Diagnóstico – Doença de Alzheimer

A demência é por definição uma condição clinica, e assim pode ser diagnosticada com testes cuidadosos. Entretanto, um diagnóstico definitivo de Alzheimer como um caso particular de demência deve esperar um exame microscópico de tecido cerebral, o que geralmente ocorre na autopsia e com menos freqüência em um exame antes da morte. Portanto o diagnóstico de Alzheimer é usualmente diagnosticado clinicamente como uma condição baseada na presença de mudanças neurológicas e neuropsicológicas, havendo frequentemente ausência de testes cerebrais clínicos para o diagnóstico.

Neste processo, de acordo Spaan, Raaijmakers e Jonker (2003), a determinação das características neurológicas do paciente é realizada através de seu histórico e da observação clinica, enquanto que a avaliação neuropsicológica deve ser realizada através de testes de memória e de funções intelectuais.

No entanto, se exames laboratoriais de tomografia computadorizada e ressonância magnética puderem ser realizados, estes atestarão, na maior parte dos casos atrofia cerebral, com dilatação mais pronunciada dos sucos e ventrículos do que é comumente esperando para pessoas normais em seu processo de envelhecimento.

Alem da atrofia cerebral das partes responsáveis pela linguagem e pela memória, algumas alterações típicas da doença devem ser observadas microscopicamente. Este é o caso das placas neuríticas (que Alzheimer em sua época definiu como placas senis), caracteristicamente presentes na doença.

Tais placas são esféricas, de cerca de 0,2 mm de diâmetro. Na parte central encontra-se a proteína-beta amilóide A/4 (core), em grandes quantidades. Ao redor destas proteínas nota-se um anel de partículas de neurônios anormais.

De acordo com o site alzheimermed,

“A análise bioquímica demonstra que a proteína-beta amilóide A4 das placas neuríticas são derivadas do precursor da proteína amilóide (PPA). O gene dessa proteína localiza-se no cromossomo 21. PPA é uma proteína trans-membrana encontrada preferencialmente nas terminações nervosas. Sua degradação anormal produz fragmentos peptídeos que agregam-se a insolúvel beta-amilóide A4”.

Alzheimer descreveu modificações nos novelos neurofibrlares já em sua primeira paciente, August D., em 1906. Deste modo, as diferenças encontradas entre o cérebro da paciente e de pessoas que não apresentaram a doença, serviram de base neuropatológica para a correta compreensão e descrição da doença. Estes novelos (com suas modificações intracelulares no citoplasma neuronal) são comumente encontrados no córtex mais do que o comum, e de forma mais freqüente no lobo temporal, principalmente na amídala e no hipocampo.

Segundo o site supracitado:

“A análise bioquímica demonstra que os novelos neurofibrilares são formados principalmente pela proteína tau, cuja função é de estabilizar os microtúbulos dos axônios, estruturas responsáveis pela formação e manutenção dos contatos interneuronais. Essas funções são alteradas quando a proteína tau é modificada pela adição anormal de fósforo no processo – fosforilação. O substrato básico dos novelos neurofibrilares é a proteína tau hiperfosforilada”

Tais alterações surgem desde o começo da doença, principalmente nas estruturas lobo temporal medial, incluindo o hipocampo e o giro para-hipocampal, importantíssimas para os processos de memória. Com a evolução da doença, o processo degenerativo se espalha para o neocórtex de associação, atingindo áreas cerebrais responsáveis por outros processos cognitivos (Forlenza, 2005).

Portanto, os achados mais marcantes na DA, em cérebros de pacientes acometidos pela doença, são as placas senis, os emaranhados neurofibrilares e a extensa perda neuronal. Tais lesões podem surgir independentes, e até os dias atuais não existe consenso na comunidade médica se seriam causas ou conseqüências da doença de Alzheimer

No entanto, com as recentes descobertas no campo da bioquímica cerebral, juntamente com as análises formato-fisiológicas do cérebro, as causas para a doença de Alzheimer estão começando a ser esclarecidas. Entretanto, atualmente a causa ultima da doença de Alzheimer permanece desconhecida, já que as descobertas da área levam a entender a doença como altamente heterogênea, com diversas modificações sendo encontradas.

Sabe-se que a doença de Alzheimer tende a se agrupar em certas famílias, pois há uma herança genética do tipo autossômica, com mudanças em quatro diferentes genes. As estimativas de prevalência de DA familial variam muito, indo de 5% a 10% até 50% em diferentes estudos (Fridman, 2003).

Esses genes localizam-se em diferentes cromossomos e pelo menos alguns deles devem participar de uma via neuropatogênica comum, que culmine com o desencadeamento da doença. Esses quatro genes são, até o dia de hoje, os mais importantes e mais consistentes marcadores para a DA. No entanto, as alterações nos mesmos não são suficientes nem necessárias para explicar todos os casos de DA. (Fridman, 2003).

