Dois foram os métodos utilizados por muito tempo nas ciências e na filosofia cujas finalidades eram a descoberta da verdade: o método dedutivo e o método indutivo.

O método dedutivo

O método dedutivo, o qual foi utilizado por Aristóteles, deriva do universal ao fato particular e, neste caminho, estabelece princípios e determina novos axiomas. Liga-se ao raciocínio lógico e pressupõe a existência de proposições universais e pré-determinadas, as quais servem de premissas básicas para alcançar a verdade em casos específicos, particulares.

Assim, ao partir de tais premissas, o método chega em uma conclusão, e entre tais premissas e conclusão existe um número de afirmações intermediárias que são questionadas até que sua aceitabilidade possa ser assegurada. Paulatinamente e através das afirmações que passam a ser aceitas, a conclusão final é alcançada e se dá a elaboração de um argumento plausível. Sua técnica mais desenvolvida é o silogismo, o qual foi utilizado por Aristóteles.

O método indutivo

O método indutivo, utilizado e defendido por Bacon, parte dos sentidos e do particular para estabelecer os axiomas e, depois, ascende de modo contínuo e gradual para chegar aos axiomas mais gerais. Bacon faz pontuações acerca dos métodos dedutivo e indutivo:

Só há e só pode haver duas vias para a investigação e para a descoberta da verdade. Uma, que consiste no saltar-se das sensações e das coisas particulares aos axiomas mais gerais e, a seguir, descobrirem-se os axiomas intermediários a partir desses princípios e de sua inamovível verdade. Esta é a que ora se segue. A outra, que recolhe os axiomas dos dados dos sentidos e particulares, ascendendo contínua e gradualmente até alcançar, em último lugar, os princípios de máxima generalidade. Este é o verdadeiro caminho, porém ainda não instaurado (BACON, 2011, p. 84).

É por meio desta última via que particulares são descobertos através da observação e também o são determinados os princípios. Tal método preconiza que se parta de situações observáveis para, posteriormente, utilizar-se do raciocínio e formular afirmações e leis. Além disso, deve haver a verificação de situações específicas antes da realização do julgamento.

O objetivo do método indutivo

O objetivo central do método indutivo é estabelecer a causa dos fenômenos naturais e, para tanto, exige a constatação das teorias através dos resultados destas. Como Bacon expõe em Novum Organum, o objetivo da ciência é estabelecer leis e, pois, uma enumeração extensa das manifestações de um fenômeno qualquer deve ser feita e, concomitantemente, deve-se realizar o registro de suas variações. Desses registros obtêm-se resultados os quais serão testados por experimentos, pois: “Toda verdadeira interpretação da natureza se cumpre com instâncias e experimentos oportunos e adequados, onde os sentidos julgam somente o experimento e o experimento julga a natureza e a própria coisa” (BACON, 2011, p. 93).

Como se pode notar, Bacon propõe um retorno às próprias coisas e para tanto, os sentidos são concebidos como a fonte de todo conhecimento válido quando dirigidos pelo método científico. Assim, a proposta do método experimental indutivo é imprescindível para que se chegue aos princípios mais gerais dos fenômenos naturais corretamente, pois é partindo de fatos específicos e observáveis, catalogando-os, analisando-os e excluindo ideias contraditórias que se pode chegar ao universal e também a novos conhecimentos e ao progresso das ciências: “procedendo às devidas rejeições e exclusões, e depois, então, de posse dos casos negativos necessários, conclui a respeito dos casos positivos” (BACON, 2011, p. 131).

A indução é um momento fundamental para se adquirir o saber, posto que serve para descobrir e demonstrar os princípios, os axiomas menores, médios e todos os axiomas e descobrir novos particulares. O filósofo evidencia que a ciência deve seguir a verdadeira escala, de graus contínuos e sem falhas, pois dos fatos particulares vai-se aos axiomas menores, destes vai-se para os axiomas médios e destes últimos chega-se aos mais gerais. E quando se volta para a análise da natureza, é útil para as descobertas e demonstrações das ciências e das artes.

Galvão (2007) aponta que as ideias de Bacon, acompanhadas de sua defesa da experimentação e do método empírico indutivo, retratam as bases para a ciência moderna, haja vista que o filósofo percebeu os entraves para o progresso científico, progresso esse que teria como resultados novas descobertas úteis à vida humana:“Para o autor do Novum Organum, a ciência é uma ferramenta para a criação de novos conhecimentos que poderão ser usados para promover avanços, bem-estar e progresso para o gênero humano” (GALVÃO, 2007, p. 37).

O objetivo de Bacon foi ampliar o poder que o homem pode exercer sobre a natureza e tal só seria conquistado através do conhecimento da natureza, das causas dos fenômenos através do método indutivo. Dada a equivalência entre o poder(sobre a natureza) e o saber(acerca da natureza), nota-se que a natureza passou a ocupar o locus de fundamento para as ciências, para a vida intelectual.

Mesmo com toda a preocupação de Bacon com relação à observação das coisas na natureza, à catalogação e experimentação, deve-se ter em mente que o autor propõe um meio-termo entre o dogmatismo e empirismo para se chegar à verdadeira ciência:

Não é diferente o labor da verdadeira filosofia, que se não serve unicamente das forças da mente, nem tampouco se limite ao material fornecido pela história natural ou pelas artes mecânicas, conservado inato na memória. Mas ele deve ser modificado e elaborado pelo intelecto. Por isso muito se deve esperar da aliança estreita e sólida (ainda não levada a cabo) entre essas duas faculdades, a experimental e a racional (BACON, 2011, p. 127).

