“Devemos expressar a raiva? Ou devemos escondê-la? Reprimi-la? Haverá algum problema se escondermos no longo prazo?”
Recentemente, publiquei um vídeo em nosso Canal no Youtube sobre como lidar com a Raiva. E o Rodolfo Veronese me fez uma pergunta que me deu o que pensar. Dizendo com as minhas palavras, a questão era:
– “Devemos expressar a raiva? Ou devemos escondê-la? Reprimi-la? Haverá algum problema se escondermos no longo prazo?”
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Sobre emoções e sensações
Para começarmos, é muito importante saber o que é a raiva. O que é a raiva para você? Ou melhor, como você sabe que está com raiva…quando está com raiva?
Para por alguns instantes e pense.
Quando pergunto como é a raiva para você, deixo implícito o pressuposto de que a raiva é diferente para cada pessoa. Para mim, sei que estou com raiva quando noto o franzir da minha sobrancelha, quando contrario vários músculos no rosto e na testa, fecho os punhos como quem fosse dar um murro, sinto meu coração bater mais rápido e a respiração fica mais rápida e superficial.
Provavelmente, para você é um pouco diferente. De toda forma, você e eu nomeamos isso tudo como raiva.
Agora, vamos imaginar como se fossemos um cientista que estivesse observando este conjunto de fenômenos: todas estas sensações separadas que, juntas, chamamos de raiva.
Separadamente, nenhuma destas sensações corporais indica necessariamente um estado de raiva. Posso contrair os músculos da testa porque estou com dúvida, posso fechar os punhos em um exercício ou como sinal de vitória, como quem comemora algo.
Ao observar cada sensação por si só, como em um microscópio, vemos que todas estas sensações são transitórias, temporárias, impermanentes. Mas, se quisermos, podemos manter por mais tempo estas sensações. E aí é que surge a questão da causa da raiva.
As causas da raiva
Desde o começo da psicologia, que todas as abordagens, sem exceção, possuem um axioma: todos os fenômenos psicológicos tem uma causa, ou seja, podem ser explicados.
A raiva possui uma causa. A raiva não surge do nada.
Novamente, observamos que a causa de termos raiva um dia é diferente da causa de um outro dia e, igualmente, a causa de eu sentir raiva pode ser diferente da sua causa.
Em geral, creio que não erramos ao dizer que a causa principal da raiva é acontecer algo que não queremos. Temos um desejo, uma vontade, e acontece o que não tínhamos querido ou planejado. Nem sempre isso é óbvio.
Você sai de carro e logo percebe que há um trânsito quilométrico. Você sente raiva. Entre a percepção do trânsito e raiva talvez não tenha passado nem um segundo. E, deste modo, não há a consciência de que a raiva surge do desejo de que não houvesse trânsito.
Aqui também é bom parar por uns instantes e pensar: quando você sentiu ou sente raiva… o que estava acontecendo? O que havia que você não queria que houvesse?
O que você pode controlar?
No filme Click, Adam Sandler ganha um controle remoto que lhe permite alterar a realidade. É uma comédia com cenas muito engraçadas e que nos ajuda aqui a, metaforicamente, entender a ideia de controle.
Um controle remoto nos permite realizar algumas modificações em uma televisão. Mudar de canal, de volume, de cor. Se estamos assistindo com alguém, a pessoa que tem o controle, vai controlar o que será visto (esperamos que sem brigas).
Na vida, ao contrário, não temos na maior parte dos momentos um controle grande dos eventos. Não podemos controlar a cor do céu, a temperatura, se chove ou faz sol. De igual modo, muitos eventos sociais também não estão sob o nosso controle, como o trânsito, a macroeconomia, o que um político que votamos faz, etc.
A questão é que queremos controlar. E, consequentemente, uma boa parte da raiva é sem sentido. Afinal, podemos ter raiva o quanto quisermos por estar 35° mas isso não vai mudar a temperatura. Podemos ter raiva porque alguém falou uma besteira na TV ou ao nosso lado e isso também não está sob o nosso controle.
Na verdade, até as sensações corporais, muitas vezes, não estão sob o nosso controle como o ritmo do batimento cardíaco ou o rubor.
Olhando assim talvez pareça desolador. Na verdade, penso que é reconfortante analisar as coisas por esse ângulo porque passamos a ter clareza sob o que está sob o nosso controle e que é o mais importante: o nosso comportamento.
Leia também – O que você pode e não pode controlar
Emoções e comportamento
Um exemplo, digamos que alguém me ofendeu. A partir da ofensa, talvez eu sinta sensações corporais desagradáveis. Dependendo do momento, triste ou raiva. Se eu observar em detalhes as sensações, notarei modificações aqui e ali em meu corpo.
Sei que estas sensações são passageiras, mas tenho que lembrar que entre o estímulo e a resposta, como nos alerta Victor Frankl, há um espaço de liberdade. Respondo a ofensa com ofensa? Ou respondo com silêncio? Ou brinco e quebro o clima tenso?
