“Se você se ofende com os erros alheios, volte-se para si e estude suas próprias falhas. Então você vai esquecer a raiva” (Epiteto)
Olá amigos!
Dizem que todas as pessoas tem consciência dos seus erros. Uma pessoa, no fundo, bem lá no fundo, embora não queira admitir, sabe quando erra, quando faz uma maldade. Se assim não fosse, a pessoa seria um monstro.
Na psicologia analítica de Jung nós aprendemos que a sombra, a parte da personalidade que reúne os conteúdos e tendências negativas (ou contrárias à tendência do eu e da persona), para se tornar mais consciente é, primeiro, projetada.
Por isso, a melhor maneira de descobrir a sombra de uma pessoa, de um modo simples e quase sempre certeiro, é observar o que ela reclama e fala mal das outras pessoas. O apontar o dedo e mostrar e falar e falar de novo os erros do outro – ou outra – é um sinal de um conteúdo interno porque, se não fosse, não irritaria ou incomodaria.
No dizer sintético de Jung: “Tudo o que nos irrita nos outros pode nos levar a uma melhor compreensão de nós mesmos”.
A regra de ouro dos relacionamentos
Imagine uma pessoa te acusando de uma coisa que você fez errado, uma pequena maldade, uma mentira. Você sabe que esta pessoa está com a razão, mas, inevitavelmente, procura se defender, talvez mentindo de novo ou então partindo para o ataque e acusando também.
Se defender ou partir para o ataque quando há uma crítica, julgamento negativo ou acusação é um comportamento humano praticamente universal. O nosso ego sempre precisa estar com a razão, precisa da segurança de uma defesa irrefutável, enfim, precisa ser protegido.
Na medida em que entendemos um relacionamento como convivência, como compartilhamento de espaço, tempo e conversas, é fácil de observar que um relacionamento em que predominam as críticas negativas, as acusações, os ataques pessoais, não será um relacionamento muito harmônico.
Na psicologia comportamental, Skinner diz que o amor é uma outra palavra para reforçamento positivo. E, quem estudou sua obra sabe que ele foi um dos maiores defensores de se acabar com a punição. Em outras palavras, um comportamento, verbal ou não verbal, em um relacionamento pode gerar punição ou reforçamento.
Evidentemente, uma fala que fere é aversiva. E será sentida como uma punição (embora o conceito de punição seja um pouco diferente disso). Mas de toda forma, a grosso modo podemos dizer que um relacionamento interpessoal melhora e muito se as punições forem substituídas por reforçamento positivo.
De uma maneira mais didática, podemos dizer que se há a interrupção das críticas, das discussões, das brigas e o aumento de elogios, carinho, boa vontade, o relacionamento vai melhorar e todos serão beneficiados. Embora não precisemos ser psicólogos para reconhecer este fato.
Evitar apontar o erro
Um dado interessante para observação é que falar mal, criticar, apontar a falha alheia não resolve. Por exemplo, uma pessoa que se atrasa, não vai parar de se atrasar por ser rechaçada quando chegar. Não só porque ao chegar, já terá chegado atrasada, mas também porque o atraso pode estar relacionado com uma série de outras causas, que falar mal não vai mudar.
Como Einstein disse certa vez: “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”.
Neste exemplo do atraso (poderia ser outro falha qualquer), temos um esquema bastante semelhante ao que na Mindfulness Psychology chamamos de sofrimento primário e sofrimento secundário. Há um sofrimento causado pelo atraso – ou por qualquer outra coisa – mas o sofrimento por não querer ter tido aquele sofrimento é maior e causa mais dano do que o sofrimento em si.
Evitar a apontar o erro é parecido com parar de reclamar. Ninguém gosta de ouvir reclamações, já percebeu? Mas muitas pessoas tem prazer em reclamar. Em uma conversa de duas pessoas reclamando é curioso perceber como uma interrompe a outra para reclamar.
Mas parar com o comportamento de ficar apontando os erros alheios tem um benefício que, penso, vai mais além ao parar de criar sentimentos de menos-valia, ou de baixa auto-estima, ou de sentimentos de estar sempre errado, ser um fardo ou não ser aceito.
Imagine uma mãe que diz para o seu filho desorganizado: “você não presta pra nada!” ou o marido que diz para a esposa que ela está feia por estar um pouco acima do peso ou o professor que chama a atenção do equívoco do aluno com rispidez, fazendo com que este se sinta burro e incompetente.
Poderíamos pensar em milhões de pequenas situações que ocorrem e que possuem um efeito muito negativo que pode perdurar por anos e anos.
