O estado de fluxo é um estado a partir do qual podemos fazer a nossa vida mais significativa, criativa e feliz.
Olá amigos!
Já há um tempo que ouvi falar sobre o livro Flow: the psychology of hapiness, de Mihaly Csikszentmihaly. É engraçado como quando vamos estudando uma determinada área, acabamos estudando outra e outra e só depois percebemos a afinidade entre elas.
Os meus estudos de produtividade me levaram a conhecer as técnicas de Mindufulness (em um ambiente secular) e, concomitantemente, ouvia falar sobre este estado de fluidez, de concentração, de dedicação a um só foco em diversos momentos destes outros estudos.
Mas vamos começar pela definição do que é este estado de Flow – traduzido para o português como fluxo.
O que é Flow?
Mihaly Csikszentmihaly é de origem húngara. Em sua palestra no TED, ele conta que, durante o período da Segunda Guerra, quando ainda era criança, observou como as pessoas ficavam devastadas a partir do momento em que as referências óbvias de identidade ruíam: a perda do trabalho, do status social, de amigos, família.
Neste ambiente desolador, ele começou a buscar respostas, primeiramente na arte, na filosofia e na religião. A certa altura, estava na Suíça a passeio e ficou sabendo de uma palestra sobre discos voadores. Como não tinha nada melhor para fazer naquela noite, ele decide ir e escuta então uma incrível preleção sobre como os discos voadores podem ser analisados como uma compensação psíquica – semelhante às mandalas orientais – da destruição causada pela guerra na psique dos europeus. O palestrante era ninguém menos do que C. G. Jung (este trabalho sobre discos voadores foi depois publicado nas suas Obras Completas, volume 10).
Mihaly ficou fascinado pela profundidade da análise e começou então os seus estudos na psicologia. Na década de 1960 se mudou para os EUA e se formou em psicologia pela Universidade da Califórnia – Berkeley.
Esse contexto histórico sobre flow é importante para entendermos o que antecede as pesquisas. Nas décadas seguintes, um dos grandes objetivos de estudos de Mihaly foi a felicidade. Entrevistando e analisando centenas de pessoas das mais variadas áreas, ele percebeu que muitos falavam de um estado de espírito peculiar na qual tudo fluía sem dificuldade e até a noção de uma identidade pessoal desaparecia, ou seja, não havia mais preocupação consigo.
No início do livro Flow: the psychology of hapiness, (Flow: a psicologia da felicidade), Mihaly diz:
“Claramente, Flow [publicado em 1990] tocou um nervo da psique coletiva. Por muito tempo a psicologia estava se focando quase que exclusivamente nas sombras da existência humana. O comportamento de homens e mulheres era visto como determinado pela herança biológica ou por forças externas, misturadas com desejos frustrados. Pouca atenção era dada para os fatores que tornam a vida suportável, divertida, livre. Neste vácuo, Flow trouxe um pouco de luz, uma mensagem de que a vida pode ser excitante, divertida e uma aventura criativa”.
Mas o que é flow?
Em uma entrevista, Mihaly define Flow da seguinte maneira: “Flow pode ser descrito como estar completamente envolvido em uma atividade específica. O ego some. O tempo voa. Cada ação, cada movimento, e pensamento que flui inevitavelmente segue o movimento anterior, como tocar jazz. O seu ser inteiro está envolvido, e você está utilizando as suas habilidades no mais alto nível”.
No livro citado acima, ele reconta como chegou ao conceito de Flow:
“No curso dos meus estudos eu tentei entender exatamente como as pessoas sentiam quando elas mais gostavam de si mesmas e do que estavam fazendo e porquê. Meus primeiros estudos avaliaram centenas de experts – artistas, atletas, músicos, mestres do xadrez, cirurgiões – em outras palavras, pessoas que parecem despender o tempo em atividades que gostavam. Pelos seus relatos do que eles diziam a respeito do que estavam fazendo, eu desenvolvi uma teoria da experiência ótima do ser humano baseada no conceito de flow – fluxo – o estado no qual as pessoas estão tão envolvidas na atividade que nada mais parece importar; esta experiência ela mesma é tão prazerosa que elas a farão ainda que tenha um alto custo, apenas pelo prazer de fazê-la”.
Um exemplo do cinema me parece particularmente signitivo. No filme “Amadeus”, sobre Mozart, há uma cena na qual ele está compondo e enquanto vai escrevendo as notas no papel alguém começa a bater na porta. Ele está tão imerso na experiência de composição que simplesmente não escuta o barulho – muito alto por sinal – da pessoa que está esmurrando a porta.
