Além dos limites das leis da física, temos o limite do tempo. Não a desculpa de não ter tempo e sim da vida ter um tempo-limite.
Olá amigos!
Gosto bastante de livros motivacionais, de livros de Programação Neurolinguística, até de livros de autoajuda. Com o tempo, percebi que gosto tanto de estudar que os preconceitos que tinha foram diminuindo. Hoje leio quase tudo ligado à esta grande área de estudos chamada psicologia (e áreas afins como administração, economia) e que as livrarias e bibliotecas juntam como similares. Esses mesmos, os tais de autoajuda.
Gosto de ler porque também me ajuda. Se alguém se deu ao trabalho de escrever aquelas linhas, se um editor avaliou e achou válido, creio que ao menos uma linha, uma frase, um pensamento pode ser interessante e pode contribuiu para diminuir o grande abismo do que eu não sei.
Gostar de ler e gostar de aprender, entretanto, não significa concordar com tudo. O que me incomoda nestes últimos tempos, no que é motivacional ou autoajuda, e até no que é psicologia, às vezes, é o esquecimento de um limite que é intransponível.
E este limite é o limite da nossa finitude. Em outras palavras, um dia iremos morrer. Haverá um dia que será o nosso último dia.
O limite de quem podemos ser
No Livro Vermelho, de C. G. Jung – e que foi tema da minha tese de doutorado que acabo de terminar – há um diálogo entre o autor e um personagem do seu universo interno, o gigante Izdubar. Izbudar estava vindo do Oriente e fica fascinado com a nossa ciência e tecnologia. Ele pergunta se os cientistas já haviam encontrado um remédio para a morte e, Jung, evidentemente, responde que não.
Como diz Bob Marley…”but none of them can stop the time”… (e nenhum deles pode parar o tempo). Ninguém pode parar o tempo e ninguém consegue superar a morte.
Já falei aqui no site, em um outro texto, sobre o maravilhoso conto de Jorge Luis Borges chamado “O Imortal” (recomendo, se você ainda não conhece, a sua obra, especialmente O Aleph). Neste conto, um personagem busca e encontra a fonte da imortalidade e, ao encontrá-la, descobre que tem todo o tempo do mundo. E, assim, ele tem o poder de ser qualquer um, pois em um tempo sem limites qualquer um poderia ser um Homero, ou um Shakespeare ou um Joyce.
O paradoxo do tempo: ser e não ser
Desta forma, com Borges percebemos que ter todo o tempo do mundo é paradoxal. Com todo tempo do mundo eu não seria psicólogo. Melhor dizendo: eu não seria apenas psicólogo (porque ainda gostaria de ser psicólogo). Eu também seria cineasta, historiador, músico. Seria um aventureiro, um vagabundo. Poderia ser filósofo como Wittgenstein e, igual ele, poderia abandonar a filosofia para ser jardineiro.
Em suma: tendo todo tempo do mundo teria todo o tempo para ser qualquer coisa. Sendo todas as coisas – ou quase todas – acabaria não me identificando unicamente com uma delas e, portanto, seria uma espécie de tudo-nada.
Então, o limite do tempo de uma vida é o limite trágico-cômico do ser e do não ser. Não encontramos a fonte da imortalidade e temos que escolher constantemente. Como sabemos, escolher é deixar de lado outras possibilidades.
É trágico porque não importa quanto você se esforce, nem quantos livros motivacionais você leia, nem de autoajuda, nem quanto de tempo de análise ou psicoterapia você faça, você tem uma certa quantidade de horas para viver. (E o mistério do futuro não te permite saber ao certo, quantas).
E é cômico pela razão idêntica. No final, milhões de preocupações cotidianas se tornam irrelevantes, como distrações a consumir o teu tempo precioso.
O tempo psicológico
O tempo psicológico é um outro tema que devemos tratar em outro momento, com mais calma. Aqui basta dizer que o tempo que vivemos, dentro de nós, não é o tempo do relógio. Um ano para uma criança de 2 representa 50% de sua vida e um ano para uma pessoa com 50 anos representa apenas 2%. Para uma adolescente de 18 anos, 2006 é há uma eternidade e para mim faz pouco tempo, foi quando me formei.
Enfim, o tempo psicológico não acompanha exatamente o tempo cronológico, contudo, por mais que queiramos que o tempo passe mais lentamente (e que não envelheçamos, por exemplo), não há como. Dez anos passam absurdamente rápido… e ninguém te disse quando correr… como diz a música Time, do Pink Floyd.
