Olá amigos!

Gosto muito de filosofia e, embora não seja um filosofo, estudo de tempos em tempos o pensamento destes grandes gênios. Um dos mais incríveis é o filosofo Immanuel Kant, que, além de influenciar diversas outras áreas, teve especial impacto na psicologia, que viria a nascer bem depois das suas produções críticas do século XVIII. Em seu famoso livro A crítica da razão pura, em que utiliza a razão para estabelecer os próprios limites da razão, ele faz uma afirmação incrível: tempo e espaço são formas a priori da sensibilidade. Explico, tempo e espaço não estão nas coisas e na relação entre elas, mas estão “dentro de nós”, estão, digamos, em nossa mente e servem de referência sempre para o nosso conhecimento.

Em outras palavras, não conseguimos pensar em nada que esteja fora destas categorias, quer dizer, sempre estamos fazendo relações entre o espaço, dentro e fora, alto e baixo, etc, e relações espaciais, causa e efeito, antes e depois, passado e futuro. Como diz o escritor irlandês James Joyce, no Ulisses, “A very short space of time through very short times of space”. Traduzindo: um pequeno espaço de tempo através de pequenos tempos de espaço.

Enfim, não é nem sobre Kant ou Joyce que quero conversar com vocês hoje. Se vocês chegaram até esta linha, então, digo sobre o conteúdo deste texto. Como não podemos fugir do tempo e do espaço, como podemos alterar, modificar, subverter as nossas concepções para vivermos melhor? Dizem que a depressão é excesso de passado e a ansiedade excesso de futuro. Se é assim, como podemos viver melhor modificando o nosso tempo e o nosso espaço?

Viver mais no hoje

Não é impressionante pensarmos que o futuro nunca chega? Amanhã é amanhã e sempre será amanhã, quer dizer, se projetamos um desejo no futuro, como conseguir algo, atingir uma meta, realizar um projeto, estamos jogando uma ideia para o futuro. É como se disséssemos que só seremos feliz quando este futuro chegar. Claro, os dias vão passando e um dia o que era futuro torna-se presente. Contudo, se criamos esta dinâmica de deixar no futuro a nossa felicidade, estaremos sempre postergando a nossa felicidade.

Bem, se o tempo é uma referência fundamental para o que conhecemos e pensamos, podemos considerar um pouco melhor as divisões de tempo que fazemos. A divisão mais básica é entre o dia e a noite. Todas as culturas em nosso mundo possuem palavras para esta mudança radical da quantidade de luz do dia e sua ausência à noite. Outra característica interessante é que o sono e os sonhos dividem um dia para o outro e nos sonhos vivenciamos mudanças psíquicas nem sempre conscientes.

De forma que uma tática para diminuir a ansiedade sobre o futuro ou a tendência depressiva de ficar remoendo o passado é focar toda a atenção no dia de hoje. Como se diz, cada dia com suas preocupações. Se estabelecermos o nosso foco mental apenas no hoje e criarmos objetivos para o hoje, como uma lista de prioridades do que fazer, já estaremos vivendo com mais intensidade. É como o carpe diem, aproveite o dia. De todo forma, o futuro é sempre apenas possibilidades e, sem querer ser trágico, podemos nem chegar a sobreviver até lá.

Viver mais o agora

Se diminuirmos ainda mais o nosso horizonte temporal, e passarmos do futuro longíquo para o dia de hoje e, ainda, para o momento presente, para o agora veremos coisas muito interessantes. Não só poderemos aumentar a nossa produtividade, mantendo a atenção em apenas uma atividade por vez, como poderemos nos livrar de muitos conteúdos psíquicos desnecessários, nem que seja somente agora-agora.

E para fazer isto é muito simples. Pergunte-se: “O que está acontecendo agora?” Há algum fato ruim, desagradável, desconfortável que esteja acontecendo neste momento? Ou tudo pelo que você vem sofrendo está no passado distante ou ainda não aconteceu – e pode não acontecer?

Viver mais aqui

Outra forma é pensar no aqui, no espaço ao redor. Se o tempo distante está sempre em nossa cabeça, se mudarmos a direção da nossa atenção da mente para o corpo, para os cinco sentidos e sentirmos o “aqui”, imediatamente, começarmos a ficar mais no agora. Então podemos perguntar: “O que está acontecendo aqui? Como posso mudar o meu ambiente para me sentir melhor?”

Pela minha experiência clínica, vejo que muitos sofrimentos são totalmente inúteis. E uma forma muito simples e fácil de diminuir este sofrimento é viver mais no hoje, no agora, no aqui.