Olá amigos!
Este texto é um texto de reflexão sobre psicologia analítica. A psicologia analítica foi criada por C. G. Jung em resposta às críticas feitas à psicanálise. Na verdade, não apenas críticas sobre a importância da sexualidade ou da crítica aos símbolos religiosos (na psique), mas podemos dizer que a psicologia analítica representa uma outra visão sobre a psique. Tão diferente que é difícil comparar com a psicanálise. Em outras palavras, as diferenças são maiores do que as semelhanças, embora a origem seja comum.
Analisando um sonho pessoal meu, cheguei à esta formulação: “Para um introvertido, o Self são os outros” que poderia ser transformada em “Na introversão, o Self são os outros”. Para quem não é da área, ou é da área mas nunca estudou a fundo a teoria junguiana, vou explicar o que pretendo dizer utilizando três conceitos: introversão, individuação e Self.
O que é introversão?
De acordo com o livro Tipos Psicológicos – publicado pela primeira vez em 1920, a introversão tem o seguinte sentido:
“Entendo por introversão o trânsito de libido de fora para dentro. Dessa maneira, fica expressa uma relação negativa entre o sujeito e o objeto. Os indivíduos dotados de uma disposição introvertida pensam, sentem e agem de um modo que deixa claramente transparecer o fato da motivação partir do sujeito, ao passo que ao objeto é atribuído um valor secundário. A introversão pode ter um caráter quer mais intelectual, quer mais sentimental, assim como pode ser caracterizada tanto pela intuição como pela percepção [sensação]. A introversão é ativa quando o sujeito quer criar obstáculos ao objeto, e passiva quando o sujeito não é capaz de reintegrar no objeto a libido que do objeto reflui. Se a introversão for habitual, podemos falar de um tipo introvertido” (JUNG, 1976, p. 528)
Quem não está muito acostumado a ler e a estudar psicologia a fundo pode vir a achar esta citação de Jung um pouco difícil de entender. Mas o que ele quer dizer com introversão é simples. Nós temos a psique e o mundo fora da psique. A libido – energia da psique – pode voltar-se para dentro da psique ou para fora dela, para os objetos no mundo, para as outras pessoas. Uma pessoa introvertida é aquela que possui a tendência de voltar sua energia para dentro, para a própria psique.
É importante notar que voltar-se para dentro não significa uma atitude egoísta ou ruim, no sentido ético, ou prejudicial, no sentido de ser uma doença mental. Na concepção de Jung, existem pessoas que são introvertidas e pessoas que são extrovertidas. Todas elas possuem momentos que estão no seu oposto, ou seja, uma pessoa introvertida pode-se comportar em diversos momentos como um pessoa extrovertida, e vice-versa.
Dizer que a pessoa é introvertida ou extrovertida é dizer apenas a respeito da frequência com que ela utiliza de uma atitude ou de outra.
Veja também – Diferença entre a introversão e a extroversão
Individuação – O objetivo da vida
Individuação é um outro conceito de Jung. É um conceito que pode ser pensado dentro do consultório de psicologia ou na vida em geral. Acima, falamos da psique que, em uma tradução do grego para o português, poderia ser alma. A psique é muito maior do que geralmente imaginamos. Se pensarmos apenas no fato de que passamos boa parte de nossas vidas sonhando, e, no sonho não somos totalmente conscientes e nem os controladores, veremos que a psique é muito maior do que o eu, do que a consciência.
É neste sentido também que falamos de inconsciente. O inconsciente, que é o desconhecido em nós mesmos, é a fonte também do nosso direcionamento. Individuação, então, quer dizer realizar a nossa totalidade psíquica, o nosso Self. Embora pareça uma atividade linda e desejável, é na verdade, um trabalho para uma vida toda.
Pois, se a psique não é a consciência, se a psique não é o eu (com toda a sua tendência de permanecer idêntico, permanecer do seu jeito), e se a individuação é a realização da totalidade, o eu terá que ver tudo o que está dentro que não é ele mesmo. E, os maiores choques são pelo que está dentro de si, mas que é o oposto do eu.
