Olá amigos!
De tempos em tempos aqui no site eu venho falando da Psicologia da Atenção Plena, a Mindfulness Psychology, que utiliza técnicas de meditação para manter a atenção focada no momento presente. Viver no momento presente não quer dizer viver o momento (hedonisticamente, apenas o prazer). Significa deixar o passado no passado e o futuro no futuro. Simples não é? Mas não tanto.
Já adianto que este é um texto de reflexão, a partir do que tenho estudado e pensado sobre o tema.
Autoconsciência
Qualquer um que tenha procurado se conhecer um pouco mais, terá tentado aumentar a sua autoconsciência. E isto é possível de várias formas. Enquanto um vai fundo no treinamento da consciência corporal (esportes, yoga, pilates), outros fazem exercícios de respiração para aumentar a vitalidade e, outros ainda, buscam investigar o que sentem (através da arte, da música, da dança) ou o que pensam (estudando teorias e conceitos).
Seja em que nível for, a autoconsciência – saber quem se é – implica em um retorno para o agora. Claro que a tendência é voltar-se para o passado a fim de procurar por certos traços, pela história, pela genética como informações úteis ou ficar dando voltas sobre o que ainda é necessário realizar no futuro. Entretanto, como bem salientou certa pessoa sábia para mim, o passado que queremos resgatar e o futuro que almejamos só existe agora, no presente.
Não é tão óbvio como poderíamos pensar a princípio. Um exemplo: se abrirmos um caderno ou diário de alguns anos atrás, veremos que o eu que ali escreveu é diferente do eu atual. Este passado existe objetivamente (no caderno ou diário), mas só existe através da consciência existente no presente.
O caderno ficaria jogado em um canto e o seu conteúdo permaneceria escondido, a não ser que o eu escritor o buscasse, de novo, hoje.
Engraçado que este é um problema epistemológico importante para a disciplina acadêmica da história. O passado, todo o passado, embora objetivo de certo modo, só é visto através do presente. E, de novo e de novo, corre-se o risco de ser anacrônico.
Mas voltemos ao nosso tema. Se no passado houve uma experiência difícil, houve uma experiência difícil. Existe algum sentido em ficar remoendo o que passou?
Alguns dizem que sim. Que é importante. A historia como magistra vitae, como mestre da vida, como fonte de sabedoria para criar o futuro, não errar os mesmos erros, mas sim produzir acertos. É uma perspectiva interessante, porém esbarra no fato de que o futuro é totalmente incerto. Incerto no sentido de que muitas outras condições e circunstâncias podem se dar e o que era impossível tem a potência de tornar-se possível, entre outras mudanças imagináveis e inimagináveis.
Por exemplo, quando fui fazer vestibular fiquei entre psicologia e jornalismo. Psicologia porque gosto de estudar psicologia e jornalismo porque gosto de escrever. Naquele momento, 1999, embora fosse uma possibilidade a se considerar, ainda não havia a internet como existe hoje.
Portanto, naquele passado (1999) só podia esperar de utilizar minha vontade de escrever para escrever para jornais, quiçá revistas e livros. A internet não estava no horizonte. Esta mudança (a internet) mudou tudo o que eu pensava para o meu futuro.
A importância do passado
De certa forma, é espantoso perceber que não conhecemos nada, praticamente, sobre o nosso passado. Isto nem digo sobre o passado coletivo (o que era a humanidade há 10.000 anos atrás), mas do nosso passado relativamente recente, da nossa família (quem foram os seus tataravôs?).
Contudo, por outro lado, quando entramos na história individual, não conseguimos encontrar muita utilidade no passado. De que vão nos servir mágoas, brigas, descontentamentos, erros, mentiras, falhas, etc? Não só os momentos que sofremos… como aqueles em que fizemos sofrer?
Não é uma questão sem sentido. Um vai responder que sem o passado não temos história e sem história não temos identidade. Porém, porque devemos ser sempre do mesmo modo?
Conheço pessoas que se arrependem de que não fizeram a faculdade desejada com 20 e poucos anos. E passam os próximos 20 anos se lamentando que não fizeram a faculdade dos seus sonhos, quando tinham 20 e poucos anos…
Nos próximos anos, de que vai adiantar o arrependimento de não ter feito? Te digo: nada. A não ser que o arrependimento se transforme em vontade de fazer. De fazer diferente. Senão, é só um pensamento negativo vagando por uma mente triste com o que não fez…
Na outra ponta da linha do tempo, os sonhos, desejos, fantasias sobre o futuro também são apenas sonhos, desejos, fantasias a não ser que sejam realizados em algum momento do presente.
No início de um novo ano, as pessoas criam resoluções, anotam promessas, fazem pedidos. Mas não realizam porque colocam a realização em uma data futura. Sabe o regime que vai começar na próxima segunda? Então, sempre vai haver uma próxima segunda para ser o começo do regime…
Aliás, esta é uma boa tática para mudar hábitos negativos. Protelar. Se você quer, por exemplo, parar de fumar, faça isso: deixe para fumar depois. Como o depois (o futuro) nunca chega (na medida em que existe sempre um futuro do futuro que está por se transformar em presente), o que deve ser realizado – no caso fumar – não será realizado nunca.
