Existem muitos problemas de relacionamento afetivo, amoroso, que podem ser resolvidos de maneira relativamente simples com a terapia, individual ou de casal. Neste texto, falarei sobre a visão da terapia cognitivo comportamental de Aaron Beck que pode ajudar nessa resolução de problemas.

O problema que não é o problema

Relações afetivas, amorosas, trazem à tona aspectos de vulnerabilidade que, muitas vezes, são bastante antigos na história de vida, não raro vindos da infância, da relação com os pais ou cuidadores.

Nesse sentido, muitas das dificuldades de relacionamento, dos problemas que aparecem hoje não são o real problema. Dadas as experiências infantis, na adolescência, todos nós carregamos crenças centrais em nossa estrutura cognitiva que, por sua vez, levam a regras rígidas, pressupostos e pensamentos automáticos que, de fato, podemos apontar como o real problema.

Em outras palavras, em uma briga, por exemplo, as falas de cada um são derivadas dos pensamentos automáticos, pensamentos que aparecem na mente de forma rápida e automatizada. Se na terapia exploramos esses pensamentos, veremos que estão baseados em pressupostos, em pressuposições sobre o que é certo e errado, em regras geralmente distorcidas e desadaptativas.

Tais regras, mais profundamente, estão ligadas à crenças fundamentais, centrais sobre si mesmo, sobre a outra pessoa e sobre o mundo (e futuro).

Em resumo, podemos dizer que, em uma briga, não é tanto a situação em si que é o problema, mas na maior parte dos casos a interpretação que é dada por cada um sobre a situação.

A interpretação de uma situação e a leitura da mente

Por exemplo, Aaron Beck, no livro Love is never enough, que foi traduzido como Para além do amor, cita a situação de um casal que está voltando de uma festa. Peter está dirigindo e fica em silêncio – o que destoa de seu comportamento mais extrovertido. Lois, sua namorada, começa a interpretar o silêncio dele como se ele estivesse com raiva dela, chateado por algum coisa que ela fez e não percebeu. Pensamentos automáticos aparecem e Lois começa a imaginar que eles vão terminar em breve.

Por sua vez, Peter estava apenas em um momento mais contemplativo na volta da festa. À medida em Lois, a partir de seus pensamento automáticos, não responde a uma pergunta, ele fica irritado com ela e começam as críticas.

Nesse exemplo, podemos ver como a interpretação de uma situação neutra pode levar a comportamentos e reações da parceria que são baseadas em pressupostos equivocados, em distorções cognitivas como a leitura da mente, ou seja, em acreditar que sabemos o que se passa na cabeça da outra pessoa.

A Terapia Cognitivo Comportamental e os relacionamentos

O modelo cognitivo, que inclui os pensamentos automáticos, crenças intermediárias (regras e pressupostos) e as crenças centrais é utilizado na TCC para a resolução de problemas de relacionamento tanto na terapia individual como na de casal.

No exemplo de Peter e Lois, podemos imaginar que, com mais consciência de cada sobre o funcionamento de suas cognições, a briga poderia nem ter acontecido. Lois poderia ter perguntado para Peter sobre o seu estado, se estava bem ou chateado com alguma coisa, ao invés de pressupor que ele estava chateado com ela.

Ou então, se tivesse tido outra interpretação da situação, se tivesse achado que Peter estava cansado da festa ou que seu silêncio iria acabar já já, a briga não teria acontecido. E, igualmente, Peter poderia ter interpretado de maneira diferente a ausência de resposta de Lois, diminuindo sua irritação.

Os nossos pensamentos são tão rápidos que é comum atribuirmos o nosso comportamentos e as nossas reações como sendo causadas pela situação externa, pela outra pessoa.

Com a psicoeducação sobre o modelo cognitivo, passamos a entender que entre a situação e a reação, existem pensamentos, regras, crenças.

A psicoeducação é o primeiro passo na TCC para que problemas de relacionamento diminuam e até cessem com o tempo.

Conclusão

Existem outros problemas de relacionamento que são sérios e devem ser compreendidos através de outras explicações, como os casos de abuso, agressão física e verbal. Problemas menos sérios, em termos de gravidade, também podem dificultar uma relação como diferenças significas de personalidade e expectativas opostas sobre o futuro da relação (ter filhos ou não, por exemplo).

Neste texto, o objetivo foi mostrar como muitos problemas de relacionamento podem ser resolvidos com maior consciência da própria estrutura cognitiva.

Recomendo a leitura – Amar ou depender 

Agende uma sessão – Dr. Felipe de Souza – 11984156913

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