Uma diferença pouco estudada e conhecida.
Olá amigos!
No nosso Curso em Vídeo sobre o DSM-5 (Principais modificações com relação ao DSM-4), estamos estudando agora o TOC, o Transtorno Obsessivo-Compulsivo. E surgiu uma dúvida referente à diferença entre o TOC e a Personalidade Obsessivo-Compulsiva.
Na lição, vemos que o TOC ganhou nesta nova versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais um capítulo específico e, assim, saiu da inclusão anterior como sendo um Transtorno de Ansiedade. Além disso, tivemos a inclusão de outros transtornos como o transtorno de acumulação, escoriação, dismorfia corporal e tricotilomania como transtornos relacionados ao TOC.
Mas e quanto à dúvida? Qual é a diferença existente entre o TOC e o Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsivo? Vamos ver os critérios para um e para outro, segundo o DSM-5, a fim de entendermos melhor:
Transtorno Obsessivo-Compulsivo – 300.3 (F42)
A) Presença de obsessões, compulsões ou ambas:
Obsessões são definidas por (1) e (2):
1) Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento, durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e indesejados e que, na maioria dos indivíduos, causam acentuada ansiedade ou sofrimento.
2) O indivíduo tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação.
As compulsões são definidas por (1) e (2)
1) Comportamentos repetitivos (p. ex, lavas as mãos, organizar, verificar) ou atos mentais (p. ex, orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que o indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas.
2) Os comportamentos ou os atos mentais visam previnir ou reduzir a ansiedade ou o sofrimento ou evitar algum evento ou situação temida; entretanto, esses comportamentos ou atos mentais não tem uma conexão realista com o que visam neutralizar ou evitar ou são claramente excessivos.
Critério B:
As obsessões ou compulsões tomam tempo (p. ex. tomam mais de uma hora por dia) ou causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional, ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
Critério C:
Os sintomas obsessivo-compulsivos não se devem ao efeito de uma substância (p. ex. droga de abuso, medicamento) ou outra condição médica
Critério D:
A perturbação não é mais bem explicada pelos sintomas de outro transtorno mental.
Especificar se:
Com insight bom ou razoável
Com insight pobre
Com insight ausente / crenças delirantes
Diagnóstico diferencial com relação ao Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsiva:
“Embora o transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva e o TOC tenham nomes semelhantes, suas manifestações clínicas são bem diferentes. O transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva não é caracterizado por pensamentos intrusivos, imagens ou impulsos ou por comportamentos repetitivos que são executados em resposta e essas intrusões; em vez disso, ele envolve um padrão mal-adaptativo duradouro e disseminado de perfeccionismo excessivo e controle rígido. Se um indivíduo manifesta sintomas de TOC e transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva, ambos os diagnósticos podem ser dados” (DSM-5, p. 241-242).
Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsiva – 301.4 (F60.5)
Um padrão difuso de preocupação com ordem, perfeccionismo e controle mental e interpessoal à custa de flexibilidade, abertura e eficiência que surge no início da vida adulta e está presente em vários contatos, conforme indicado por quatro (ou mais) dos seguintes:
1) É tão preocupado com detalhes, regras, listas, ordem, organização ou horários a ponto de o objetivo principal da atividade ser perdido.
2) Demonstra perfeccionismo que interfere na conclusão de tarefas (p. ex, não consegue completar um projeto porque seus padrões próprios demasiadamente rígidos não são atingidos).
3) É excessivamente dedicado ao trabalho e à produtividade em detrimento de atividades de lazer e amizades (não explicado por uma óbvia necessidade financeira).
4) É excessivamente consciencioso, escrupuloso e inflexível quanto a assuntos de moralidade, ética ou valores (não explicado por identificação cultural ou religiosa).
5) É incapaz de descartar objetos usados ou sem valor mesmo quando não têm valor sentimental.
6) Reluta em delegar tarefas ou trabalhar com outras pessoas a menos que elas se submetam à sua forma exata de fazer as coisas.
7) Adota um estilo miserável de gastos em relação a si e a outros; o dinheiro é visto como algo a ser acumulado para futuras catástrofes.
8) Exibe rigidez e teimosia (DSM-5, p. 678-679).
