Olá amigos!
Continuando a nossa série de textos sobre Inteligência Emocional, hoje vamos falar sobre o aspecto desta inteligência voltada para fora, para a compreensão, reconhecimento e ligação com os outros, a chamada inteligência interpessoal.
No livro de Daniel Goleman, Inteligência Emocional, há um exemplo muito claro da inteligência emocional interpessoal. O autor conta a história de um motorista de ônibus em uma grande cidade, se não me engano em Nova Iorque, que cumprimentava a todos com alegria e contentamento, frequentemente chamava os passageiros pelo nome e, por sua vez, todos os que faziam aquele trecho diariamente o conheciam, respeitavam e gostavam dele. Afinal, ele era uma alegria inusitada em uma cidade quase sempre inóspita.
Neste texto, então, vou dar dicas para desenvolver, para aprimorar a relação com os demais, também chamada de empatia, bem como a capacidade de ver, compreender e lidar com a outra pessoa como ela é (e não como queremos que ela seja).
Antes de começarmos, gostaria de citar mais um exemplo. No livro Memórias, Sonhos e Reflexões, Jung relata que fora convidado para um jantar com pessoas desconhecidas. No meio do jantar, em que conversavam sobre psicologia criminal, ele começou a inventar um exemplo para ilustrar a sua teoria, e as pessoas ao redor começaram a ficar em silêncio e sem graça. Depois que o jantar terminou ele ficou sabendo que o exemplo que ele dera era exatamente igual à vida de um dos presentes, em todos os mínimos detalhes. Ele, evidentemente, não conhecia a história da outra pessoa, pois não seria indiscreto para expor detalhes da vida íntima de alguém em público. O que aconteceu, neste caso, é que ele percebeu esta história intuitivamente.
No livro ele atribui esta intuição a uma espécie de dom hereditário, pois ele reconhece que sua mãe também tinha esta capacidade. O que o exemplo demonstra, muito além de um caso de coincidência ou curiosidade, é que muitas pessoas tem tanta capacidade de reconhecer o outro que isto é natural, parece um dom, um presente, uma aptidão desde sempre ali.
No texto – Quais as características de um bom profissional em psicologia – eu digo que a intuição, para mim, é uma destas características. Experiências como as de Jung são frequentes no consultório. Assim, é muito comum eu saber o conteúdo de uma sessão antes de ela acontecer ou saber em detalhes o que está por vir nas próximas sessões, ou seja, o que a pessoa tem inconsciente e ainda não quer tornar consciente, mas que será inevitavelmente consciente a seguir.
Mas a questão que fica é: a capacidade de ver o outro, como um raio X, por trás do que o outro mesmo sabe de si, é inato? Ou seja, é algo que nasce com cada um ou é um comportamento que pode ser aperfeiçoado.
Sem querer ser ambíguo, mas já sendo, eu diria que os dois: é algo que para muitas pessoas, como para mim e para Jung, está presente desde sempre mas também é algo que pode ser treinado.
Treinando a consciência para ver os outros
Um erro muito comum que deve ser evitado, na inteligência emocional interpessoal, é projetar no outro os conteúdos que você tem. Por isso, começamos (no texto anterior) falando sobre a importância do conhecimento de si mesmo.
Então vamos começar a treinar:
– Quais emoções as outras pessoas ao seu redor estão tendo?
– Que valores estão por trás das atitudes dos outros? Quer dizer, que motivo, razão, crença ou atitude está guiando o seu comportamento?
Imagine um pai muito muito muito rico que nega ajuda financeira para o seu filho. Poderíamos pensar que ele é avarento, mas se formos avaliar, com calma, os seus valores, veremos que ele deixa de ajudar o filho (já mais velho) pois pensa que deste modo ele poderá começar a buscar o seu próprio caminho. Ele tem um valor semelhante ao ditado: “Não dar o peixe, mas ensinar a pescar”.
Este exemplo é bom porque podemos ver o motivo que está por trás da ação. Em milhares de situações, as pessoas brigam pelo que as pessoas fazem, e não pela sua intenção, pois a intenção, em boa parte das vezes, é positiva, tem um fim positivo, mas o outro simplesmente não vê. Ou seja, o filho poderia brigar muito com o pai, pela falta de ajuda, pois ele não está vendo a intenção positiva do pai, que é lhe dar independência e autonomia.
– Olhando as pessoas ao redor, pense: quais são as suas habilidades? Do que elas estão precisando no momento? Você consegue perceber como cada pessoa tem um jeito de se comunicar?