No vídeo do TED – vou colocar o link no final – Mihaly argumenta que podemos processar cerca de 110 bits de informação por segundo. Para prestar atenção em uma pessoa falando, utilizamos cerca de 60 bits; razão pela qual não conseguimos ouvir com atenção duas pessoas falando ao mesmo tempo porque isso consumiria 120 bits, o que extrapola o que conseguimos atingir.
Esses dados, metáforas de computador, são interessantes para avaliarmos que o estado de flow acontece quando dirigimos toda a nossa capacidade para uma única atividade e por esta atividade ser extremamente divertida, gostosa, prazerosa, criativa, importante simplesmente não há espaço em nosso foco de atenção para nada mais – a não ser aquilo que estamos fazendo.
O mais interessante, em minha opinião, é a avaliação de que nestes momentos de fluxo de atenção intenso, nós até esquecemos quem nós somos, o que fazemos, de onde viemos e para onde vamos. Um exemplo que é simples de entender o estado de fluxo é quando vamos ao cinema e entramos tanto no filme que esquecemos da nossa própria vida.
Ou seja, o estado de fluxo também acontece em experiências cotidianas e banais como assistir TV ou estar navegando em uma rede social. Porém, segundo as pesquisas de Mihaly, as pessoas que conseguem entrar mais sistematicamente no estado de fluxo tendem a ser mais felizes porque sentem que estão se divertindo o tempo todo, tanto quanto produzindo algo de útil, necessário, belo ou justo para o mundo.
Como é o estado de Flow
Antes de concluirmos, gostaria ainda de mostrar 7 características do estado de fluxo:
1) Completamente envolvido no que você está fazendo, está focado, concentrado.
2) Uma sensação de êxtase, de estar fora da realidade cotidiana.
3) Grande sentimento de clareza – saber o que precisa ser feito e quão bem estamos fazendo.
4) Saber que a atividade é possível de ser feita – de que somos capazes de fazê-la.
5) Sentimento de serenidade: nenhuma preocupação sobre si mesmo, e um sentimento de estar além das fronteiras do ego.
6) Perder a noção do tempo (timelessness). Completamente focado no presente, há a sensação de que horas passam como minutos.
7) Motivação intrínseca: o que quer que seja produzido ou produto do estado de flow não interessa tanto quanto a motivação de fazer o que se quer fazer.
Conclusão
Em outros textos aqui no site, voltaremos a falar mais sobre Flow. Dúvidas, sugestões, comentários, por favor, escreva abaixo.
Vídeo do TED – Mihaly Csikszentmihalyi sobre o estado de Flow
Acabei de descobri meu momento Flow. Quando estou na cozinha elaborando uma comida diferente, me sinto uma super Chef. rsrsrs.
Atenção, cuidados, organização, tudo impecável. Esqueço do tempo!
Oi Raquel!
Existem muitos momentos nos quais entramos nesse estado, né?
A Susan Cain, que publicou o livro O poder dos quietos, disse sobre o livro Flow:
“O livro ilumina o tipo de vida que nós deveríamos estar vivendo. Csikszentmihalyi argumenta que um dos estados de ser é o estado de flow – quando você está totalmente engajado em uma atividade, entre o estreito canal entre o tédio e a ansiedade. Eu falo bastante sobre este livro, e tento viver por ele cada vez mais”.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Parabéns pelo site ele é ótimo leio sempre sobre pisicologia no site já que gosto muito e preteno faser pisicologia , o site me ajuda muito em saber mais sobre pisicologia e me fas gostar cada vez mais de pisicologia
olá Felipe, tudo bom? eu estava pesquisando sobre mestrado na católica e fiquei confuso. o mestrado é pago ou ele é uma bolsa que você recebe pra estudar independente da instituição ser pública ou privada. porque pela católica ser privada, eu achava ou acho, que você paga pra fazer o mestrado. ótimo artigo, sempre lendo!
Olá Pedro!
Veja aqui – Quer receber para estudar? Saiba mais sobre Bolsas de Estudo
Seria bom se tudo o que fazemos fosse dessa forma, com total interesse, dedicação, envolvimento, clareza, o que causa apenas um grande bem estar e satisfação, e pudéssemos deixar de lado tudo aquilo que causa procrastinação, falta de interesse, o que se torna até pesado pela dificuldade de ter que fazer. Acredito que se enxergarmos as atividades de uma forma diferente e fizer com boa vontade acaba ficando mais leve, tornando-se assim prazerosa. Mais uma vez esse texto é uma grande reflexão…
Estado Flow….
Entro no estado de flow ao ler seus textos… Perco a noção de tempo no momento que entro aqui. Obrigada por proporcionar tantas informações e estudos ótimos.
Olá Nathalia!
Obrigado!
Fico muito feliz com a sua avaliação! :)
Atenciosamente,
Felipe de Souza