Conheça algumas dicas práticas da psicologia cognitiva para pensar e falar menos. E viver mais.
Olá amigos!
Há um tempo atrás eu publiquei o seguinte texto – Comportamento verbal: pessoas que falam demais – e uma dúvida surgiu: “Como falar menos?” Em princípio, a ideia de falar menos pode ser estranha ou sem propósito, mas como falar e pensar são comportamentos mais próximos do que se imagina, o problema não é tanto a quantidade do que se fala ou pensa e sim a qualidade.
Por exemplo, ontem eu voltei para casa de ônibus. Me sentei no banco da frente de duas amigas que conversavam sobre os seus respectivos trabalhos. Como ainda estou aprendendo a arte de não-ouvir português (já repararam como é difícil não-ouvir a sua língua materna e como é muito mais difícil ouvir uma língua estrangeira que estamos aprendendo?), acabei ouvindo uma parte da conversa. Basicamente, reclamações e mais reclamações e mais reclamações.
Através da psicologia cognitiva, sabemos que as mulheres tem mais probabilidade de ter um quadro depressivo justamente porque elas tem maior tendência à ruminação, ou seja, a tendência de ficar se lembrando do passado e ruminando-o. Para quem não sabe ou não se lembra das aulas de biologias, temos a seguinte definição para ruminação, segundo o dicionário Michaelis:
(Do latim ruminare)
1) Mastigar segunda vez; remoer (os alimentos que voltam do estômago à boca); rumiar.
2) Remascar os alimentos: Os bois ruminavam em modorra.
3 Pensar muito a respeito de (algum plano, problema, projeto etc.); revolver no espírito.
Esta palavra, ruminação, é interessante porque também pode ser utilizada metaforicamente: ficamos mastigando, mastigando, mastigando (uma evento, uma situação passada), mas não conseguimos engoli-lo ou assimilá-lo ou digeri-lo.
As mulheres tem, assim, uma maior probabilidade de desenvolver um quadro depressivo porque tem maior tendência à ficar ruminando o que passou. Não que os homens não tenham, de todo, esta característica. Seria simplista dividir o mundo em dois gêneros separados. Apenas queremos notar aqui, como faz Aaron Beck em seu livro Depressão causas e tratamentos (que estudamos no Curso Psicologia Cognitiva da Depressão) esta maior probabilidade.
Voltando ao tema do nosso texto, podemos passar a perceber que o conteúdo de um pensamento e de uma fala vai afetar o modo como nos sentimos. Se as duas amigas não ficassem focando só nos aspectos negativos de seus trabalhos, estariam mais alegres, certamente.
Contudo, o aspecto mais interessante da quantidade de pensamentos que temos ao longo de um dia (que podem ou não ser expressados oralmente) é que é raro a vinculação com o presente. Os pensamentos, em sua grande maioria – faça o teste em ti mesmo e você verá – estão sempre distantes do momento atual:
– vão para o futuro (preocupações, planos, anseios, medos);
– vão para o passado (lembranças de todos os tipos, especialmente as mais fortes emocionalmente).
Dicas para falar menos
Isto posto, temos uma forma simples de diminuir a quantidade de pensamentos e falas: manter a atenção mais focada no momento presente. Se você não pudesse falar nada sobre o passado e se você não pudesse falar nada sobre o que vai acontecer, sobre o que você falaria?
Esta pergunta é como um koan zen, um enigma e uma brincadeira para paralisar o pensamento: “Se uma árvore cai na floresta e não há ninguém para ver. A queda da árvore produz um som?” ou “Como era o seu rosto antes do seu nascimento?”
Outra forma de diminuir o fluxo de pensamentos é dar um passo para trás. Como nós normalmente assimilamos o que pensamos com quem somos, achamos que o o nosso pensamento nos define. Mas como escreve Jung no Livro Vermelho: Tuas ideias estão tão fora de teu si-mesmo quanto as árvores e os animais estão fora de teu corpo” (JUNG, 2013, p. 167).
Leia também – Os pensamentos fora de ti
Em outras palavras, a não ser que haja uma participação mística, não identificamos objetos externos com o nosso ser. Mas identificamos os nosso pensamentos com a nossa identidade. Separar mais o pensamento e o ser, necessariamente, dá margem para mais silêncio.
