Conheça a definição de caráter para Alfred Adler, o criador da Psicologia Individual e as diferenças entre otimismo e pessimismo. 

Olá amigos!

Continuando o nosso Curso Grátis sobre a Psicologia Individual de Adler, hoje nós veremos as concepção dele sobre o caráter, no capítulo intitulado: “A Ciência do Caráter”. Especificamente, falaremos de dois tipos de caráter descritos pelo autor: o otimismo e o pessimismo.

Definição de Caráter

Adler define do seguinte modo o que entende por caráter:

“Chamamos traço de caráter todo modo especial de expressão, pelo qual o indivíduo tenta adaptar-se ao mundo onde vive (…) O caráter é uma atitude psíquica resultante do modo por que o indivíduo se defronta com o meio onde exerce a sua atividade. É o padrão de procedimento que condiciona, dentro do senso de sociabilidade do indivíduo, a sua luta para adquirir consideração e predomínio social” (ADLER, p. 161).

Assim, caráter é o padrão de conduta que vai sendo criado a partir do contato do indivíduo com o seu meio, desde a sua primeira infância. Adler critica as teses de que o caráter é hereditário ou biológico (temperamento ou endocrinológico). Para ele, quando notamos o mesmo traço de caráter em diversos membros de uma família, estamos apenas notando que aquele traço de caráter, em especial, foi imitado pelos mais novos como uma forma de se adaptar à vida:

“Os traços de caráter não são herdados, como muitos supõe; não são congênitos. Devem ser considerados como modelos, planos de existência, que permitem ao ser humano viver a sua vida e manifestar a sua personalidade em todas as situações, sem a necessidade de conscientemente refletir a respeito” (ADLER, p. 162).

Exemplos de traços de caráter

Como sempre, facilita entender o conceito de caráter e traços de caráter a partir de exemplos. Antes de entrarmos nos tipos otimistas e tipos pessimistas, é interessante também vermos outras possibilidades.

Adler escreve: “Uma criança, por exemplo, não nasce preguiçosa; faz-se preguiçosa porque a preguiça lhe parece o meio mais adequado para tornar a vida mais fácil. ao mesmo tempo que lhe permite manter seu senso de importância” (ADLER, p. 162).

Com esta citação, podemos ver que Adler refuta a ideia de que o caráter venha com o nascimento. Ele coloca a ênfase na relação entre o indivíduo e o seu meio. Como o ambientalismo é a sua tese central e como a forma como o sujeito enfrenta o ambiente aonde nasce é de suma importância, temos novamente os dois aspectos sem os quais não podemos compreender a sua Psicologia Individual:

– é fundamental compreender o meio no qual o indivíduo nasce;

– é fundamental compreender de que jeito o indivíduo procura dominar o seu meio (senso de importância e complexo de inferioridade ou superioridade).

Nas palavras do autor:

“Toda criança se defronta com tantos obstáculos na vida que nenhuma cresce sem deixar de lutar para obter a sua parcela de importância. As formas que pode tomar esta luta são variáveis, mas cada ser humano procura resolver, de um modo individual, o problema de sua importância pessoal” (ADLER, p. 164).

E, mais a frente:

“O senso de sociabilidade é, depois da luta pela dominação, o fator mais importante na formação do caráter” (ADLER, p. 165).

O Otimismo e o Pessimismo como desenvolvimentos do Caráter

Para Adler, podemos compreender o caráter a partir de certas características facilmente visíveis. Na medida em que o caráter se desenvolve desde a infância – sempre levando em conta a tendência humana à socialização e a tendência à dominação – as consequências que o meio pode impor e as reações individuais vão tecendo, criando e formando o padrão de comportamento.

Assim, dada a tendência de todo ser humano de tentar dominar, uma criança que não encontre muitos obstáculos pode ter uma visão mais otimista da vida:

“Na ausência desses obstáculos a sua atitude inicial não se perturbará; ela investirá animosamente contra as suas dificuldades; mas em face de obstáculos sérios a criança se transmuda, teremos diante de nós não mais a criança franca e otimista, mas a criança que aprendeu que o fogo queima, e que existem adversários de quem se deve acautelar. Então, procurará atingir seu alvo de impor-se à atenção e conquistar o poder por meio de tortuosidades psíquicas” (ADLER, p. 171).

Na sequência, Adler define as diferenças fundamentais entre o caráter de uma pessoa otimista e de um pessimista:

Otimistas: “Estes arcam corajosamente com todos os obstáculos, não os tomando muito a sério. Tem confiança em si mesmos e assumem com relativa facilidade uma atitude feliz. Não existem muita coisa da vida porque se tem em grande conta, não se considerando esquecidos nem insignificantes. São, por isso, capazes de superar os obstáculos da vida mais facilmente do que as outras pessoas, que apenas os encaram como outras tantas justificativas de sua fraqueza e inadaptação. Nas situações mais difíceis os otimistas se conservam calmos, convencidos de que seus erros poderão ser sempre retificados” (ADLER, p. 173).

Pessimistas: “De tipo completamente diverso são os pessimistas. É com eles que surgem, para nós, os máximos problemas da educação. São indivíduos que adquiririam um complexo de inferioridade, em resultado de fatos e impressões de sua infância, e para quem toda espécie de embaraços concorreu para vigorizar-lhes o sentimento de que viver não é coisa fácil. Sempre encaram o lado sombrio da existência em consequência de sua filosofia pessoal pessimista, que foi alimentada, na infância, por tratamento inadequado. Tem muito mais consciência das dificuldades da vida do que os otimistas, e é-lhes fácil desanimar. Torturados por um sentimento de insegurança estão constantemente a procurar um apoio” (ADLER, p. 173).

Pessimismo vs Otimismo

Um pessimista vê uma dificuldade em cada oportunidade; um otimista vê uma oportunidade em cada dificuldade (Winston Churchill)

Conclusão

Para concluir, gostaria de mencionar também a conclusão de Adler para este capítulo (que é uma introdução à 2° Parte do Livro A ciência da natureza humana sobre o caráter – veremos mais sobre o tema nas lições seguintes):

Adler diz: “O caráter de um ser humano nunca deve servir para base de um julgamento moral e sim como índice da atitude desse ser humano para com seu ambiente e de suas relações com a sociedade em que vive” (ADLER, p. 187).

Ou seja, estudar o caráter – o otimismo ou o pessimismo, a preguiça ou a delinquência – não objetiva apontar o dedo e mostrar os erros dos outros. O intento é compreender o que está por trás de cada uma das atitudes. É importante lembrar a grande preocupação do autor com a educação das crianças e a tentativa de encontrar uma forma para que elas cresçam não somente bem adaptadas como, também, felizes.