Bem, além da capacidade intuitiva, de perceber os outros até antes dos outros dizerem, uma forma muito simples e óbvia de conhecer e reconhecer como as outras pessoas são é perguntando para elas. Quando demonstramos um real interesse no outro (outra característica de uma inteligência emocional interpessoal evoluída), o outro vai sentir isso e vai gostar de falar sobre si mesmo.
A maioria das pessoas gosta de se expressar, de dizer o que estão sentindo e pensando, os fatos que estão acontecendo em sua vida e o porquê de estarem acontecendo. Quando estamos realmente abertos para o outro, podemos começar a desenvolver a nossa inteligência emocional, e, ao mesmo tempo, estaremos criando relações mais próximas.
E esta é uma dica fácil e simples de como estabelecer relações interpessoais que sejam verdadeiras, sinceras e positivas: – demonstre real interesse na outra pessoa e deixe o seu eu de fora. Muitas pessoas pensam que para serem aceitas pelo outro, tem que mudar, tem que mostrar isso ou aquilo, mas não é por ai. A outra pessoa, em certo sentido, está interessada nela mesma e se você também se interessa por ela, já criou uma ponte para se aproximar e conhecer como a outra pessoa é e quem a outra pessoa é .
Com o processo de treinar a nossa inteligência emocional voltada para fora, veremos como a individualidade é fantástica, como cada pessoa é única e irrepetível, como as diferenças são imensas e como passar a conhecer as pessoas que estão redor de nós é uma viagem incrível e sem fim.
Como última questão, gostaria de deixar a seguinte pergunta: como as outras pessoas são, independentemente de ti?
Por exemplo, como é o seu pai, sem ser o seu pai? Como é a sua mãe, sem ser a sua mãe? Como é a pessoa com quem você se relaciona – ou se relacionou – para além da relação que vocês tem ou tiveram?
Apesar da minha idade (83), ainda me interesso em aprender e hoje lendo sobre se eu conheço a mim mesma, ja vou aplicar mudando meu jeito de ser com uma pessoa que me trata indiferente.Depois eu conto. obrigada pelas belas liçoes.Diva
Domingão, lendo esse texto interessante…. eu tenho esse livro Inteligência Emocional, acabei de pegá-lo e estou com ele em mãos, hora de reler. Março de 2007 foi quando o comprei, está escrito na primeira página. Uau, quase sete anos depois, leio um texto que remete a ele. Foi o meu primeiro livro voltado para o assunto, foi quando me interessei nessa busca por me autoconhecer. E quanta mudança de lá pra cá… pra melhor, tá? Quanto ao texto, é surpreendente como as pessoas respondem umas às outras pelo que escutaram na superficialidade, pois não leem o que está por trás de uma pergunta simples. Já fiz isso também, mas vamos aprendendo a nos colocar mais no lugar do outro, passamos a ouvir mais e falar menos, respirar fundo antes de responder, quem sabe indagando o motivo da pergunta… O problema, Filipe, é que as pessoas às vezes estão tão armadas que fica difícil chegar nessa profundidade e entender suas verdadeiras razões. Desejo um mundo mais desarmado!!
Olá Diva!
É com enorme prazer que recebo seu comentário!
Pode ter certeza que ficará como uma grande lição para todos nós!
É sempre um prazer contar com sua participação por aqui!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Ana Emilia!
Esse livro também ficou na minha estante por um tempo. Na época estava estudando outras coisas e seu estudo acabou ficando para depois. Até que me pediram para escrever sobre o tema e tem sido muito bom retomar o QE, o Quociente Emocional.
É verdade sobre o “armamento”, mas nós temos que tentar ver também se as pessoas estão na defensiva por medo ou por características de personalidade. Como sabemos, existem muitas pessoas que não conseguem falar sobre seus próprios sentimentos (estas são as mais difíceis de entender).
Atenciosmente,
Felipe de Souza
Bom dia, Felipe!
Obrigado por ter me respondido. Você conhece alguma Instituição que tenha a pós-graduação em Psicologia Organizacional no Rio de Janeiro?
Agradeço
Elisângela
Olá Elisângela,
De nada querida!
A Estácio oferece o Curso de Especialização em Psicologia Organizacional.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Adorei o texto… é sempre muito bom refletir sobre nossa conduta com os que se relacionam conosco…. grande abraço.
Olá Ludmila!
Fico muito muito contente que tenha adorado o texto!
Abraços
A paciência é uma virtude neste processo…
Olá Allan,
Verdade! Penso como os budistas que consideram a paciência a maior das virtudes!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Obrigada pelas recapitulações enviadas para meu email. A repetição é a mãe da retenção. As vezes não sei se me sinto lijongeada ou espionada(rsrs)