Hoje eu queria uma festa. Gente falando, gente dançando, gente bebendo. Pessoas por todos os lados. Cada um com seu desejo, consciente ou não. Festas são encontros marcados com o que há de mais pulsante dentro da gente. Com aquilo que grita no fundo da alma querendo sair e a gente nem sabe dar nome. Uma esperança de sabe-se lá o quê. Quem vai a uma festa sempre espera. Nem tanto das festas de família, aquelas com convites, presentes e parentes. Festas de hora marcada. Mas muito das festas que a gente inventa. Aquelas noites em que a gente decide se encontrar com o que há de mais verdadeiro em nós. E para isso não tem hora.

É uma vontade de ir. De descobrir, de despertar sensações adormecidas. Uma crença de que o mundo é um lugar bem mais divertido, mais mágico, mais envolvente. Um baú de surpresas prontas a se esparramarem pelo chão, como caixa de brinquedos. O corpo imagina as possibilidades, a mente desenha as façanhas, e cedendo a esse entusiasmo súbito, vestimos a melhor roupa, e saímos. Vamos atrás da nossa festa.

Mas é preciso ter olhos para encontrar do lado de fora, a festa que começamos por dentro. É preciso não se deixar contaminar pela crueza do mundo real. Talvez seja essa a função da bebida nas prévias noturnas: manter uma atmosfera onírica. Fazer com que a realidade e as nossas pinturas internas se confundam e a gente não consiga distinguir onde começa uma e termina a outra. Algo como um sonho. Algo como dar vida e voz ao nosso mundo secreto, e deixá-lo misturar-se despudoradamente a tudo ao redor.

É preciso ter olhos de Cinderela: ver uma carruagem onde há apenas abóboras, cavalos no lugar de ratos, beleza e magia no lugar onde há gente comum e lugares triviais. Porque o encanto das coisas quase nunca parte delas mesmas, mas da forma como a olhamos. Para entender, basta lembrar-se das coisas e pessoas que você amou, e já não ama mais. Porque será que o encanto que havia ali acabou-se? Eles mudaram ou foi você que mudou o seu olhar?

Por isso, nesses dias de festa, o mais importante não é vestir a melhor roupa, mas sim a melhor fantasia. São elas, as fantasias, que transformam coisas comuns em coisas surpreendentes. São elas que nos fazem enxergar um algo a mais em nós e nos outros, é ela que faz com que a gente se apaixone. A fantasia é uma forma muito pessoal de espalhar encantos. É como uma bruxaria capaz de mudar a natureza das coisas.

Então eu sugiro: Nas noites em que você decidir que quer viver uma festa, que quer provar o gostinho do mundo e mergulhar na sua própria fantasia, pegue sua varinha de condão e trate de espalhar feitiços por aí. Acredite: você tornará sua vida mais encantada a partir de seu próprio encanto.

Texto: Kattlyn Pereira

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