Olá amigos!
Marshall Rosemberg desenvolveu a Comunicação Não-Violenta, ou Comunicação Compassiva, para que todos nós pudéssemos nos reconectar com princípios que estão desde sempre dentro de nós, mas que por uma série de razões ao longo da vida vão se perdendo.
Muitas pesquisas na psicologia nas últimas décadas mostram que crianças muito pequenas (entre 1 e 2 anos) apresentam a tendência de querer ajudar, ou seja, apresentam compaixão pelos que estão à sua volta, até por aqueles que não são da família próxima.
Como havia dito no texto de ontem, voltarei a falar mais sobre a CNV em textos e vídeos, com uma introdução maior sobre o termo – não-violência e compaixão – e práticas para nos ajudar a colocar estes princípios que nos reconectam à nós mesmos e aos outros, em breve.
Para começarmos a entender a CNV, temos que entender o conceito de necessidades humanas universais. A maneira mais simples é pensarmos que temos necessidades físicas, certo? Todas as pessoas precisam dormir, precisam de ar, de comida, de abrigo (um lugar para se proteger). Entender que todas as pessoas possuem tais necessidades é tranquilo.
Quando passamos para as necessidades mais “emocionais” talvez surjam dúvidas. Primeiro, leia a lista abaixo das necessidades, traduzi do livro do Marshall, Nonviolent communication, A Language of life.
Lista de necessidades humanas universais
Nutrição física
• Ar
• Comida
• Movimento
• Exercício
• Proteção de formas de vida que ameaçam a vida (vírus, bactérias, insetos, predadores)
• Descanso
• Expressão sexual
• Abrigo
• Toque
• Água
Autonomia
• Escolher os sonhos, objetivos
• Escolher os planos para realizar os sonhos, objetivos, valores
Celebrar
• Celebrar a criação da vida e a realização dos sonhos
• Celebrar perdas: pessoas queridas, sonhos (luto)
Integridade
• Autenticidade
• Criatividade
• Sentido
• Valor próprio
Interdependência
• Aceitação
• Apreciação
• Proximidade
• Comunidade
• Consideração
• Contribuição para o enriquecimento da vida (exercer o próprio poder dando o que contribui com a vida)
• Segurança emocional
• Empatia
• Honestidade
• Amor
• Reconforto
• Suporte
• Confiança
• Compreensão
• Calor (afetuosidade)
Brincar
• Divertir-se
• Gargalhar
Comunhão espiritual
• Beleza
• Harmonia
• Inspiração
• Ordem
• Paz
O que são necessidades?
Lendo os termos da lista, penso que não é difícil perceber que todas as pessoas, horas mais, horas menos, apresentam tais necessidades ao longo de suas vidas. A dúvida sobre as necessidades aparece quando chegamos ao modo de satisfazer as necessidades. E a discordância sobre o modo de satisfazer uma necessidade é fonte de muitos conflitos entre as pessoas e grupos.
Por exemplo, todos precisam de comida. Algumas pessoas escolhem como estratégia para suprir essa necessidade comer carne, outras são vegetarianas, outras são veganas.
Todos nós precisamos nos divertir, mas alguns vão para a balada, outros preferem Netflix, e assim por diante.
Resumindo, todas as pessoas que já viveram, estão vivendo ou vão viver apresentam estas necessidades, elas são universais, independentes do lugar e da cultura. A forma de satisfazer tais necessidades, entretanto, é incrivelmente variada.
Ao percebermos que todos possuímos as mesmas necessidades, conseguimos ter mais compaixão. Se eu quero ir ao cinema e meus amigos querem ir para a balada, tudo bem. Entendendo que a necessidade subjacente é idêntica (diversão), consigo me conectar com eles, embora discordemos da estratégia utilizada nesse sábado a noite. Nesse sentido, não é que queiramos coisas totalmente diferentes. Queremos diversão, mas supriremos a necessidade com estratégias distintas.
Como reconhecer as necessidades nossas e dos outros?
As necessidades estão muito relacionadas com as nossas emoções, com os nossos sentimentos (não vou entrar aqui na diferença conceitual entre emoção e sentimento, usarei como sinônimo).
Emoções geralmente classificadas como negativas (raiva, tristeza) são indicações ótimas para começarmos a investigar as necessidades. São “negativas” porque apontam que uma ou mais necessidades estão “no negativo”.
