É cada vez maior o número de psicólogos que têm escolhido o esporte como campo profissional, incentivados pela regulamentação dessa especialidade profissional pelo Conselho Federal de Psicologia em 2000 e pela crescente organização de cursos em nível de pós-graduação, visto que a grande maioria dos cursos de graduação em Psicologia, em geral, não conta, em seus currículos, com a disciplina Psicologia do Esporte.

Segundo Rubio (2000), a Psicologia do Esporte é um campo que pode ser clivado em dois ramos distintos de atuação: num deles está a Psicologia do Esporte acadêmica, que tem seu interesse primordial voltado para a ciência e o ensino, no outro se encontra a Psicologia do Esporte aplicada ou prática.

O esporte, enquanto um fenômeno complexo, e que permite à diversas áreas uma tentativa de compreensão, é o foco privilegiado da pesquisa enquanto possibilidade de atuação acadêmica. O recorte feito do seu objeto, evidentemente, é a interação dos aspectos psicológicos com a prática esportiva.

A Psicologia do Esporte aplicada tem como uma de suas funções principais o processo de avaliação psicológica, que é conhecido como psicodiagnóstico esportivo e está relacionado diretamente com o levantamento de aspectos particulares do atleta ou da relação com a modalidade escolhida.

As investigações de caráter diagnóstico têm como objetivo determinar o nível de desenvolvimento de funções e capacidades no atleta com a finalidade de prognosticar os resultados esportivos.

Com o resultado do diagnóstico pode-se chegar a conclusões referentes a algumas particularidades pessoais ou grupais que oferecem subsídios para se fazer uma seleção de novos atletas para uma equipe, para mudar o processo de treinamento, individualizar a preparação técnico-tática, escolher a estratégia e a tática de conduta em uma competição e otimizar os estados psíquicos.

No caso das modalidades individuais, em que o foco da intervenção é o próprio atleta e sua atuação, atividades voltadas para a concentração, o controle da ansiedade e o manejo das variáveis ambientais costumam ser os principais objetivos da intervenção psicológica. No entanto, a forma e o tempo que esse trabalho levará para ser desenvolvido irá variar conforme o referencial teórico do psicólogo que o aplica. As práticas podem envolver visualização, relaxamento, modelagem de comportamento, análise verbal, inversão de papéis, técnicas expressivas ou corporais.

No caso das modalidades coletivas o foco da intervenção recai sobre as relações grupais, a formação de vínculo e organização de liderança, e aqui também a diversidade de procedimentos é grande. São amplamente utilizados os jogos dramáticos advindos do psicodrama, o desenvolvimento de auto-conhecimento por meio das técnicas de senso-percepção, bem como procedimentos verbais originários da psicanálise de grupos.

No entanto, a atuação do psicólogo no esporte não ser resume à atuação junto à prática de esportes de alto rendimento, há a possibilidade de atuação na prática de atividades físicas de tempo livre, na iniciação esportiva não competitiva, na reabilitação de atletas, ex-enfermos ou portadores de necessidades especiais e até mesmo em projetos sociais ligados ao esporte.

Nota-se, atualmente o desenvolvimento da chamada Psicologia do Esporte de Reabilitação, ou seja, os conhecimentos desenvolvidos para o uso do esporte são utilizados como instrumento de reabilitação social. Neste caso, o esporte é um meio para a re-inserção do deficiente ao convívio social. Este tipo de intervenção da Psicologia do Esporte não se aplica somente aos portadores de deficiências físicas mas também às pessoas com diferentes tipos de necessidades especiais como por exemplo, cardiopatas e diabéticos.

No caso do atleta lesionado, há a aplicação de estratégias diferenciadas para auxiliar no processo de recuperação física e emocional de uma atleta que está ou esteve distante dos treinos, provas e competições em função de alguma patologia de ordem física-motora.

O Conselho Regional de Psicologia do Estado de São Paulo, sintetiza as possibilidades de atuação do psicólogo do esporte:

Realiza estudos e pesquisas individualmente ou em equipe multidisciplinar, observando o contexto da atividade esportiva competitiva e não competitiva, a fim de conhecer elementos do comportamento do atleta, comissão técnica, dirigentes e torcidas; realiza atendimentos individuais ou em grupo, empregando técnicas psicoterápicas adequadas à situação, com o intuito de preparar o desempenho da atividade do ponto de vista psicológico; elabora e participa de programas e estudos de atividades esportivas educacionais, de lazer e de reabilitação, orientando a efetivação do esporte não competitivo de caráter profilático e recreacional, para conseguir o bem-estar e qualidade de vida dos indivíduos; desenvolve ações para a melhoria planejada e sistemática das capacidades psíquicas individuais voltadas para otimizar o rendimento de atletas de alto rendimento bem como de comissões técnicas e dirigentes; participa, em equipe multidisciplinar, da preparação de estratégias de trabalho objetivando o aperfeiçoamento e ajustamento do praticante aos objetivos propostos, procedendo ao exame de suas características psicológicas; participa, juntamente com a equipe multidisciplinar, da observação e acompanhamento de atletas e equipes esportivas, visando o estudo das variáveis psicológicas que interferem no desempenho de suas atividades específicas como treinos e competições. Orienta pais ou responsáveis nas questões que se referem a escolha da modalidade esportiva e a conseqüente participação em treinos e competições, bem como o desenvolvimento de uma carreira profissional, e as implicações dessa escolha no ciclo de desenvolvimento da criança. Colabora para a compreensão e transformação das relações de educadores e técnicos com os alunos e atletas no processo de ensino e aprendizagem, e nas relações inter e intrapessoais que ocorrem nos ambientes esportivos. Colabora para a adesão e participação aos programas de atividades físicas da população em geral ou portadora de necessidades especiais.