ok?
É provável que Watson tenha dito isto pois, como estava querendo criar a sua própria linha de pesquisa, queria destacá-la das demais. Ou seja, como se a dele – o começo da psicologia comportamental – fosse a certa e a correta e as outras não.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Sérgio,
Sim. Infelizmente no Brasil e em Portugal, o ensino nunca foi um valor em si mesmo. Deste modo, as pessoas estudam com um outro fim (como ganhar dinheiro, ter status, ser reconhecido, etc).
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Raquel!
Obrigado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Juliana,
Veja o nosso texto – Perfil dos estudantes e profissionais da psicologia
Atenciosamente,
Felipe de Souza
como faço para resolver a procrastinação que eu sofro .
Olá Andrea!
Veja aqui:
https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/2014/09/o-que-e-procrastinacao-4-dicas-para-acabar-com-ela.html