“Quem pensa este pensamento que eu estou pensando?”
“Como seria este pensamento pensado por outra pessoa? Como se outra pessoa o estivesse pensando?”
“Como eu posso pensar este pensamento?”
Todas estas dicas aprofundam a introspecção e, consequentemente, a auto-reflexão, a autoconsciência. Por exemplo, se encontramos um pensamento e ele não é útil de nenhuma forma (quase nenhuma reclamação tem utilidade), podemos deixa-lo de lado e não alimentá-lo mais. Ou podemos deixá-lo passar como um nuvem.
Conclusão
Eu comecei falando sobre a tendência à ruminação observada com mais frequência nas mulheres e descrita na psicologia cognitiva. A psicologia cognitiva tem uma linha de desenvolvimento chamada de Mindufulness Psychology, a Psicologia da Atenção Plena.
Saiba mais – Mindfulness Psychology
É curioso notar o diagnóstico que vem sendo dado a torto e a direito de Transtorno de Déficit de Atenção. Digo curioso porque – mesmo sem base científica nenhuma – nunca se questionou como aumentar a atenção. Diz-se que uma criança tem dificuldade de prestar atenção em uma aula. Mas o adulto vai ter a capacidade de ficar 4 horas assistindo uma aula da faculdade? Ou vai querer um intervalo?
Quer dizer, culpa-se e diagnostica-se a falta de atenção, mas não há quase nada na nossa cultura para criar atenção. E é justamente esta a proposta da Mindufulness Psychology, a Psicologia da Atenção Plena.
Um dos primeiros passos é o de voltar a atenção para o momento presente. Isto porque o passado não existe (mais) e o futuro não exite (ainda). Podemos nos perguntar:
“Agora-agora-agora, o que está acontecendo? Agora-agora-agora, há algum problema?”
Ficaremos espantados com o fato de que quase nunca há um problema no presente. Os problemas estão longe: no passado ou no futuro…
Como consequência desta prática de voltar a atenção para o presente, temos naturalmente uma diminuição da quantidade de pensamentos. Afinal, se não voltarmos a nossa atenção para o que aconteceu e para o que pode acontecer, o que acontece?
Vivemos mais. Pensamos e falamos menos.
A minha atividade exige muita atenção e concentração (eu trabalho com análise de processos e atendimento à clientes. (por isso estou sempre na internet) ou seja, eu tenho que ler o dia todo!
Devido ao “volume de conversa” da sala (com 6 jovens entre 23 e 30 anos) tive que pedir ao meu coordenador para mudar de lugar caso contrário eu não ia conseguir desenvolver o trabalho. Tem noção?
Felipe, infelizmente o ambiente parece uma feira livre, as pessoas falam demais, os assuntos vão de “Cidade Alerta à Datena, tem de tudo.
Falar demais é um vício! Falar de menos é pensar com mais responsabilidade.
Mesmo com as dicas do texto, eu não consigo acreditar que uma pessoa que tenha essa postura mude. É um hábito adquirido e consolidado. São assim em casa, no trabalho, na igreja, no shopping enfim…
Bom, para sobreviver a essa realidade eu tenho que abstrair com muita fé! rsrs. Abs,
Completando a ideia: Normalmente as pessoas que falam demais não percebe a postura, será que elas conseguem pensar em falar de menos? tem tratamento pra isso?
Então Raquel,
Para mudar precisa acontecer pelo uma das duas alternativas: a pessoa querer mudar ou o ambiente trazer uma situação na qual a mudança seja imprescindível. De outro modo, segue no automático…
Atenciosamente,
Felipe de Souza
“Se você não pudesse falar nada sobre o passado e se você não pudesse falar nada sobre o que vai acontecer, sobre o que você falaria?” Paralisei nessa………..nossa!!! Excelente texto, Gratidão. Sofro com excesso de pensamentos e esse questionamento conseguiu “me parar” pois não havia nada a falar…nada para pensar. Abraços.
Juliana,
Quando pararmos de voltar a nossa atenção para o passado ou para o futuro, conseguimos voltar para o aqui-agora (e ter mais percepção das sensações) e dos 5 sentidos, não é mesmo?