Por exemplo na citação dos Tipos Psicológicos, Jung fala que uma pessoa pode ser introvertida e ter como função principal uma destas quatro funções: pensamento, sentimento, sensação e intuição. Se eu tenho uma função intuitiva forte, terei uma função sensação fraca pois são 2 opostos que se excluem. (Sentimento X pensamento; Intuição X sensação). Ao realizar uma, deixamos de fora a outra.
Bem, se sou intuitivo, portanto, deixo de utilizar a função sensação. Se eu pretendo entrar fundo no processo de individuação (a realização da totalidade), eu terei que me haver com o oposto: a sensação. Do mesmo modo, se eu sou introvertido, terei que ver esta função pouco utilizada, a extroversão. É isto que a totalidade, o Self, exige. É por isso que “para um introvertido o Self são os outros”
Para um introvertido, O Self são os outros
Quem conhece um pouco de filosofia, deve ter se lembrado da famosa frase de Sarte, na peça Huis clos: “O inferno são os outros”. Esta é uma frase que poderia ser dita, tranquilamente, por uma pessoa introvertida. A introversão, ao verter a energia psíquica para dentro, acaba deixando de lado o convívio com as outras pessoas. Em maior ou menor grau, mais cedo ou mais tarde, com mais constância ou menor, a convivência com os outros é sentida como um inferno. Ter que ir a festas, reuniões sociais, falar amenidades em fofocas alheias é realmente muito desprazeroso para um introvertido.
Mas em minha formulação, este contato, esta abertura para as outras pessoas é justamente o que permite à individuação se realizar ao longo da vida. Como diz Fernando Pessoa, “do jeito que for é preciso continuar vivendo” e na introversão – para não se fechar em um solipsismo incapacitador – é necessário estabelecer uma ponte com os demais.
Pela fato de esta ser a última coisa que é desejada, por ser o oposto do que o eu introvertido quer, é o que deve ser feito. Pois a individuação exige compromisso ético. E a ética da psicologia analítica é tomar conta de Si-Mesmo e, ao fazê-lo, estar disponível para os outros.
Em síntese, o Self é a totalidade psíquica. E o eu é apenas uma parte desta totalidade. Para chegar à sua totalidade, o eu tem que enfrentar diversas resistências e encontrar diversas vezes os seus opostos. Para um introvertido, a oposição extrema é o contato com os outros. Portanto, para chegar ao seu próprio Self, ele tem que alimentar constantemente o convívio social e fazê-lo com compromisso. Senão o risco é o de matar o próprio Self…
Excelente artigo!! Um ótimo despertar numa segunda-feira rsrsrs.. Gracias!
Olá Alcinda!
Obrigado por comentar!
Fico feliz que tenha gostado do texto!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Nossa, esse artigo me faz refletir muitas coisas, ele realmente provoca essa vontade de reflexão do próprio eu enquanto pessoa. Muito bom parabéns…
Olá Gabriel,
Obrigado meu caro!
Fico feliz de receber seu comentário por aqui!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Gostei do artigo!
Por favor, me tire uma dúvida:
Se uma pessoa preferir ficar sozinha que se relacionar porque não se identifica com a maioria das pessoas, e também pra não sofrer tanto o estresse que o convívio social traz, mas se sentir mal com o isolamento, saber que um dia encontrará pessoas que pensam parecido com ela, isso é um problema?
Olá Bruna,
Bem, dizer o que é problema e o que não é problema, o que é normal e o que não é normal é extremamente complicado.
Digamos que cada um tem a sua individualidade, e em sua individualidade, tem a sua norma. Como se diz: “o que é normal para para uma aranha é um caos para a borboleta”.
Procure encontrar o seu caminho, ok?
Levando em conta também a questão do equilíbrio, ou seja, nem muito para um lado (introversão) nem muito para o outro (extroversão).
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá, Felipe! Excelente artigo! Sou uma INFJ dos tipos Junguianos e uma estudante e interessada na introversão. este artigo me caiu como uma luva. Se tiver outros artigos anteriores a este sobre o assunto, eu gostaria de saber. Grata.