Em alemão, a língua na qual Freud produziu sua obra, a palavra desejo é Wunsch. Em inglês, wish. Em português, cito abaixo a raiz latina da palavra usando o texto de Marilena Chuaí:


“A palavra desejo tem bela origem. Deriva-se do verbo desidero que, por sua vez, deriva-se do substantivo sidus (mais usado no plural, sidera), significando a figura formada por um conjunto de estrelas, isto é, as constelações. Porque se diz dos astros, sidera é empregado como palavra de louvor – o alto – e, na teologia astral ou astrologia, é usado para indicar a influência dos astros sobre o destino humano, donde sideratus, siderado: atingido e fulminado por um astro. De sidera, vem considerare – examinar com cuidado, respeito e veneração – e desiderare – cessar de olhar (os astros), deixar de ver (os astros).” 

Deste modo, o desejo aponta para a falta de um ponto de referência, aponta para a insatisfação muito mais do que para a satisfação. Um desejo satisfeito é algo quase impossível, de acordo com a psicanálise. A experiência de satisfação está desde sempre perdida. A ausência é a chave para compreensão do desejo. 


Por exemplo: depois de meses, ou mesmo anos, sonhando com um determinado garoto, uma adolescente consegue ficar com ele. Mas aí, o desejo que foi satisfeito morre. E não há mais graça alguma. Não é que o desejo morra, ele se transforma e renasce em outro lugar, em outro desejo ou em um desejo por um outro alguém. 

O desejo é, desde o início, uma falta que remete à uma experiência de satisfação imaginada. O desejo está intimamente ligado à fantasia. A fantasia estabelece uma ponte – imaginada – para a satisfação da falta. Entretanto, depois de elaborar a fantasia, na clínica psicanalítica, o que se nota é que não há nada…

Saber lidar com este vazio (da falta e do desejo, da satisfação e da insatisfação, do imaginado e do fantasiado) é o caminho próprio da psicanálise, considerar o desejo (con+sidera…com as estrelas) e desejar um desejo (deixar as estrelas…).

Para saber mais: Laços de desejo, de Marilena Chaui, que está no livro O Desejo,  Editora Companhia das Letras. 


FELIPE DE SOUZA