Também gosto do seguinte conto zen (zen é a palavra japonesa para chan, chinês, e dhyana, sânscrito, que quer dizer contemplação):
Finalmente, após muitos sofrimentos, Shang Kwang foi aceito por Bodhidharma como seu discípulo. O jovem então perguntou ao mestre:
“Eu não tenho paz de espírito. Gostaria de pedir, Senhor, que pacificasse minha mente.“
“Ponha sua mente aqui na minha frente e eu a pacificarei!” replicou Bodhidharma.
“Mas… é impossível que eu faça isso!” afirmou Shang Kwang.
“Então já pacifiquei a sua mente.“, conclui o sábio.
Oiee muito bom parabéns
“Afinal, se não voltarmos a nossa atenção para o que aconteceu e para o que pode acontecer, o que acontece?
Vivemos mais. Pensamos e falamos menos.”
Problematizamos tudo, as vezes parece que não conseguimos ficar sem problemas e quando conseguimos achamos que tem algo errado. Todos deveriam praticar pensar menos para aproveitar o que está ao seu redor.
Muito bem salientado Jefferson!
A necessidade de criar um problema!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Caro Doutor Felipe
Legalmente somos um Estado Democrático de Direito. Propala-se aos quatro cantos que somos democráticos. O senhor não discursa que é democrático. O senhor pratica a democracia. O senhor está popularizando a psicologia. Através de textos de uma clareza solar, mas sem deixarem de ser científicos, leva a Psicologia a leigos e doutos. Seu trabalho é louvável, sua postura, nobilíssima! O senhor já fez por merecer um título honorífico! Não tenho autoridade para concedê-lo. Então, resta-me aplaudi-lo e agradecê-lo. Parabéns pelo ser humano que é! Que tenha uma vida longeva, saudável e plena de realizações em tudo aquilo que o torne ainda melhor que já é.
Olá Luís!
Obrigado!
Desejo-lhe tudo multiplicado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Nossa meus parabéns Felipe, eu sou muito leiga ainda! estou cursando Rh e tenho o objetivo de cursar psicologia. Venho acompanhando seus textos para tirar algumas dúvidas e me aprofundar mais no campo. Sei que estou indo rápido demais me focando nos assuntos errados, deveria extrair mais sobre RH e esse texto me alertou mais sobre mim mesma. Estou focando em problemas futuros, estou mais foca em saber mais sobre uma área futura ao invés de me concentrar no agora! Irei me concentrar mais no agora.
porem nem deixarei de acompanhar seu trabalho, mesmo por que ele irá complementar meus estudo mais pra frente.
então com tudo, meus parabéns novamente! seu trabalho e maravilhoso mesmo.
e continue assim pois você consegue não somente atingir pessoas que já entendem dos assuntos, você consegue atingir pessoas leigas e etc.
att
Camila Ranzulli
Olá Camila!
Obrigado querida!
Fico muito feliz com a sua avaliação de nosso trabalho! :)
Será sempre um prazer contar com sua participação por aqui!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Caro professor Felipe de Souza, li este texto há alguns dias atrás, reconheço que sou uma pessoa um tanto ansiosa então pode imaginar como foi para eu não pensar no futuro? (sim, creio que você possa imaginar). Quanto ao passado é mais fácil, sempre penso “não posso mudar o que passou, então pra quê, pensar tanto no que não posso mudar?” De qualquer maneira vim comentar para testemunhar como esse exercício de se concentrar no agora pode ser eficaz no desempenho das atividades do presente e também como pode diminuir a ansiedade com relação as coisas que ainda estão por vir. Posso me considerar mais felizes sem tantos pensamentos hoje. Mais uma vez obrigada por seu trabalho e dedicação. Sucesso.
Olá Jheyme!
Fico feliz que o texto tenha lhe ajudado neste sentido!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
parabéns, professor Felipe.
Eu falo pouco,sou muita ansiosa.isso e ruim?
