Para o Círculo de Viena, a filosofia passa a ser vista como uma análise lógica e epistemológica da ciência

O ponto básico da proposta filosófica do Círculo de Viena era a tentativa de desvincular a Filosofia da Ciência de uma filosofia Idealista e irracionalista. A primeira luta que foi travada nesse sentido foi a da compreensão do papel da lógica no pensamento científico. Conforme a visão do Círculo de Viena, uma nova teoria científica necessitava ser erigida a fim de viabilizar que a ciência empírica se constituísse, mesmo com os empecilhos advindos da lógica formal. Os objetos desta nova teoria científica são observáveis, verificáveis no mundo da experiência.

O Círculo assumiu uma visão cientificista do conhecimento, o que acarreta a radical rejeição das proposições metafísicas tanto no âmbito científico quanto filosófico, devido ao fato de as conceberem como destituídas de sentido. O Verificacionismo preconiza que se exclua do campo epistemológico e científico qualquer proposição que tome por base conceitos que não podem ser verificados empiricamente, isto é, que não se dão na realidade. Portanto, o princípio de verificação afirma que a proposição sintética só tem significação se seus termos podem ser reduzidos a conteúdos observacionais, o que aponta para as condições nas quais uma proposição poderá ser tomada como empiricamente significante. Este princípio vigente no Círculo de Viena aponta para a tentativa de desvincular a pesquisa científica aplicada das teorizações e problemas da ciência pura – composta por problemas teóricos e abstratos.

A distinção entre os conhecimentos analíticos e conhecimentos sintéticos atrela-se ao campo da lógica e da teoria do conhecimento. As proposições assim também são classificadas, isto é, podem ser analíticas ou sintéticas: as proposições analíticas são as que o próprio significado é suficiente para a determinação de seu valor de verdade, são entendidas como necessidades conceituais que podem ser demonstradas de maneira conclusiva; já as proposições sintéticas não tem seus significados como suficientes para determinar seu valor de verdade, o que exige a verificação dos seus conteúdos através da experimentação. Todavia, as proposições sintéticas a priori formuladas por Kant, são excluídas.

Como consequência destas diferenciações, temos a distinção entre as ciências puras(ou formais) e ciências aplicadas. As primeiras podem ter como representantes a filosofia, a matemática e a lógica. Suas proposições são analíticas devido ao fato de serem a priori, independentes da experiência e da observação, seus valores de verdade independem da verificabilidade empirista, porém, dependendo somente das relações entre premissas e conclusões. São, pois, verdades lógicas e seus problemas têm de ser resolvidos a partir de si mesmos, já que não se pode recorrer à experiência. O desenvolvimento deste tipo de ciência relaciona-se ao desenvolvimento do raciocínio lógico.

Não obstante, as ciências aplicadas ligam-se às observações empíricas, sendo, pois, suas proposições sintéticas, as quais ampliam os dados do conhecimento através de seu contato com o mundo. A nova informação é acrescida ao objeto e extraída da experiência; de modo que o valor de verdade da proposição tem seu conteúdo cognitivo alcançado por testes seguidos, os quais visam demonstrar, por meio da experiência, que aquele (conteúdo) é o que se evidencia na proposição. Daqui é oriundo o critério de significação para proposições significativas – entendido como um modo de ultrapassar os pensamentos analíticos que dominavam até então.

Os integrantes do Círculo visavam discernir o raciocínio formal a priori – expressos em verdades analíticas ou em contradições – do raciocínio sintético a posteriori – o qual se expõe em verdades sintéticas ou em falsidades. A contradição é o oposto de uma verdade analítica, posto que estas últimas são necessárias e, assim, devem seguir o princípio de não-contradição. Já a falsidade é o oposto de uma verdade sintética, sem que isso acarreta uma contradição, o que se explica dada a sua contingência. As verdades sintéticas ou são verdadeiras ou são falsas, o que pode ser verificado no mundo. Os problemas advindos com as observações e experimentações das ciências aplicáveis encontram solução (exclusão da hipótese não verificável, por exemplo). Contudo, os paradoxos formais abarcam problemas da razão e não encontram soluções definitivas.

A finalidade última dos cientistas e pensadores do Círculo é, pois, a total separação dos campos, bem como a exclusão da metafísica como parte constituinte da filosofia: os problemas formais devem ser restritos aos teóricos, enquanto as ciências aplicáveis devem poder avançar, no âmbito empírico, através de suas proposições sintéticas.

Conclui-se, pois, que o único conhecimento seguro é obtido com as ciências aplicáveis, empíricas, com seus objetos observáveis e com suas proposições sintéticas verificáveis. Deixa de ser uma certeza o que não pode ser verificado, de modo rigoroso, através da experiência.

A filosofia passa a ser vista como uma análise lógica e epistemológica da ciência, o que se justifica pela clarificação lógica dos conceitos como fornecedora de uma possibilidade de variedades conceituais à ciência.

O fundamento epistemológico deste neopositivismo propõe que a ciência deve limitar-se a uma descrição exata dos dados imediatos da percepção. Logo, a função da ciência é compreendida como a descrição dos objetos reais do mundo, de elementos considerados em relação à experiência e a relação entre os mesmos (elementos).

A origem do debate acerca da distinção entre analítico e sintético está na tentativa dos cientistas do círculo de construírem uma metalinguagem científica, onde não houvesse ambiguidade. Assim, as regras desta linguagem seriam formadas segundo as leis da experiência. A definição dos termos componentes desta linguagem é tarefa crucial, o que acarreta automaticamente a eliminação de pressupostos metafísicos das ciências ao eliminar a possível ambivalência dos termos definidos.

Fica claro, portanto, que as estruturas empíricas das quais tratam os cientistas do Círculo relacionam-se ao conhecimento das ciências aplicáveis, isto é, aos critérios de verificabilidade, certeza, existência do objeto no mundo que pode ser provada por experimentos sucessivos. O conhecimento neste caso é, assim, a posteriori e suas proposições permitem o avanço do conhecimento científico, já que ampliam o conhecimento do objeto através de dados obtidos pela observação empírica.

Por sua vez, a lógica formal lida com especulações, com problemas insolúveis e suas proposições são elaboradas a priori, as quais só são atingidas pela utilização do pensamento abstrato, sendo relativas à definição do conceito e não auxiliando no progresso das ciências empíricas por não expandir o conhecimento acerca do objeto ou por não permitir reformulação do pensamento. Estas são, pois, as principais diferenças expostas pelos neopositivistas do Círculo com relação às estruturas empíricas e a lógica formal.

Michelle Vaz é graduanda em Filosofia