O tema da aceitação tem se tornado cada vez mais popular com a divulgação das práticas de meditação de atenção plena (mindfulness). Um dos autores que trabalhou este tema tão fundamental para a saúde mental foi o criador da Psicologia Racional Emotiva, Albert Ellis.

Estou lendo dois livros muito interessantes dele, How to stubbornly refuse to make yourself miserable (Como se recusar, teimosamente, a se fazer miserável) e The Myth of Self-Esteem (O Mito da auto-estima).

Faça o Programa de 8 Semanas de Mindfulness 

Aceitar ou não aceitar… o que?

Se pensarmos na auto-estima, a capacidade de cada um de estimar a si mesmo, veremos que, no fundo, a auto-estima pode ser muito destrutiva. Explico: a base da auto-estima é valorizar a si mesmo, certo? O que seria ótimo, se não fosse o fato de que – para estimar a si mesmo – a pessoa cria critérios para se valorizar. Se eu passar na prova, se eu for promovido, se eu consigar uma relação decente… se isto (X), então somente após ter obtido isso (X) eu estarei com a auto-estima elevada. 

Em outras palavras, a auto-estima, geralmente, coloca condições para que exista. Só me sentirei estimado por mim mesmo se fizer esta, e esta, e esta realização.

Nesse sentido de auto-estima, nós temos exatamente o oposto de aceitação, de auto-aceitação. Para Ellis, o caminho mais saúdavel é o da auto-aceitação. Na auto-aceitação não há uma condição para se aceitar. Eu passo a me aceitar como sou, independente do que faço, fiz ou farei. É o que ele chama de Auto-Aceitação Incondicional.

Esta ideia está relacionada com o deixar de lado, com o abrir mal de processos cognitivos, formas de pensar que são distorções. A mais central e contra a qual Ellis lutou mais em sua teoria foi a distorção cognitiva do DEVERIA (should, must, ought, em inglês).

Na distorção cognitiva do DEVERIA (ou deve ou deveria ter sido), existe um pensamento de não aceitação: “Isso não deve ser assim”. “Isso não deveria ter sido assim”, etc. Ou seja, ao achar que algo não deve ser ou não deveria ter sido há a não aceitação do que já é – ou já foi.

Então, para responder à pergunta: aceitar o que? Ellis responde dizendo: aceitar incondicionalmente a si mesmo, aceitar incondicionalmente o outro, aceitar as coisas (os eventos do mundo).

3 Tipos de Aceitação na Psicologia

Com a aceitação de si mesmo (independentemente do que), a pessoa naturalmente passa a aceitar mais as outras pessoas. Se você quiser, faça por alguns minutos o seguinte exercício:

– Sente-se confortavelmente e procure por um tempo aceitar como você. Você pode começar pelo seu corpo. Deixe lado o “deveria ser melhor”, o “deveria ser de outro jeito. Apenas aceite o seu corpo como ele é hoje, aqui-agora. Da cabeça aos pés. Se você achar útil, você pode até conversar com cada parte do seu corpo, dizendo a ela que a aceita.

Depois você pode aceitar como está se sentindo agora. Talvez haja algum sentimento presente e que você não gostaria de estar tendo. Seja qual for o sentimento, a emoção presente, apenas aceite.

Faça o mesmo com cada pensamento que vai surgindo e indo embora. Apenas aceite o fluxo de pensamento.

Corpo, sentimento, pensamento. Aceite o que vier. Deixe de lado a crença de que algum aspecto de ti deveria ser diferente agora. Ou deveria ter sido diferente antes.

Bem, se você fizer este exercício, sentirá provavelmente a presença de um grande alívio. A tortura dos DEVERIA é muito grande e nos coloca em uma espécie de prisão, a prisão de que somos ou fomos errados, de que deveríamos ser diferentes, melhores, etc.

Fazendo este exercício, veremos que ao aceitarmos mais a nós mesmos, também fica mais fácil aceitar o outro. As outras pessoas são como são, estão tentando como podem e – se por um momento deixarmos de lado a ideia de que ELE DEVERIA, ELA DEVERIA – veremos que esta exigência ao outro também é pesada. Deixar de lado, abrir mão, é um grande alívio.

Aceitação da realidade

E, finalmente, a terceira aceitação – depois da auto-aceitação e aceitação do outro – é a aceitação da realidade.

Você pode fazer este exercício:

Pense em algo do seu passado, ou algo do seu presente, que você acha que DEVERIA ser diferente. E por alguns momentos, apenas deixe de lado essa ideia. Isso (seja lá o que isso for) é como é, ou foi como foi. Por algum tempo, simplesmente abra mão de controlar a realidade e deixe a realidade seguir o seu curso. Nada para mudar, nenhuma coisa a fazer quanto a isso. Aceite e livre-se desse peso.

Conclusão

Uma confusão comum, quando trabalhamos a auto-aceitação no consultório ou online, é a ideia de que ao aceitar incondicionalmente quem somos, quem o outro é e como a realidade está ficaremos paralisados, parados, estáticos. Isso não é uma verdade.

Na auto-estima, eu tenho que atingir X para me sentir bem em meu corpo e em minha alma. Na auto-aceitação eu posso atingir qualquer X e até mesmo que eu não atinja X nenhum eu me sentirei bem comigo mesmo.

Qual você prefere?

O fato de aceitar que alguma coisa é como é, está sendo como está sendo, não quer dizer que eu não possa melhorar as minhas condições e agir na direção de um futuro desejado. Não é isso. É simplesmente entender que eu não preciso de algo antes para me sentir bem quanto a quem sou. E, no caminho de ir para onde quero, vou melhor comigo mesmo. Isso.

Até o próximo texto.