Se quero muito sentar e conversar com um amigo sobre um problema, e ele chega muito atrasado, posso me sentir triste – enquanto espero – porque não estou tendo a minha necessidade de compreensão atendida.
Se estou com raiva, pode ser que esteja com fome ou pode ser que esteja com sono.
Desta forma, tendo a lista básica de necessidades em nossas mãos, procuramos exercitar a conexão com o que estamos sentindo (agora ou em outra ocasião) e as necessidades que foram ou não foram, estão ou não estão sendo atendidas.
Por exemplo, ontem me senti alegre ao organizar meus livros de psicologia cognitiva. Se me lembrar dessa situação, reconheço:
– o sentimento, a emoção (alegria)
Pegando a lista de necessidades, reconheço:
– a necessidade (ordem).
Neste momento, me sinto feliz por estar escrevendo este texto:
– o sentimento, a emoção (felicidade)
Pegando a lista de necessidades, reconheço:
– a necessidade (criatividade).
Igualmente, fazemos este exercício pensando sobre ou dialogando com uma pessoa ou grupo de pessoas. Recordando que as necessidades são universais, entendo que os outros também vão apresentar sentimentos e comportamentos que visam suprir ou informam sobre suas necessidades.
Se encontro um morador de rua, talvez ele me peça dinheiro para comer (necessidade: comida) ou talvez ele esteja em busca de ser ouvido (necessidade: compreensão ou consideração ou comunidade).
Em muitas situações sociais, fará sentido questionar a pessoa sobre o que ela realmente precisa. Em outros casos, o ideal será identificar a necessidade interna do outro em silêncio.
Este vídeo ilustra bem:
Conclusão
Ao reconhecermos as nossas necessidades e as necessidades alheias, muitas situações de conflito se resolvem e muitos problemas se esclarecem. Afinal, brigamos, discutimos, nos desentendemos não por causa das necessidades, mas pela forma (estratégia) usada.
O que você está sentindo agora? Há uma necessidade atendida para celebrar? Há alguma necessidade que não está sendo suprida e você precisa cuidar?
Há talvez alguma necessidade de compreensão sobre o texto que não foi atendida?
Incrível!
Me abriu novas possibilidades e compreensão de um todo! Obrigado!
Prezado Felipe, leio todos os seus textos, mesmo não sendo da área de psicologia e me identifico com a forma com que escreve. Torna fácil e agradável a leitura de assuntos tão únicos. Sou formado em administração e faço MBA em Marketing com Ênfase em Neuromarketing. Aí está nosso ponto em comum… gostaria de ver sua análise crítica à memética. Seria possível trazer este assunto para nós? Grande abraço.
Olá, Doutor Felipe!
Tema instigante! Gostei da apresentação. Gostaria de vê-lo desenvolvido.
Atenciosamente,
Luís Monteiro Oliveira.
Oi Joarez,
Não conheço a memética. O que é?
A teoria da memética é relativamente nova e complementa a teoria da evolução das espécies de Darwin, onde é apresentado dois replicadores para manutenção da espécie. Um é o Gene (biologia) e o outro é o meme (adequação cultural). Ela foi difundida muito com o trabalho “O gene egoísta” de Richard Dawkins. Também no trabalho de Susan Blackmore no livro “A máquina de memes”.
Ótimo texto professor!
eu estava pensando nesses dias , sobre a necessidade espiritual das pessoas… eu sou atéia, apesar de já ter ido à igreja e acreditado em deus, grande parte pela criação, mas quando comecei a questionar vi que não fazia sentido, então abandonei a fé cega que tinha, e hoje me sinto melhor comigo mesmo, Acho que quando se é ateu você passa mais tempo tentando se entender do que propriamente tentando reprimir-se, buscando se satisfazer em todos os campos e não somente espiritualmente como muitos fazem. O ser humano é muito complexo!!
Aliás professor, gostaria muito que você fizesse um paralelo entre fé e psicologia, seria muitíssimo interessante.
Obrigado Rafaela!
Veja aqui – https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/2012/05/psicologia-e-deus.html
Obrigado Joarez, não conheço mesmo para escrever sobre. Grande Abraço!
caramba, assistir o vídeo, ver o conteúdo foi uma experiência incrível. Não desistir das pessoas. Faço terapia, e super recomendo , quando saio de uma seção. sou outra pessoa e a cada dia aprendo mais e mais. a possibilidade , oportunidade , portal e janelas que se abrem são infinitas.