É claro que também, como não somos monstros, nós sabemos quando somos nós que criticamos e falamos de modo a ferir. Por isso, devemos fazer a nossa avaliação pessoal e começar a fazer diferente. Se cada um fizer a sua parte e parar com este hábito pernicioso de apontar os erros dos outros, já teremos avançado um pouco mais.
E não vale parar de apontar o erros dos outros, mas criticar as pessoas que ainda apontam os erros dos outros…
Conclusão
Uma dúvida que talvez surja é como então ajudar na mudança do comportamento sem criticar o que está errado. Bem, há um jeito muito melhor que é elogiar o que está certo. O que também é válido e útil no relacionamento intrapessoal, ou seja, de nós conosco mesmos, de parar de se autocriticar e começar a se autoelogiar.
Dúvidas, sugestões, comentários, por favor, escreva abaixo!
Excelente artigo! Tenho compartilhado com pessoas que se dizem “exigentes” e que também estão gostando muito.
Professor Felipe, muito bom seu artigo. Sigo seu blog e vc tem me ajudado muito com seus textos. Obrigada!
Adorei o texto e as dicas!
Olá Felipe gosto muito dos seus artigos tem me ajudado muito quanto à minha auto estima e como tratar com as pessoas ao meu redor,continua assim você está no caminho certo, parabéns Deus te abençoe!
Gostaria de saber como fazer com que o outro pare de criticar já que se eu tenho consciência de meus atos
Então me ajude a saber como posso mudar o meu comportamento com relação à minha irmã. Pq reclamo muito para ela arrumar o quarto dela que ela não arruma há meses, literalmente falando. Que emana um cheiro muito forte de fedor que vem diretamente para o meu quarto.
Felipe, bom dia! entendi a ideia mas tenho uma pergunta!
Como tratar pessoas que só conversam no intuito de “criticar” a vida dos outros? ou seja, alguém que observa tudo e comenta sobre o que “enxerga” da vida “dos outros”.
Parece um comportamento que faz parte da personalidade e, quando não tem nada para inventar, simplesmente supõe. Acrescente-se à isso, uma dose de muita simpatia como estratégia de aproximação. Já li alguns temas sobre esse assunto mas ficou uma dúvida:
Aquele que se mostra crítico, malicioso ou curiosos demais pode ter um componente de baixa autoestima? além disso tem um padrão de comentário: se fosse eu fazia assim – se eu tivesse isso fazia assado e assim por diante. Abs,
Claudia,
O x da questão é perceber que falar não adianta muito, não é mesmo?
Existe um livro muito interessante que se chama A Mágica da Arrumação, de Marie Kondo.
Pode ser útil para você e/ou pra ela.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Oi Raquel,
Bem, o comportamento verbal é bastante complexo. Mas existem comportamentos que aumentam a frequência de falar (nossa ou do outro) e outras que diminuem. Se não damos muito atenção, a tendência é que a pessoa diminua ou fale menos sobre tais assuntos conosco – não é algo cem por cento exato porque a pessoa tem a sua história pessoal, mas é bem provável de diminuir.
Sei que em algumas circunstâncias é inviável simplesmente sair andando e deixar a pessoa falando sozinha, rsrs, mas as vezes é necessário. Ou então podemos tentar falar de outros assuntos.
Não sei se dá para avaliar que sempre vai se tratar de baixa autoestima (claro que é um fator possível), mas também pode acontecer devido às circunstâncias de vida. Se todos na família fazem isso, a pessoa cresce achando que é o que deve ser feito.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Maria,
Infelizmente (ou felizmente) o comportamento do outro não está sob o nosso controle.
Recomendo o texto – https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/2013/11/o-que-voce-pode-e-o-que-voce-nao-pode-controlar.html
Olá, Felipe!
Me ajudou bastante para o momento que estou passando… Mais minha dúvida é: Como não reclamar, ou apontar os erros, de alguém que não está fazendo nada certo? Eu me preocupo e, na minha cabeça pelo menos, me sinto contribuindo para isso se não expor meu ponto de vista.
(Exemplo, uma pessoa que deixou tudo para trás e agora não faz nada além de dormir até tarde).
Natalia,
Bem, sei que é complicado, mas, em princípio, cada pessoa possui o seu caminho. Esses dias fiquei sabendo da história do Oscar Niemeyer. Ele só foi se formar depois dos 30. O seu pai ficava preocupado porque com vinte e poucos ele dizia que não queria estudar e só queria curtir.
Enfim, cada um tem seu ritmo. É difícil julgar, pois teremos o nosso ponto de vista (o nosso ritmo).
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Adorei o artigo.
Parabéns Professor Felipe de Souza por mais um excelente artigo!