Pela psicologia comportamental do Skinner, aprendemos que as emoções não são a causa do comportamento. Saiba mais aqui – as emoções não são a causa do comportamento
Saber desta distinção nos ajuda a ter mais liberdade para agir de uma forma que seja benéfica para nós e para os outros. Pois se alguém me ofende eu o agrido, terei mais problemas.
A expressão da raiva
No calor do momento, tudo isso pode parecer teórico ou utópico demais. Recalcar ou reprimir a raiva, fingir que ela não existe, não é uma boa estratégia até porque a tendência é, paradoxalmente, fazer com que ela permaneça.
Explico: quando queremos não pensar em algo, acabamos tendo que pensar para não pensar. E isso leva a pensar mais. Uma das estratégias que temos é permitir sentir as emoções, observar as sensações e as deixar passar junto dos pensamentos que alimentam a raiva. Se ficamos nos lembrando da ofensa, permaneceremos ofendidos e, provavelmente, triste ou irritados.
Em outras palavras, negar que há um sentimento, uma emoção, uma sensação não adianta. Nesse sentido, é preciso ser sincero consigo e observar o que está acontecendo, porém, sempre sabendo que podemos agir sem ter por base uma emoção negativa.
Ao tomar consciência de uma emoção que está presente agora, temos alternativas para a sua expressão que são mais adequadas, desde ouvir uma música na qual gritamos ou dançar, pular, dar socos em um travesseiro – porque, no final das contas, a raiva é apenas uma sensação corporal. Torna-se negativa se nos traz consequências negativas. A diferença entre dar um murro em alguém e tocar guitarra.
Dúvidas, sugestões, comentários, por favor, escreva abaixo.
Nossa eu sinto muita raiva nesse momento do meu supervisor do estágio, ele manda eu fazer as coisas e explica que nem a bund* dele , aí quando faço errado ele vem querer me culpar, tipo tentando me diminuir, ele é muito estressado e nervoso. Eu odeio ele, tenho vontade de socar a cara dele. Nunca senti raiva de uma pessoa assim, ele é um asno mesmo. Mas eu acredito em Deus, e peço que ele tire esse sentimento de dentro de mim, isso que me acalma e faz eu continuar nesse estágio. Tento não me afetar tanto com as ignorâncias dele.
texto muito interessante! gostei da parte que disse que devemos realizar a expressão do que sentimos. algo que, penso eu, não é bem visto em nosso contexto social, pois somos educados a “engolir a seco” tudo o que nos for imputado, principalmente as agressões em suas distintas modalidades.
claro, temos que buscar ter controle sobre nossas ações, como o próprio texto diz. mas, né, como também o próprio texto diz, temos que buscar uma forma de extravasar a raiva, coisa que eu não fazia.
hoje eu busco extravasar a raiva que sinto de fatos do cotidiano através de um diário escrito no smartphone (aprendi por este site que isso é bom). e me sinto bem melhor, pois tenho mais controle sobre as minhas ações e vou criando estratégias para saber melhor lidar com as adversidades que surgem no dia a dia.
ps.: nesse diário que criei não há apenas a expressão de sentimentos e coisas consideradas ruins que me ocorrem. há também a positividade, como avanços que noto em mim (poucos), algo que acho interessante na internet. um bom papo que tive virtualmente ou pessoalmente etc.
Li uma reportagem de um alemão residente nos EUA onde ele nos aconselha a viver o momento presente, isto é: O AQUI e AGORA. Ele diz que se treinarmos diariamente viver assim, os nossos problemas se esvai. Você conhece essa “teoria”?
Resumindo, então o melhor seria canalizar a raiva de outra forma? Tendo consciência de que ela existe e do motivo, eu tomaria outros tipos de atitudes para aliviar a raiva, mais ou menos da forma que vc explicou acima. Escutando música, caminhando, jogando vídeo game (no meu caso isso é claro rs).
Obrigado Jochi! Fico feliz que tenha seguido a dica sobre escrever. É algo maravilhoso mesmo!!
Eckhart Tolle? Realmente, é verdade que uma boa parte dos nossos problemas somem quando estamos atentos ao momento porque a maior parte dos problemas é relacionado ao passado ou ao futuro.
Como diz Mark Twain: “Os piores problemas que tive em minha vida foram aqueles que nunca ocorreram” (Mark Twain).
Sim, em resumo bem resumido sim. Também podemos treinar a assertividade (que é uma habilidade que muitos confundem com braveza ou raiva).
É legal, Claudia, testar. Algo que serve para mim pode não servir para você. Então, teste o que funciona e o que não funcione. Testar é divertido, rsrs.
Eu testo sim rs. Tenho um gênio muito forte e me estresso com muita facilidade com as coisas. O que não falta é oportunidade. rsrsrs
Acabei de ler seu texto, neste exato momento estava com um sentimento de ‘raiva’. Depois da leitura me senti mais aliviada. Obrigada!