Ato falho é um termo utilizado pela psicanálise para descrever uma série de atos que podem ser interpretados por terem um sentido inconsciente. De certo modo, apesar de serem atos que falharam, são atos bem sucedidos, de acordo com Freud.

O Vocabulário de Psicanálise, de Laplanche e Pontalis, dá a seguinte definição para o termo:

“A expressão ‘ato falho’ traduz a palavra alemã Fehlleistung, que para Freud engloba não apenas ações strictu sensu, mas todo tipo de erros, de lapsos na palavra e no funcionamento psíquico.

A língua alemã põe em evidencia o que há de comum em todas essas falhas pelo prefixo ver, que vamos encontrar em das Vergessen (esquecimento), das Versprechen (lapsus linguae), das Verlesen (erro de leitura), das Verschreiben (lapsus calami), das Vergreifen (equívoco na ação), das Verlieren (perda de um objeto)”.

Portanto, todos os atos acima – esquecer de alguma coisa, perder um objeto, trocar na fala ou na escrita uma palavra ou expressão – podem ser considerados atos falhos, em certas situações.

Há dois exemplos fantásticos, que ajudam na compreensão:

1) Antes de uma aula de faculdade, a aluna diz: “Vamos embora, este professor não faz falta”. Inconscientemente, a aluna considerava que realmente aquele professor não fazia diferença, não era importante assistir à sua aula. A frase foi uma combinação de dois pensamentos: a) o professor não faz chamada, b)  o professor não dá falta. No final, foi o inconsciente quem falou: ele não faz falta.

2) Na CPI do Mensalão perguntaram a José Dirceu se ele era inocente. Sua resposta foi: “Eu sou Inocêncio”. Não sabemos quem é Inocêncio, nem se ele foi realmente culpado. O que podemos dizer é que, inconscientemente, ele se considerava um pouco culpado (Inocêncio mas não inocente) pelos fatos.

A obra de Freud, A  psicopatologia da vida cotidiana, tem exemplos maravilhosos e engraçados de atos falhos. A leitura não é tão complexa quanto outras obras do mesmo autor.

O que é incrível nos atos falhos é que sua estrutura inconsciente é muito parecida com o sintoma, que por sua vez é semelhante ao sonho e às piadas – chistes. Ou seja, um sonho, uma piada, um ato falho, um sintoma (como a melancolia) são muito próximos. Freud explica…

Para saber mais: A psicopatologia da vida cotidiana. Autor. Freud. Editora Imago.

FELIPE DE SOUZA