A sociedade atual evolui muito tecnologicamente a cada dia que passa. A economia, amplamente estimulada pela sociedade capitalista, está cada vez mais no centro das atenções. Com isso, o consumismo cresce com os passar dos dias, aumentando de forma desmoderadamente, gerando um sistema de valores superficiais, aonde quem possui mais tem maior importância social.

Em consequência disso, cria-se uma despersonalização dos seres humanos, fazendo com que fiquem cada vez mais autômatos e menos espontâneos. O importante deixa de ser quem ele é, passando a ser quem os outros acham que ele se parece, ou seja, ele passa a se identificar excessivamente com sua persona, deixando de lado seu estado in natura, de sua essência.


Esse formato social cria prejuizos na vida amorosa de tais pessoas. O consumismo exacerbado as leva para um mesmo tipo de relação interpessoal, igualmente, superficial e consumista. Atualmente, a moda é se apaixonar sem se apegar muito, pois o laço, quando desfeito, machuca e abre feridas, como as descritas por Freud. As pessoas, projetam partes de si mesmas nas outras e se apaixonam perdidamente, como se tivessem encontrado o tal paraíso perdido por Adão e Eva, ou o felizes para sempre dos contos de fadas.


Entretanto, tal qual o mito de Tristão e Isolda, em que ambos fogem apaixonados para a floresta com o intuito de fugir da obrigação do casamento dela com o rei e poderem viver felizes, esse estado inebriante de paixão e perfeição, sempre chega ao fim. E no fim do conto de fadas, o que resta é a pessoa se dar conta de que tudo que ela viveu foi uma ilusão, não foi a realidade concreta, pois não é possível viver eternamente na floresta. A vida exige muito mais do que isso.


A paixão ocorre através da projeção do arquétipo contrassexual, presente em cada um dos indivíduos, o que faz com que o objeto fruto de tal sentimento receba características divinas de perfeição. Anima/Animus, estão presentes na psique de cada um, sendo vivenciadas a partir das relações interpessoais. Projetá-los não é um equívoco, pois é algo natural. Entretanto, manter um relacionamento com o outro sendo uma personificação exata de parte inconsciente do próprio indivíduo faz com que tal indivíduo se relacione consigo mesmo, gerando um relacionamento irreal, como Pigmaleão que se apaixona pela estátua de marfim de uma mulher esculpida por ele mesmo.


Assim, se apaixonar por alguém e vê-lo como uma perfeição é algo que acontece e sempre irá ocorrer, além de ser uma experiência maravilhosa, mas chega ao fim, como o estado inbriente da paixão entre Tristão e Isolda. No final do conto de fadas, faz-se necessária a percepção de que, apesar de ter sido excluído do paraíso, esse novo mundo, real, aonde o outro não é mais perfeito, também possui coisas de natureza positiva. O outro, objeto da paixão, deixa de ser perfeito, para ser mais perfeito ainda, pois não existe perfeição maior do que viver algo no mundo real, mesmo que esse algo possua defeitos.

Texto: Leonardo Netto