O jeito é olhar para frente e ver e sentir e querer realizar o que quer que seja. Abujamra dizia: “A vida é sua, estrague-a como quiser”.
Leia também – Se tudo der certo, o que você estará fazendo daqui a 10 anos?
Conclusão
É engraçado escrever como que por aforismos, pensamentos soltos. A conclusão é que a vida tem uma conclusão. O que é embaraçoso, absurdo, onírico. (“Não há rosto que não esteja por dissolver-se como o rosto de um sonho” – Borges). O que fazemos neste meio tempo, entre o dia de hoje e o dia que será o nosso último, é a questão.
O tempo que temos, nos foi dado, não para viver do modo que vivemos, e sim de uma maneira diferente da habitual. LIBERDADE o homem atual é escravo de seu próprio tempo, e que desperdiça com vãs quimeras (ilusão). O homem atual vive dormitando, Acha seu tempo curto e não sabe aproveitá-lo de maneira adequada. O homem atual é escarvo de seu próprio tempo
Parabéns, esse texto fala profundo, sempre tenho acompanhado e aprendido muito com os seus textos, obrigado e continue firme.
Prezado professor Felipe,
Quero agradecer pelas suas postagens, eu realmente gosto de lê – las, e principalmente pela sua disposição de enviá-las, pois além de serem de qualidade, você não cobra por elas.
A última que recebi me chamou muita atenção, “O limite de quem podemos ser”, parece irônico e ao mesmo tempo triste, quando pensamos que somos apenas uma ‘neblina que hoje existe e amanhã desaparece’ ( Tiago cap. 4: 13,14), principalmente levando em conta que existem animais que vivem centenas de anos e árvores que vivem milhares de anos.
Admiro sua disposição e mente aberta para ler uma infinidade de livros mesmo que seja para extrair “uma frase” que possa ser interessante, de certo modo você faz o que um provérbio antigo incentiva “Dê instrução ao sábio e ele se tornará mais sábio”. Provérbios cap. 9: 9.
Por outro lado, e se o limite de tempo que temos não for apenas esse que enxergamos? E se houver algo mais que mereça uma reflexão mais ponderada? Porque o conceito de eternidade parece estar “cravado” em nosso DNA? (Eclesiastes cap. 3: 11); (João cap. 17: 3); ( Apocalipse cap. 21: 3-5).
Nesse contexto, quem prometeria algo a um filho querido que nem em pensamento pretendesse cumprir?
Por favor continue com o seu excelente trabalho, Obrigado.
olá bom dia,
gostaria que me tirasse uma duvida sobre áreas de atuação entre educacional e saúde, pois gostei da psicologia jurídica mas também me encanto pelo social eis a duvida poderia me esclarecer, ou mesmo dar uma sugestão do campo mais propicio para os dias de hoje odoro seus textos, são ótimos e esclarecedores agradeço desde já .
ATT; tâmara castañon.
Por este e outros seus parafraseo o salmista dizendo “lâmpada para os meus pés e luz para o meu caminho é a tua palavra”. Agradeço.
Olá Rogério!
Existem alguns estudos da psicologia da religião que apontam que toda cultura é platônica, no sentido de que toda cultura tem uma ideia (até relativamente parecida) do pós-morte, com a existência de uma alma ou espírito. Curiosamente, a psicologia é o estudo da psique – palavra grega para alma.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Tamara,
A área mais propícia de atuação é a área mais propícia para ti. Ou seja, cada um deve procurar se encontrar entre as possibilidades existentes no mercado. Como diz Jung: “Uns sapatos que ficam bem numa pessoa são pequenos para uma outra; não existe uma receita para a vida que sirva para todos”
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Belíssimo tema e texto Felipe, sempre leio o seus textos e reflito-os bastante. Nos preocupamos com o tempo (biológico e cronológico) a todo o instante, quando deveríamos estar apenas vivendo e procurando fazer desses momentos os melhores mais vividos.
PUTZ…fantástico…obrigada.
Obrigado Felipe pelo texto e temas que postas !..”São pérolas em autoavaliações e reflexões…que nos tiram da zona de conforto’…Agradeço pela oportunidade de ler e confrontar idéias e pensamentos, de novos conhecimentos que passas”…
Sou muito grato Felipe por esta oportunidade!…Charles/Floripa/SC.
Muito legal! Estou adorando os posts desse site.