Portanto, embora certas pesquisas atestem a importância de fatores genéticos e maior incidência da doença nas famílias de portadores do que no restante da população, pressupõe-se que o estabelecimento da doença de Alzheimer, não se deva a apenas a um gene ou fator genético, mas há um conjunto de fatores que provocam o seu inicio e o seu grau de severidade.

Tratamento – Doença de Alzheimer

As alterações bioquímicas presentes na doença são a principal fonte de possibilidades para o tratamento farmacológico da doença de Alzheimer, ao se repor substâncias que na senescencia em geral, e na doença de Alzheimer, em particular, se mostram ausentes.

De acordo com Forlenza (2005):

Na demência moderada e avançada, intensificam-se as perdas neuronais e surgem disfunções sinápticas e neuroquímicas, afetando, sobretudo, os sistemas colinérgico, serotonérgico e glutamatérgico. Portanto, a DA (doença de Alzheimer) cursa com redução da função colinérgica central, principalmente em áreas límbicas e temporoparietais.

O tratamento com uso de drogas farmacológicas para a doença de Alzheimer deve ser definido de acordo com critérios específicos. Para tanto, se faz necessário a divisão em quatro níveis. Quais sejam:

(1) terapêutica específica, que tem como objetivo reverter processos patofisiológicos que conduzem à morte neuronal e à demência;

(2) abordagem profilática, que visa a retardar o início da demência ou prevenir declínio cognitivo adicional, uma vez deflagrado processo;

(3) tratamento sintomático, que visa restaurar, ainda que parcial ou provisoriamente, as capacidades cognitivas, as habilidades funcionais e o comportamento dos pacientes portadores de demência;

(4) terapêutica complementar, que busca o tratamento das manifestações não-cognitivas da demência, tais como depressão, psicose, agitação psicomotora, agressividade e distúrbio do sono.

De modo geral, a terapêutica farmacológica atualmente tem por função impedir que os sintomas da doença acometam seu portador de modo rápido. Deste modo os tratamentos à base de drogas (e nesse sentido inúmeras substancias tem sido estudadas e catalogadas) têm por objetivo a redução da evolução do quadro da demência, com a conseqüente melhora, embora pequena, de sua capacidade de realização das atividades a que estava acostumado a realizar normalmente.

Os estudos médicos realizados encontraram déficit colinérgico na doença, e por isso, os inibidores de colinesterases (I-ChE) são as principais drogas que atualmente são utilizadas com o intuito de diminuir tal déficit.

Embora seja o método de tratamento mais recomendando, os efeitos não são obtidos em todos os pacientes. Certos pacientes tiveram respostas positivas ao tratamento, enquanto que outros não obtiveram conseqüências nenhuma (Forlenza, 2005). Em virtude disso, recomenda-se a utilização de tais inibidores para pacientes com a doença leve ou moderada, se, evidentemente, não houver contra-indicações específicas.

Outra terapêutica que pode ser recomendada é a utilização de mementina, que age sobre a neurotransmissão glutamatérgica, que também se mostra deficitária na doença de Alzheimer.

De acordo com Forlenza (2005), alguns estudos apontam que substâncias antioxidantes seriam eficazes no tratamento dos sintomas, pois existem evidências de que o estresse oxidativo pode contribuir para uma piora da doença.

Outra substância que vem sendo estudada são os extratos de Ginkgo biloba. Sua utilização baseia-se em práticas médicas ancestrais, embora seus efeitos sejam incertos.

A literatura médica carece de estudos sistemáticos sobre a eficácia de seus princípios ativos no tratamento das demências e da doença de Alzheimer. Em virtude do uso muitas vezes indiscriminado desses produtos, além da falta de um controle adequado sobre sua produção e comercialização, a prescrição da Ginkgo biloba nos transtornos de memória foi questionada nos últimos anos pelos seguidores da boa prática clínica. (Forlenza, 2005)

Deste modo, as principais fontes de tratamento farmacológico apostam na reposição de substâncias que se mostram deficitárias na doença de Alzheimer, principalmente no sistema colinérgico, pois os anticolinesterásicos utilizados como remédios são os mais recomendados pelos médicos para o tratamento.

O futuro do tratamento se baseará evidentemente em estudos e pesquisas de novas drogas que visem a modificação do curso natural da doença, ou, se possível, a intervenção nas causas da doença. Para tanto, os objetivos do cenário cientifico médico global estão assentados nestas expectativas, ao lado, da possibilidade de se antecipar o diagnóstico clinico.