Olá amigos!
A coerência é uma característica muito valorizada. Lembro que quando era pequeno, devia ter 3 ou 4 anos, me perguntaram qual era o meu time de futebol. Como meu avô paterno era vascaíno, disse vasco. Uns dias depois, me perguntaram novamente, e eu disse flamengo (porque todos na rua eram flamenguistas). Logo que disse flamengo, uma pessoa falou, mas antes você tinha dito vasco. É vasco ou flamengo?
Nesta lembrança, podemos ver como aprendemos desde pequenos a importância da coerência. Quem é coerente é lógico, diz e faz com nexo, com ligação, de uma forma que será esperada e mantida no futuro, como uma promessa de ser o mesmo. Lógico aqui não quer dizer ser racional, mas sim manter o princípio de identidade que diz que A é igual a A, ou seja, se eu digo que sou Flamengo, devo permanecer Flamengo. Meu time é A e deve permanecer A pelo resta da vida.
Claro que este exemplo do futebol é um exemplo sem muita importância (a não ser para quem ama o esporte). Porém, a questão de manter o princípio de identidade, de ser lógico em suas afirmações, enfim, de ser e manter-se coerente com seus dizeres tem dois lados.
É excelente porque torna as pessoas confiáveis. Se elas dizem que vão fazer, elas vão fazer. Podemos esperar a manutenção da palavra alheia, vamos saber como agir quando encontrarmos as outras pessoas porque elas tenderão a ser idênticas à última vez que as vimos.
Também é excelente porque nos permite agir com mais rapidez. Ao invés de ficar pensando em cada vez, é mais simples dizer o mesmo que sempre dissemos ou fazemos. Digamos que você vá até uma sorveteria durante um ano e experimente todos os sabores. Depois, você chega à conclusão de que o melhor sabor é o de flocos.
Se te perguntarem você dirá que é de flocos e nas próximas vezes não precisará pensar muito para escolher. Como flocos é o melhor será o escolhido. Nesse sentido, a coerência evita reflexões demoradas, perda de tempo, o cansaço da decisão.
Mas há diversos aspectos que fazem da coerência e da manutenção de um único ponto de vista, um grande problema. Neste texto, então, falarei de 3 motivos para você ser mais incoerente nas relações (amorosas e outras), no trabalho, na vida, em geral.
Motivo 1: Liberdade
A coerência, portanto, tem seu lado positivo e nos ajuda muito. Mas em muitas situações acaba sendo uma verdadeira prisão, da qual é melhor nos livrarmos logo.
Mas antes de falarmos a respeito da liberdade, gostaria de mencionar que a coerência pode apresentar graus de manutenção. Um experimento dos psicólogos sociais dos Estados Unidos facilita a explicação.
No experimento, foram criados 3 grupos de voluntários. Todos eles tinham que dizer o tamanho de uma determinada reta, sem medir, ou seja, tinham que “chutar” a medida correta.
O grupo A tinha que responder apenas dizendo em voz alta.
O grupo B tinha que escrever no quadro e depois apagar a resposta.
O grupo C tinha que escrever e assinar depois embaixo, em um papel, à caneta.
No segundo momento, os pesquisadores diziam sem exceção que as respostas estavam incorretas e que eles tinham a chance de mudar de opinião sobre as medidas. O grupo que mais mudou foi o grupo A e o grupo que menos mudou foi o grupo C.
O que isto significa?
Significa que a coerência é mantida mais se ela for pública, e, ainda mais, se ela for escrita, ou seja, se a declaração for impressa de uma forma que não possa ser apagada.
Assim, diversas empresas acabam usando este elemento a favor para vender mais, fazendo com que o cliente assine primeiro o interesse no produto ou mesmo para que assine logo o contrato de venda, pois deste modo estará menos propenso a desistir posteriormente.
Enfim, um dos motivos para não ser tão coerente é que ser coerente pode ser uma grande burrice. Se você tomou uma decisão errada no passado e hoje sofre as consequência da decisão, porque não permitir ser livre e mudar?
Um exemplo: imagine alguém que sempre sonhou em ser dentista. Disse isso publicamente para todos (o que aumenta a sua probabilidade de continuar mantendo a coerência). Porém, logo no primeiro ano, esta pessoa entende que não quer ser mais dentista.
Dizer para todos que não quer ser mais dentista significaria ser incoerente. Como vimos, a sociedade não valoriza a incoerência. Assim, para não ser incoerente, a pessoa vai ficar cinco anos na faculdade, infeliz, vai ganhar o diploma para nada, afinal, como não gosta da área, vai acabar não exercendo.
Entendem como ser coerente neste caso é uma tremenda burrice?
Manter a coerência apenas para não ser alvo da crítica do outros é bobagem. Por isso, um dos motivos para ser mais incoerente – em algumas situações – é a liberdade de tomar novas decisões.
Motivo 2: Individualidade
No exemplo acima, já podemos ver como a questão da individualidade X coletividade tem peso na hora da manutenção das decisões.
