Ansiedade e evitação: a resposta para a pergunta do título é o que chamamos na psicologia de evitação. Evitar fazer algo é um grande problema porque tende a ter um “efeito positivo” no curto prazo, mas no longo prazo, o efeito pode vir a ser extremamente prejudicial.
Por exemplo, uma pessoa com ansiedade social (a ansiedade que aparece no contato com outras pessoas) pode evitar falar em público ou comer em público. Em um primeiro momento, a evitação diminui a ansiedade. Depois tende a criar problemas maiores, através da diminuição da flexibilidade psicológica, diminuindo o que se pode fazer. Assim, o repertório comportamental tende a diminuir, limitando a vida.
Humanidade compartilhada
Podemos começar a pensar na nossa própria ansiedade junto com a Kristin Neff, criadora do Programa Self Compassion. Neff fala que a autocompaixão inclui a humanidade compartilhada. Assim, podemos começar lembrando que somos seres humanos e, desta forma, herdamos dos nossos antepassados, em um processo evolutivo de milhões de anos, um cérebro que tem características similares às outras pessoas, e também similaridades com as pessoas que viveram muito tempo atrás.
Sentimos ansiedade porque nossos cérebros tem a possibilidade de sentir ansiedade. Muitos pesquisadores argumentam que essa possibilidade foi, no passado, fundamental para a sobrevivência.
A sobrevivência nos dias de hoje
Portanto, temos um mecanismo no cérebro que pode despertar a ansiedade com a meta de aumentar as nossas chances de sobrevivência. Imaginando um ambiente hostil, na vida dos nossos antepassados, realmente ter ansiedade deve ter ajudado a ter respostas do tipo luta ou fuga e, consequentemente, a ter mais probabilidade de viver mais.
Atualmente, na maior parte dos casos, a ansiedade surge em situações que não são de verdade situações que colocam em risco a nossa sobrevivência. Uma pessoa pode se sentir ansiosa ao falar com uma pessoa nova ou ao estar em um lugar aberto, como uma praça, ou ao comer junto de outras pessoas em um refeitório.
Ou seja, na maioria das vezes, as situações em que a ansiedade surge são situações inofensivas do ponto de vista da sobrevivência física. Mas, por termos embutido em nosso sistema físico, a possibilidade de sentir ansiedade, a ansiedade então pode vir a aparecer.
Uma lista de evitações
Se você quiser, você pode fazer uma lista das situações que tem evitado. Tente ir anotando todas as situações que você tem fugido, dado desculpas, justificativas para não ir, para não fazer. Depois, você pode pegar todas as situações que você escreveu e enumerar: das situações que geram menos ansiedade (talvez só um frio na barriga) até as situações que lhe parecem impossíveis de ser feitas por você (aquelas que parecem muito difíceis de realizar).
O caminho contrário da evitação
Como disse acima, a evitação é reforçadora em um primeiro momento. Evitamos uma situação e com a evitação sentimos menos ansiedade. O problema é a consequência de longo prazo.
Vamos pegar como exemplo falar em público (a situação que gera mais ansiedade em mais pessoas). Se somos convidados para dar uma palestra e evitamos esta situação não indo, dando uma desculpa, vamos nos sentir menos ansiosos. Até mesmo pode surgir um alívio imediato quando recusamos. Contudo, no longo prazo, perdemos uma oportunidade e podemos continuar perdendo oportunidades devido à evitação.
A boa notícia é que dá para ir fazendo o caminho contrário e ir aprendendo a tolerar situações que gerem um pouquinho de ansiedade, primeiro, e, aos poucos aumentando o limite do que dá para fazer. Assim, gradualmente vamos deixando de evitar.
Por exemplo, podemos começar com o item que listamos que gera menos ansiedade. Se mesmo esse item for difícil para você, você pode buscar ajuda profissional de um psicólogo(a). O processo é simples: se desafie a fazer o primeiro item. Faça. Mesmo com ansiedade, mesmo se ansiedade surgir antes. Depois vá para o segundo item da lista. Depois para o terceiro. Com o tempo, a ansiedade começa a diminuir nas situações que foram enfrentadas. Ou pode ser que permaneça mais ou menos igual. A diferença vai ser o fato de que você começa a perceber que a ansiedade pode estar presente (em maior ou menos grau) e mesmo assim você consegue fazer, consegue enfrentar as situações que antes evitava.
A consequência de parar de evitar situações da vida é ter uma vida mais significativa, com mais propósito e liberdade. Com mais oportunidades e mais realizações.
Conclusão
A ansiedade aparece para todos nós. É a humanidade compartilhada, como diz a Kristin Neff. Sabemos que a intensidade da ansiedade varia de pessoa para pessoa. O quis apontar neste texto é como evitar as coisas, por causa da ansiedade, pode ser prejudicial. E como é possível ir superando, aos poucos, e ir enfrentando situações, das mais fáceis até as mais difíceis.
Muitas vezes vamos precisar de ajuda profissional nesse processo de superação. Se for o caso para você, busque ajuda! Os profissionais da psicologia conhecem diversas formas que podem ajudar você a viver melhor.
não pude fazer porque não tenho como pagar
O que você não pode pagar Sandra?
Por muito tempo sofri com a temida ansiedade. Cheguei a ter crises relativamente sérias e mudar rotina e hábitos, tudo por medo de enfrentar o que me deixava ansiosa… Isso sem falar as vezes em que ficava confusa e dizia não saber o motivo de tanta ansiedade.
Hoje faço acompanhamento psicologico e também com uma psiquiatra. Como foi bom ouvir que o que estava sentindo tinha controle e que eu poderia ter um vida de qualidade.
Conhecer o que se sente, como e por qual motivo, nos ajuda a colocar tudo no seu devido lugar. Eu diria que é libertado!
Mais uma vez agradeço e parabenizo você professor Felipe por seu relevante trabalho. Sempre foi de grande influência em minha vida e de muita ajuda.
Sucesso e paz para você e sua família!
Obrigado pelo depoimento!
Parabéns Felipe, tento sempre acompanhar suas publicações. Gosto das suas bases para seus textos, entre eles ACT, com Steve Heyes, e Hurris e teoria da compaixão, self compassion com Kristin Neff. Em breve farei algum curso aqui pela psicologia msn.
Grande abraço
Obrigado Nathalia! Temos um curso aprofundado sobre Act em 10 lições!
Qualquer dúvida você pode enviar e-mail para psicologiamsn@gmail.com
Abraços