Fica evidente que o método baconiano é composto pelas faculdades experimental e racional, pois o intelecto é aplicado de modo integral aos fatos particulares e a experiência passa a ser guiada por leis seguras, de maneira gradual e constante. Em síntese, o caminho percorrido pelo método indutivo baconiano, diferentemente do método aristotélico, tem as seguintes fases: eliminar os ídolos; conhecer a estrutura e lei que regula o processo do fenômeno; organizar um registro abrangente da história do fenômeno analisado através de tábuas de presença, de ausência e de graus; enunciar a primeira vindima; testar a hipótese pelas instâncias prerrogativas e, ao fim, confirmação ou não da hipótese (caso não seja confirmada, deve-se retornar ao processo indutivo).

Tal proposta opõe-se ao método dedutivo utilizado por Aristóteles, dado que Bacon o acusa de permitir que o intelecto: “salte e voe dos fatos particulares aos axiomas remotos e aos, por assim dizer, mais gerais – que são os chamados princípios das artes e das coisas – e depois procure, a partir da sua verdade imutável, estabelecer e provar os axiomas médios. E é o que se tem feito até agora graças À propensão natural do intelecto, afeito e adestrado desde há muito, pelo emprego as demonstrações silogísticas” (BACON, 2011, p. 131).

Como se sabe, Aristóteles propõe o método dedutivo como instrumento da ciência e propõe como base de todo conhecimento a experiência. Todavia a crítica de Bacon ao método do Estagirita recai, primeiramente, sobre a visão da indução aristotélica como mera enumeração dos casos particulares, pois passa de modo rápido sobre a experiência e sobre os fatos particulares, não se atendo a ambos o tanto necessário. A diferença crucial, conforme o filósofo moderno, é de que a indução aristotélica desliza sobre os fatos e sua filosofia foi corrompida pela lógica, pela dialética, enquanto o método proposto em Novum Organum se dá por eliminação e, pois, tem a capacidade de apreender a natureza e a essência dos fenômenos:

Pois Aristóteles estabelecia antes as conclusões, não consultava devidamente a experiência para o estabelecimento de suas resoluções e axiomas. E tendo ao seu arbítrio assim decidido, submetia a experiência como a uma escrava para conformá-la às suas opiniões (BACON, 2011, p. 99).

Para Bacon, o método indutivo tradicional tem como características a mera enumeração dos fenômenos, levando ao julgamento embasado em um número menor de fenômenos que o necessário e, também, voltando-se somente com os fenômenos que se pode alcançar com facilidade: “este método, que procede silogisticamente do mais particular ao mais universal, saltando os anéis intermediários, leva a conclusões precárias e constantemente expostas ao perigo das teses contraditórias”(REALE, 2009, p. 275).

Destarte, Aristóteles é acusado de submeter a filosofia natural à lógica, deixando as ciências e a filosofia somente no plano abstrato, tornando ambas quase inúteis e escravas de suas opiniões particulares, o que acarretou, por sua vez, a estagnação das novas descobertas científicas.

Por tal motivo, o filósofo moderno propõe uma alternativa, uma verdadeira indução científica que se utiliza de muitas coisas, coisas até mesmo antes não pensadas e que tome como ponto crucial a análise dos fenômenos da natureza partindo dos experimentos, por exclusões e eliminações dos casos em que o fenômeno está ausente ou não está presente de modo pleno. Somente por esta via se pode chegar às causas e aos axiomas mais gerais atrelados ao fenômeno. A indução por eliminação é concebida, pois, como a chave interpretativa da natureza.

Em suma, pode-se notar que a crítica de Bacon à teoria do Estagirita incide sobre o método dedutivo e no falso método indutivo aristotélico:

A indução Aristotélica (epagôge) visa mais à comunicação do que à descoberta do conhecimento. Ela é essencialmente uma operação verbal, um simples rígido modelo de argumentação, procedendo de palavras para palavras, não de palavras para coisas (OLIVEIRA, 2002, p.179.)

Especificamente com relação ao método dedutivo, Bacon critica a falta de importância atribuída às observações, já que a atenção se voltava às funções das deduções: o início dos procedimentos se dá com os primeiros princípios e utilizando-se de silogismos, generalizações eram realizadas de modo precipitado. O filósofo inglês expõe a necessidade da observação e interpretação da natureza(caminho para as interpretações da natureza) segundo os métodos seguros e científicos(e não mais conforme as antecipações da natureza). Bacon afirma, ainda, que os métodos aristotélicos dedutivo e indutivo somente ordenam o conhecimento, sem ampliá-lo.

Referências bibliográficas

BACON, F. Novum Organum, ou verdadeiras indicações acerca da interpretação da natureza. Disponível em: SELL, S. Discurso Filosófico II: livro didático. Palhoça: UnisulVirtual, 2011.

GALVÃO, R. C. S. Francis Bacon: teoria, método e contribuições para a educação.  Revista Internacional Interdisciplinar InterThesis, Florianópolis, v. 4, n° 2, p. 32- 41, jul./dez. 2007.

OLIVEIRA, B.J. Francis Bacon e a fundamentação da ciência como tecnologia.BH: UFMG, 2002.

REALE, G. História da Filosofia: Do Humanismo a Descartes. v. 3. São Paulo: Paulus, 2009.

Michelle Vaz é graduanda em Filosofia