Para quem é mais jovem, pode parecer incompreensível a ideia de continuar em um casamento que não está dando certo. Contudo para quem nasceu entre as décadas de 1940 e 1960, a ideia do casamento indissolúvel era inculcada desde cedo.
Com isso, se houvesse casamento, ele seria para a vida toda. O contrato de casamento, de papel passado, público para todos verem tinha que ser mantido a todo custo. Ou seja, a opinião social, coletiva tinha mais peso do que a opinião individual.
Não estou querendo defender aqui uma ou outra postura. O que quero mostrar apenas é que a coerência, principalmente a pública, faz com que sejamos vítimas fáceis da opinião alheia. É como colocar a possibilidade de decidir nas mãos dos outros.
Assim, não só no casamento, mas em quantas situações não vamos alguém se justificar pela decisão (errada) que tomou do seguinte modo: “Mas o que vão pensar de mim?”
Motivo 3: Felicidade
Como disse acima, a coerência tem suas vantagens e desvantagens. Quando ela é utilizada pelos outros ou utilizada por nós mesmos (contra nós) ela se torna uma armadilha que não só nos tolhe a liberdade e a individualidade, mas nos impede de ser feliz.
Imagine uma pessoa que se casou aos 18 anos e, pela coerência, tem que viver o resto da vida com uma pessoa terrível, apenas porque assumiu este compromisso publicamente, apenas para manter a coerência!
Imagine alguém que continua um relacionamento porque, no fundo, disse para todos – amigos e familiares – que aquele ou aquela era a pessoa certa, para logo em seguida, descobrir o contrário e não termina agora somente porque disse para todos e não quer aparentar ser volúvel!
Imagine alguém que escolheu uma faculdade ou profissão e sente-se profundamente infeliz e não tem coragem de mudar para não ser visto como inseguro, mutável, fogo de palha, “alguém que não sabe o que quer”…!
Enfim, podemos observar diversas situações nas quais ser incoerente é muito melhor do que ser coerente. Não é a toa o grande sucesso da música de Raul Seixas: “Eu prefiro ser esta metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo…”
Excelente o texto, estou nesse momento de troca de profissão, lembro que em alguns momentos me senti frustrada primeiro por que fiz um investimento alto na 1° graduação e segundo que dói ( e por isso levei muito tempo para compreender ) reconhecer que errei na escolha.
Quando mais nova era mais resistente a mudanças, ou seja, “mantinha sempre aquela ideia fixa”, hoje na medida em que amadureci, percebo que mudei e alias, como é bom mudar e ser incoerente quando é para o nosso próprio bem!
Mais uma vez, parabéns pelo artigo!
Márcia
Muito bom o texto e muito coerente rsrsrsrs!!!
Ótimo , adorei a coerencia é ser incoerente…
Olá Marcia!
Eu que agradeço o comentário!
É verdade! Há um tempo atrás tinha escrito este texto – E quando é melhor desistir?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Rose!
Fantástico seu comentário! rsrs
Obrigado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Jo!
Em muitos casos sim!
Se formos coerentes o tempo todo, não conseguiremos mudar
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Oi Felipe
Acabei de perceber como sou coerente! rsrsrsrs
O meu problema é ter, depois de tanto tempo, coragem para ser incoerente.
Mas o seu artigo me fez refletir os prós e contra…
Parabéns Felipe! Mais um excelente texto. Estou aprendendo muito com seus artigos. A psicologia é realmente fantástica. Muito obrigado por partilhar conosco o seu conhecimento. Deus te conceda sempre, saúde e paz…
Boa noite,
Felipe,gostei muito do texto de hoje,mas fiquei e dúvida quanto ao ser incoerente e ai perder no meio do caminho a oportunidade de um emprego melhor,estou cursando o curso técnico de Enfermagem a 2 anos e estou em reta final,me formo em outubro 2014,e já percebi que não é essa área que quero seguir,porém sei que ao me formar nela, terei uma oportunidade melhor de emprego visto que já trabalho a mais de 10 anos nesta área,me apaixonei pela psicologia e não estou mais conseguindo manter meu foco em meus estudos,no entanto fico mesmo naquela,o que será que as pessoas irão falar de mim se eu desistir agora que estou no final,ou será que posso descobrir nesta área uma forma de apreender mais sobre o comportamento humano e assim me ajudar futuramente nos meus estudos da faculdade de psicologia? Estou em dúvida quanto ao futuro que me bate a porta,ser incoerente ou coerente agora?!!
Olá Dila!
A coerência tem realmente dois lados…
Em muitos casos, precisamos ser incoerentes para mudar para melhor.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Wélino!
Obrigado!
Fico muito feliz que esteja gostando dos textos!
Se tiver alguma sugestão para novos textos, é só comentar, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Micheline!
Creio que este texto pode lhe ajudar – Técnica para decidir
Atenciosamente,
Felipe de Souza