Diagnóstico diferencial com relação ao TOC:
Apesar dos nomes semelhantes, o transtorno obsessivo-compulsivo costuma ser distinguido do transtorno da personalidade obsessivo-compulsivo pela presença, no primeiro, de obsessões e compulsões verdadeiras. Quando atendidos os critérios para os dois, ambos devem ser registrados (DSM-5, p. 681).
Conclusão
A principal definição para o TOC é a presença de obsessões e compulsões:
Obsessões: pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são vivenciados como intrusivos e indesejados.
Compulsões: são comportamentos repetitivos ou atos mentais que um indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser aplicadas rigidamente.
Ainda que tenham nomes praticamente idênticos, a diferença essencial entre o TOC e o Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsivo é a presença ou ausência dessas obsessões e compulsões (e a reação da pessoa à tais obsessões e compulsões). De modo que na personalidade obsessiva o principal é a presença da preocupação com ordem, perfeccionismo e controle mental.
Olá, Felipe! Este tema me esclareceu muito bem à respeito do TOC. Eu estou com um problema e gostaria de uma “mãozinha” sua. Às vzs, à noite, antes de dormir, eu sou invadida por um medo muito grande. Penso que alguma coisa ruim vai me acontecer ou acontecer com minha família. Então eu oro. Esse medo só passa quando eu abraço meu marido ou os meus filhos. Me lembro que quando criança, a minha mãe uma vez pegou uma arma do meu pai e ficou na janela espreitando o “suposto” inimigo. Não tinha ninguém nos ameaçando. Minha mãe tinha problemas mentais. Ela nos colocou no quarto dela e ficou gritando para que o inimigo aparecesse. Então os vizinhos chamaram meu pai e ela deu a arma pra ele e ninguém se machucou. Às vzs, eu tbm tenho necessidade de proteger meus filhos e meu marido, e então sou invadida por esse medo. Vc poderia me ajudar a entender pq sinto isso? Obrigada!
Gostei do texto escrito.
Obrigada.
Rosa Maria pereira Costa
Dou-lhe os meus parabéns pela iniciativa e exposição clara sobre o assunto.
Acho então que tenho os dois!
Olá Zípora,
Então, talvez você já tenha achado a origem deste medo (na infância). É importante observar que o medo ativa uma região muito “primitiva” do nosso sistema nervoso – uma região que não conseguimos controlar conscientemente. É a famosa reação de luta ou fuga e tem uma função de proteção.
Uma dica é você se certificar que está tudo certo (por exemplo, tudo fechado) e tentar realizar algumas técnicas de relaxamento (como orações, meditações, etc).
Talvez o medo não acabe de todo, mas ao entender os motivos – e de que o medo é positivo pois nos protege – podemos diminuir estas respostas do nosso corpo e viver melhor mesmo sentindo certas sensações.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Boa tarde professor! Você poderia fazer um tópico sobre Transtorno Bipolar? Eu tenho essa doença e mesmo sabendo que tenho, ainda me dão episódios depressivos tão fortes que chego a auto-mutilação. Já li em vários sites sobre a doença. Depois de navegar um pouco pelo seu site, percebi que você é uma pessoa bastante inteligente. Acho que sua explicação sobre Transtorno Bipolar poderia ajudar muita gente.
Obrigada, Felipe! Eu faço minhas orações todos dias. Sou religiosa. Não queria ser tanto pq sei que isso n faz bem, tudo que nos desequilibra é ruim, n é mesmo? Mas não deixo de falar com Deus todos os dias. Creio em Deus e estou caminhando para crer em Jesus! Ainda não sou cristã de verdade, mas busco ser. Não sou pq tenho muitas dúvidas e enquanto eu não obter as respostas eu não consigo crer em Jesus. Mas respeito muito! E um dia eu já cri em Jesus, porém minha mente se abriu pra muita coisa e perdi minha fé. Obrigada por sua atenção! Vou procurar a causa do meu medo!
Olá!
Escrevi aqui sobre os 2 Tipos de Transtorno Bipolar:
https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/2015/06/os-2-tipos-de-transtorno-bipolar-dsm-5.html
em qual das duas se encaixam os acumuladores? Pode falar mais a respeito?
Olá Katia,
O transtorno de acumulação é um transtorno à parte. Mas, como está incluído no capítulo do TOC e Transtornos Relacionados, me parece que podemos dizer que está mais próximo do TOC do que da Personalidade Obsessivo-Compulsiva, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza