A psicologia infantil, como o próprio nome já o diz, trata da psicologia daqueles que estão na fase conhecida como infância.


Podemos dividir esta fase em: primeira infância (até os 6 anos) e segunda infância (até por volta dos 10 anos, quando inicia-se a pré-adolescência).


Todos já devem ter visto o programa chamado Super Nanny – que é um programa formatado e que possui versões em outros países, assim como acontece com programas da TV como Ídolos ou Big Brother. Vi a versão inglesa e o molde e formato é exatamente o mesmo do que passa aqui.


O fato de este programa ter uma alta audiência (e passar em vários países) indica que há uma grande preocupação por parte dos pais sobre como criar os seus filhos. Livros como  Quem ama educa, de Içami Tiba, também nos dizem, com seu sucesso, que esta preocupação encontra-se presente nos lares brasileiros.


O método de mudança de comportamento preconizado pelas Super Nannys do mundo é um método, entretanto, rudimentar e ineficaz a longo prazo. Criar um filho não é a mesma coisa do que comprar um produto no shopping center, um produto que vem industrializado e pré-fabricado.


(Além disso, o método utilizado – baseado toscamente na teoria comportamental por ser muito mal entendida, com seus métodos de punição e reforçamento – evidentemente desconsidera a verdadeira análise funcional do comportamento, em que o reforço é apenas uma função das consequências posteriores, bem como das condições anteriores da emissão do comportamento. Reforço não é algo bom, nem punição algo mal. Reforço é apenas o que faz com que o comportamento aumenta a sua frequência em emissões posteriores…).


O programa, que é divido em duas partes, mostra que depois que a Super Nanny muda a rotina da família (o fato da insistência na rotina é uma questão moral que pode e deve ser questionada), a família volta a ser o que era antes, quase que instantaneamente.


Por isso mesmo, logo em seguida a Super Nanny volta para arrumar de novo a família. Mas desta vez, logo no fim do programa, tudo fica bem. Tudo muda como que miraculosamente. Devemos, é claro, desconfiar deste fato.


A razão é simples: não existe uma regra que permita a um pai ou mãe criar bem o seus filhos. Vender esta idéia é algo extremamente complicado e, no fim das contas, falso.


Se cada um apresenta uma individualidade única, como posso criar uma regra de comportamento rígida para as crianças? Se uma criança, mesmo no seu primeiro ano de vida, já apresenta traços de personalidade que dizem quem ela será no futuro, qual o sentido de tentar fazer com que a criança siga apenas o que queremos para ela?


A teoria sistêmica, que analisa a família como um todo, nos ajuda a entender que o que se tenta com o programa (o controle excessivo das rotinas e práticas) é exatamente o que irá fazer com que tudo se desmorone novamente. Isto porque o controle de uma pessoa da família, gera exatamente o que busca mudar, ou seja, o controle piora a situação ao invés de melhorá-la.


Por isto mesmo, faz-se muito mais razoável a ideia da aceitação rogeriana. Somente através da aceitação do outro (e do entendimento verdadeiro de suas razões) é que podemos modificar o comportamento e a vida das pessoas para melhor.


O que é muito diferente de engolir goela a baixo um roteiro de um programa de televisão.


PS: Quero deixar claro, antes de finalizar este texto, que não estou criticando a teoria comportamental, a análise funcional do comportamento. Muito pelo contrário, sei muito bem dos resultados eficientes desta terapia.


Critico o fato de esta análise ser muito mal incorporada no programa. Fica óbvio que os roteiristas e diretores do programa, assim como a própria Super Nanny, nunca leram uma página de Skinner.