Olá amigos!

Esses dias atrás estava conversando com um grande amigo e ele comentou ter escutado esta frase: “Não se leve tão a sério”. Eu achei genial e na hora disse para ele que escreveria um texto aqui no site sobre esta frase. Claro que esta frase tem vários sentidos, talvez até de provocar uma ofensa. Porém, o que desejo conversar com vocês é o lado positivo presente neste pensamento.

Há cerca de três anos atrás, comecei a praticar meditação. A meditação vipassana é praticada no mundo inteiro, por ser simples e por ter resultados muito rápidos e, se com constância, percebemos que também são duradouros. Se houver interesse de vocês, posso explicar em outro artigo como funciona e como podemos fazer. Aqui, gostaria de dizer como eu entendo o “Não se leve tão a sério”.

Desde pequeno fiquei intrigado com a autoconsciência. Pois quando pensamos: “Eu penso em mim” ou “Eu penso isto sobre mim mesmo” ou “Eu digo para mim mesmo”, estamos de certo modo pressupondo dois eus: um eu que pensa o eu, ou seja, um eu que observa o outro eu. Meditar também significa me-ditar, ditar a mim mesmo…

Ao meditarmos, na respiração por 1 hora ou mais, vamos nos desligando do apego às nossas sensações, sentimentos e pensamentos. É um processo de deixar vir e deixar ir . Se um pensamento, digamos de ódio ou mágoa surge, ele surge para em seguida desaparecer. Se estamos conscientes e observando “o nosso próprio eu”, podemos aumentar e fazer crescer aquele pensamento-sentimento de ódio ou mágoa ou podemos escolher deixar ele aparecer e desaparecer, em questão de segundos.

Com isso, passamos a não nos levar tão a sério. O sentido aqui é de que estamos conseguindo entender a diferença entre a consciência e o ego, o eu.

A consciência é o que observa, o eu corresponde a todos os pensamentos, valores, emoções, apegos, medos que – como ondas – vem e vão….

É como na história Zen do Eu e da Carroça:

Um Imperador, sabendo que um grande sábio Zen estava às portas de seu palácio, foi até ele para fazer uma importante pergunta:

– Mestre, onde está o Eu?”

O mestre então lhe pediu:

– Por favor, traga-me aquela carroça que está lá.

A carroça foi trazida. O sábio perguntou:

– O que é isso?

– Uma carroça, é claro – respondeu o Imperador.

O mestre pediu que retirasse os cavalos que puxavam a carroça. Então disse:

– Os cavalos são a carroça?”

– Não.

O mestre pediu que as rodas fossem retiradas.

– As rodas são a carroça?

– Não, mestre.

O mestre pediu que retirassem os assentos.

– Os assentos são a carroça?

– Não, eles não são a carroça.

Finalmente apontou para o eixo e falou:

– O eixo é a carroça?”

– Não, mestre, não são.”

Então o sábio concluiu:

– Da mesma forma que a carroça, o Eu não pode ser definido por suas partes. O Eu não está aqui, não está lá. O Eu não se encontra em parte alguma. Ele não existe. E não existindo, ele existe.”

Dito isso, ele começou a se afastar do surpreso monarca.

Quando estava já afastado, voltou-se e perguntou-lhe:

– Onde Eu estou?

Portanto, o eu aparece e desaparece em suas partes, nos diversos pensamentos, emoções, sensações, valores e comportamentos. Por isso também passamos por tantas fases na vida. Fases em que nos identificamos a um valor, como um time de futebol ou um partido político, fases em que amamos um certo alguém e fases em que nem lembramos que este mesmo alguém existe… e milhões e milhões de fases em uma única vida.

Os planos sérios e a vida

Em outros textos mais antigos já mencionei  a frase de John Lennon: “A vida é o que acontece, enquanto você está fazendo planos”. O meu querido amigo, que me disse a frase que deu título a este texto, interpretou-a por este caminho. Levamos muito a sério os nossos planos e sofremos muito se os planos que tínhamos não dão certo ou não acontecem exatamente como gostaríamos.

Isto vale para planos insignificantes, como desejar ir a uma pizzaria e ficar emburrado porque ela está fechada até os grandes planos, que mudam uma vida como fazer uma faculdade, encontrar um trabalho, mudar de cidade, casar, ter filhos, etc.

O que acontece, em termos psicológicos, é explicado pelo conceito de um antropólogo muito famoso no início do século XX, Levy-Bruhl. O conceito é  “participation mystique”, participação mística. A grosso modo, a participação mística é a indiferenciação entre o sujeito e o objeto, a confusão psíquica entre ambos. É fácil de ver a participação mística nos povos primitivos (ou primeiros), quando estes apresentam medo de tirar uma fotografia com medo de perder a alma. Ou seja, eles ligam a alma à imagem do corpo. Para nós, tal pensamento é ridículo e risível.

Porém, nós também temos ainda muita participação mística com os objetos aos quais nos ligamos. Por exemplo, se um filho comete um erro grave, a mãe pode vir a sentir como ela mesmo tivesse cometido o erro. Neste caso, a mãe confunde o filho (que é alguém fora dela e um outro) com ela mesma.

Assim também acontece quando temos um plano, ou seja, uma ideia e esta não se concretiza no momento desejado. A ideia é apenas uma ideia, um pensamento em nosso mundo interno. Ingenuamente, queremos que esta imagem interna tenha correspondência necessária à imagem externa, os acontecimentos do nosso meio.

Por isso, é salutar não levar – os planos – tão a sério… não levando tudo tão a sério conseguimos viver mais e melhor. Viver mais pois estamos realmente vivendo (não sonhando um plano) e vivendo melhor pois relações com pouca projeção, com pouca participação mística, são mais livres e inteiras.

Psicólogo Clínico e Online (CRP 06/145929), formado há 16 anos, Mestre (UFSJ) e Doutor (UFJF), Instrutor de Mindfulness pela Unifesp. Como Professor no site Psicologia MSN venho ministrando dezenas de Cursos de Psicologia, através de textos e Vídeos em HD. Faça como centenas de alunos e aprenda psicologia através de Cursos em Vídeo e Ebooks! Loja de Vídeos e Ebooks. Você pode também agendar uma Sessão Online, Terapia Cognitivo Comportamental, Problemas de Relacionamentos, Orientação Profissional e Coaching de Carreira , fazer o Programa de 8 Semanas de Mindfulness Online. E não se esqueça de se inscrever em nosso Canal no Youtube! - no TikTok -, e Instagram! Email - psicologiamsn@gmail.com - Agendar - Whatsapp (11) 9 8415-6913