Conclusão
Como disse no começo este é um texto de reflexão. Um pouco do que venho pensando sobre a Psicologia da Atenção Plena. Como só podemos estar com a atenção plena no presente, começam a aparecer certos insights sobre o significado do passado e do futuro.
No passado, quando pensei de escrever o texto, havia pensado de falar mais sobre arrependimentos. Acabei falando menos do que tinha planejando. Como a vida é o que acontece enquanto você faz planos (John Lennon), a vida aconteceu e não é um problema.
Quando passado e futuro deixam de aparecer tanto no presente, temos mais tempo para viver. Cada segundo é como uma nova oportunidade para começar de novo. Fazer diferente. Fazer melhor.
Como o lema do AA, só por hoje. Só por hoje porque só existe o hoje. Não adianta parar (com qualquer coisa negativa) amanhã. Não adianta amanhã se arrepender do que se fez ontem. Só hoje é possível mudar. Melhor ainda: só agora.
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Olá Cathia,
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Atenciosamente,
Felipe de Souza
Boa matéria!
Procuro mudar a cada dia e esquecer meu passado, não volta mais. De quando erá casado e feliz, saudades e muita tristeza em relembrar estes tempos, chorar todos os dias, sonhar todos dias, mas não adianta. Preciso reconhecer o presente e agora como certo.
Seus texto sao incrivel, adoro todos. Sempre penso em comentar, so que sempre deixo para amanha, e isso nunca acontence…com a correria da vida a gente deixa de reconhecer grandes profissionais como voce , adimiro muito seu trabalho, meus parabens! Obrigado por dividir seus conhecimento.
Olá Felipe ,mais um ótimo texto de reflexão ,que veio na hora certa,me ajudou muito.
Show, adorei seu site, tenho 17 anos e mês que vem começo minha faculdade de psicologia, muitos falam que não compensa fazer pois a faixa salarial é baixa, mas quero fazer porque gosto muito de ler, ajudar as pessoas, aprender… Sobre o texto, está de parabéns mesmo, ficou ótimo!!! Viver o presente é o que há, mágoas e erros do passado não vão levar a nada, a não ser a tristeza talvez. O que você tiver de fazer tem que fazer agora, no presente, pois pro dia de amanhã também haverá futuro, e se você só adiar seus planos e não colocar em prática nenhum deles no presente, eles se tornarão apenas mais um sonho, um desejo.
Gostei do tema, da organização e da análise. Excelente! Seguindo a ideia, para construirmos algo – precisamos manter o foco! Abs,
Bom dia,
Gosto muito dos seus textos, são fantásticos! Tenho hábitos que parecem normais, mas lendo seus textos, começo a pensar em como são nocivos para mim. Um abraço.
Olá Charles, obrigado!
Agradeço por comentar!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Obrigado Cris!
Será sempre um prazer contar com sua participação por aqui!
Olá Valéria! Fico muito feliz que tenha gostado!
Olá Lucas!
Obrigado!
Volte depois para nos contar como está sendo a faculdade, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Professor, conhece a obra “Da utilidade e do inconveniente da História para a vida “Nietzsche? Creio que há ideias q associam com as suas…
Elisangela
Isso mesmo Raquel, planos são importantes, mas não é curioso o fato de que só podemos realizar no presente?
Legal Gabriela! Fico muito feliz que tenha gostado!
Olá Elisangela!
Não conheço! Mas sei que Nietzsche influenciou bastante na epistemologia da história.
Obrigado pela sugestão!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe!
É impressionante a paz e a leveza depois que conseguimos deixar o passado no passado. É claro, aprender com os erros, aprimorar ainda mais os acertos e focar no presente.
Bjo grande!
Verdade Marcela!
Obrigado por comentar!
Gostei muito do texto.
Existe a oração da serenidade que, para mim, resume bem a parte que fala da importância do passado.
Oração,
Deus conceda-me serenidade para aceitar as coisas que não posso modificar,
coragem para modificar aquelas que eu posso
e sabedoria para reconhecer a diferença.
Só por hoje, funciona!
Só por hoje vem funcionando há 1 ano, 5 meses e 18 dias, mas é só por hoje!
Obrigado João!
Sou uma dessas que reclama de não ter feito a faculdade dos sonhos com 20 e poucos anos, agora com 28 vou pro 2° período, ainda vai demorar pra me formar, fazer todos as especializações que quero e poderia ter feito antes. Mas é difícil viu, um exercício diário de não se cobrar, de não lamentar o tempo perdido. Interessante que no final você cita o AA, e é bem essa minha linha de pensamento: só por hoje, vivendo um dia de cada vez!!! Assim sigo, estudando e respirando fundo quando a culpa bate forte por não ter feito a escolha certa quando mais jovem. Valeu a reflexão Felipe! Grande abraço.
Olá Juliana!
Esse sentimento, quando vem, vem de uma comparação.
Se todos começassem a fazer faculdade com 40… seria diferente… assim como quem começa a fazer com 20 pode começar a se sentir do mesmo jeito se pensar que muitos começam (em outros países) com 16…
https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/2014/07/por-que-voce-deve-parar-de-se-comparar-com-os-outros.html
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Felipe,
Gosto muito de ler os seus textos, pois são bem escritos e sempre me leva a reflexoes, por isto, só por hoje… estou ousando.um grande abraço