“O curioso paradoxo é que quando eu me aceito como sou, posso mudar” (Carl Rogers)
Quando falamos de psicologia clínica, é normal associarmos a atuação dentro de uma consultório e a consulta sendo realizada entre o profissional e o paciente, ou seja, o tratamento é individual. Mas uma outra possibilidade, igualmente eficaz, é o tratamento em grupo.
Neste texto, vamos começar a entender esta modalidade através da história dos chamados Grupos de Encontros, de acordo com Carl Rogers.
A história dos Grupos de Encontro
Rogers, em seu livro Grupo de Encontro, descreve o surgimento:
“Anteriormente à 1947, Kurt Lewin, um famoso psicólogo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, trabalham com a sua equipe e com estudantes, desenvolveu a ideia de que o treino das capacidades em relações humanas era um importante mas esquecido tipo de educação na sociedade moderna. O primeiro, então, T-Group (T significando training, treino) foi realizado em Bethel, Maine, em 1947, pouco depois da morte de Lewin” (ROGERS, p. 3).
Mais a frente, Rogers menciona os objetivos:
“Eram grupos de treino das capacidades das relações humanas, nos quais se ensinavam os indivíduos a observar a natureza das suas interações recíprocas e do processo de grupo. A partir daqui, sentia-se eles seriam capazes de compreender a sua própria maneira de funcionar num grupo e no trabalho, bem como o impacto que teriam sobre os outros, e tornar-se-iam mais competentes para lidar com situações interpessoais difíceis” (ROGERS, p. 3).
Tipos de Grupos de Encontro
Com as décadas, surgiram modalidades e formas diferentes de se trabalhar em grupo. Além do tipo desenvolvido por sua equipe, Grupos de Encontro, Rogers descreve outros 9 tipos importantes:
- T-Grupos
- Grupos de Encontro: pretende acentuar o crescimento pessoal e o desenvolvimento e aperfeiçoamento da comunicação e relações interpessoais, através de um processo experiencial.
- Grupo de treino de sensibilidade: assemelha-se aos dois anteriores
- Grupo centrado na tarefa: largamente aplicado na indústria. Centra-se na tarefa de grupo e no seu contexto interpessoal
- Grupos de percepção sensorial ou corporal: acentuam a percepção física e a expressão, através do movimento, dança espontânea e outras formas semelhantes
- Grupos de criatividade: o núcleo é constituído pela expressão criadora, através dos vários meios de arte, sendo o objetivo a espontaneidade individual e a liberdade de expressão
- Grupo de desenvolvimento da organização: o objetivo principal é desenvolver a capacidade de liderança
- Grupo de formação de equipes: usado na indústria para desenvolver maiores laços de união e equipes de trabalhos eficazes.
- Grupo Gestáltico: baseiam-se numa perspectiva terapêutica gestaltista, em que um terapeuta experiente se centra num indivíduo de cada vez, porém sob um ponto de vista diagnóstico e terapêutico.
- Grupo synanon ou game: desenvolvido pela organização Synanon para o tratamento de drogados. Tende a utilizar um ataque quase violento às defesas dos participantes.
Além destes, é importante notar os grupos desenvolvidos tendo por base a ideia original dos Álcoolicos Anônimos, com um tipo de liderança fluida, não-profissional. Assim, surgiram os Narcóticos Anônimos, ALANON, Dependentes de Amor e Sexo Anônimos, CoDependentes Anônimos, Comedores Compulsivos Anônimos, Emocionais Anônimos, MADA, etc.
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O que há de comum nos Grupos?
Dada a variedade de temas e funções, podemos nos questionar o que há de semelhante em todas estas modalidades. Novamente, aprendemos com Rogers:
“Em quase todos os casos, o grupo é pequeno (de oito a dezoito membros), relativamente não estruturado, escolhendo os próprios objetivos e direções pessoais. Ainda que nem sempre, a experiência inclui frequentemente alguma informação teórica – qualquer assunto concreto que é apresentado ao grupo. Em quase todos os casos a responsabilidade do líder é, em primeiro lugar, a facilitação da expressão dos sentimentos e pensamentos por parte dos membros do grupo” (ROGERS, p. 8).
E também notamos a importância da postura do líder (temporário ou não) – “Um facilitador pode desenvolver, num grupo que se reúne intensivamente, um clima psicológico de segurança no qual a liberdade de expressão e a redução das defesas progressivamente se verifiquem” (ROGERS, p. 8).
Desta forma, percebendo a possibilidade de se expressar com sinceridade, e tendo espaço para se abrir, os indivíduos tendem a ter mais aceitação de quem são e de quem os outros são. Paradoxalmente, ao aceitar quem somos, podemos mudar. Ou seja, não só entendemos os motivos de ficarmos parados aqui e ali (por conta de tentarmos nos defender) como podemos passar a encarar a mudança como algo mais fácil e menos assustador.
Conclusão
Talvez cause estranheza ou rechaço o fato de incluirmos tratamentos em grupo dentro da psicologia clínica. Evidentemente, alguns dos grupos citados prescindem de um profissional (como é o caso do AA e dos grupos dele derivados), mas pensamos que é importante para os profissionais da área psi, bem como de quem busca tratamento, saber da existência de grupos de encontro ou grupos de ajuda, que realmente ajudam e são eficazes no promoção da saúde mental.
Ola, você tem textos e dinâmicas para me sugerir para trabalho de grupo com mulheres?
Olá Jessica,
Existem alguns livros com práticas de dinâmicas. Mas infelizmente não sou um especialista nessa área para te indicar, ok.