Olá Professor Felipe,
Estou correndo atrás do prejuízo e resolvi estudar Psicologia agora na meia idade. Estou impressionado com a sua capacidade de traduzir os conceitos científicos para a aplicação na vida prática das pessoas. Como bem já falou o Luís Monteiro, seus textos são uma forma de democratizar o ensino da ciência psicológica. Penso que essas iniciativas são extremamente válidas nesses tempos em que o homem parece se acercar de sua responsabilidade diante de si mesmo, do mundo que o cerca e dos outros seres. Acho importante que a ciência e os cientistas estejam, de fato, a serviço da humanidade, na mais alta acepção que esse termo pode ter. Espero que pessoas como o senhor, possam continuar oferecendo suas mentes e seus conhecimentos a serviço do bem-estar do próximo.
Olá Sandra!
Bem, se algum sentimento nos incomoda, podemos mudá-lo de diversas formas.
A psicologia é uma delas e existem tipos diferentes de terapia que podem ser utilizados, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá João Bosco!
Obrigado meu caro!
Fico muito feliz com as suas palavras!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Ótimo…me ajudou bastante,quero mudar
Eu estava precisando ler isso. Evitar pensar no passado e focar no presente. A mente fica sadia e a gente nao fala o que nao é necessário. Quantas vezes já me arrependi por ter dito coisas sem refletir antes. Obrigada.
Professor Felipe sou uma pessoa bem extrovertida ….falo bastante as vezes é difícil estar com alguém sem ter um assunto para conversar…sempre gostei de bate papo ficar em silêncio estando entre outras pessoas me deixa angustiada , ultimamente sinto que preciso falar menos mas é complicado preciso de ajuda o que faço….o texto é maravilhoso mas preciso de algo mais pra por em prática como exercícios talvez, seria possível? Grata
Olá Sueli,
Uma boa prática é procurar ficar o máximo em silêncio por um período.
Em um curso que fiz, tínhamos que fazer o exercício de ficar em silêncio por algumas horas. É bastante interessante, porque vemos a nossa compulsão em falar, porque falamos, o que falamos, etc.
Se estiver muito difícil para ti, sugiro a terapia.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Ótimo texto, Professor Felipe!
Sobre os pensamentos no passado, às vezes quando estamos prestes a repetir uma situação do passado que falhamos (ou não obtivemos “aquele” êxito desejado), já iniciamos a do presente com um pé atrás, automaticamente.
Minha pergunta é: como resgatar uma situação passada e usá-la como referência para o que fazer/não fazer para aplicar à situação atual, ao invés de resgatar a informação do passado e ficar remoendo as partes negativas dela (nossa tendência)?
Forte abraço!
Maurilio Viana
Olá Maurilio,
Veja o nosso Curso de PNL. A PNL é ótima para o que você está buscando:
https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/produto/ebook-curso-de-psicologia
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Eu também às vezes falo muito e acabo falando o que não deveria. Vou praticar o falar menos e observar o que acontece. Grata,professor!
Boas dicas, inclusive a que você respondeu em comentário, de ficar calado por algumas horas. Vou tentar hoje, amanhã, depois, preciso mudar e esse meio talvez seja o mais fácil agora. Senão, inicio uma terapia.
Ola sou meia que deixada de lado por motivo de eu falar muito! Eu quero mudar eu posso mudar eu vou mudar!
Ola eu falo muito, muito mesmo, nunca fico em silencio e acabo falando demais, isso tem me incomadado MUITO, quero mudar, preciso mudar. e decidi atraves do maravilhoso texto q nao falo mais sobre o passado e nem sobre o futuro, é um começo…
PARABÉNS MESTRE!
Sou Jademilson Brandão
Marques formado em
psicologia. E achei muito
bom gostaria de manter o
contato.
Incrível, o fato de eu falar demais vem me incomodando bastante e incomodando algumas pessoas pelo o que percebi, então como proposta me pus a tentar falar menos o que é muito complicado já que não gosto daquele silencio em meio a conversa ou uma conversa rasa. Gostei bastante, excelente texto.
Ouvir mais nos faz a ser um aprendiz melhor…pois somos aprendiz eterno da vida. Quem quer saber mais , sempre ouve os palavras dos outros .
Eu também falo muito e sinto que incomodo. O problema é que quando tento falar menos, meu marido acha que estou chateada e fica incomodado com meu silêncio. Preciso mudar. Parece que quando a gente fala muito, nossa fala não tem valor.
Parabéns…matéria muito interessante,muito bacana
..consegue nos fazer parar e refletir..a mudança vai realmente depender de cada um..