E quando termina… querer voltar.
Olá amigos!
Há um tempo atrás, um querido leitor do site, o Luiz, nos sugeriu o seguinte tema:
“Sugiro um texto sobre a acomodação noa relacionamentos. Aquela coisa de quando está com a pessoa, quer acabar o namoro, mas quando acaba (depois de tempo), quer voltar. Quero entender – a partir da sua ótica – essa sanfona emocional”.
Portanto, hoje vamos falar sobre este tema.
Acomodação nos relacionamentos
Existem dois aspectos que nos levam a pensar na diferença existente entre o começo de um relacionamento e o que acontece um tempo depois:
Por um lado, existe o aspecto bioquímico do fenômeno que chamamos de se apaixonar. Ou seja, o corpo libera determinadas substâncias durante um certo tempo (entre 1 a 2 anos, em média) e depois as mesmas substâncias param de ser liberadas.
Saiba mais aqui – O amor e outras drogas
E, por outro lado, algo parecido acontece com a nossa psique. Em uma disciplina inicial da faculdade de psicologia, Processos Básicos, aprendi que é natural que nos acostumemos com um estímulo com o passar do tempo.
Por exemplo, alguém que mora perto de um lugar fétido como um lixão ou um matadouro, com o tempo, nem nota o cheiro forte que dali emana. Isso acontece com todos os outros sentidos. Passamos a não notar os barulhos do trânsito ou as cores do azulejo do banheiro.
Levando estes dois aspectos para o relacionamento, veremos que existe a tendência de haver acomodação, se o sentido desta palavra for de se criar o hábito de não olhar, não observar, não atentar para a outra pessoa.
Um outro detalhe que não deve ser desconsiderado é que, decorrido um período, muitas pessoas também passam a entender que não existe mais a necessidade de “conquistar”, de modo que o relacionamento já é dado como algo existe e real, no qual não se precisa investir tanto quando no início.
É engraçado pois a ideia de conquistar implica um tipo de associação ligada à guerra e ao domínio. Afinal, muita gente pensa que é dono da outra pessoa com quem se relaciona e não é a toa que os ciúmes sejam um problema tão grande…
O que fazer para melhorar?
Nem toda dica de mudança de comportamento – se é que podemos dizer assim – é válida para todo mundo. Mas existem algumas direções que podem ser tomadas para melhorar o relacionamento para que não exista a sanfona sobre a qual o Luiz salientou. Quer dizer, há a habituação, a acomodação, talvez o desinteresse. Depois de brigas ou de distâncias, o relacionamento termina. Após o término, reaparece a saudade, a vontade de estar junto, o desejo. E se o casal reata, não muito depois, talvez nasça a mesma sensação de estar acostumado e, portanto, pouco esforço ou dedicação.
Bem, se o objetivo é construir um relacionamento sério e duradouro, é provável que algumas concepções tenham que ser alteradas.
Primeiro, a ideia de uma paixão avassaladora e constante não se sustenta no longo prazo. Vinícius de Morais, o poeta apaixonado e que casou 9 vezes dizia “que seja eterno enquanto dure”. Era eterna a paixão, mas como mencionei acima, tem um prazo de duração relativamente curto. Por isso, acabava e ele, que estava em busca da paixão, terminava.
Na verdade, não existe um erro fundamental na perspectiva do Vinícius, mas se o objetivo for criar um relacionamento com uma única pessoa, este não deverá se basear apenas na paixão. Se a paixão for o centro, tenderá a acabar e a renascer no apaixonar por outra pessoa.
Portanto, para que o relacionamento ultrapasse a paixão, deverá se consolidar sob outras bases como o companheirismo, a afinidade, objetivos em comum.
Segundo, a ideia de posse deve ser rechaçada. A linguagem infelizmente nos ajuda a confundir. Dizemos “minha namorada / meu namorado”, “meu marido / minha esposa” e o possessivo indica uma posse… como se a outra pessoa não tivesse autonomia e fosse um objeto que detemos.
Digo que a ideia de posse deve ser deixada de lado porque – além de ajudar a diminuir o ciúme – a ausência de posse permite um outro tipo de relacionamento. A outra pessoa não é alguém que se conquistou (de uma vez por todas). A outra pessoa é, em todos os sentidos, uma outra pessoa!
E, por isso, é alguém com quem devemos compartilhar bons momentos. Além do que, sendo uma outra pessoa, terá necessidades e desejos próprios e alheios aos nossos. O que nos leva ao terceiro ponto.
A necessidade de se ter mais atenção
Lembra que falei que, com o tempo, nos acostumarmos com os estímulos (o que vemos, ouvimos, cheiramos, tocamos, degustamos)? Isso significa, na verdade:
– não vemos
– não ouvimos
– não cheiramos
– não tocamos
– não degustamos…
Pelo menos, não conscientemente, não atentamente. E a ausência da atenção é muito prejudicial a qualquer relação. Assim como não nos sentimos bem quando alguém finge que está nos ouvindo mas não está… a outra pessoa certamente não vai gostar.
Portanto, voltar a atenção para o momento presente e para a pessoa com a qual estamos nos relacionando proporciona uma melhora sensível e imediata.
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Conclusão
Um fator fundamental, para concluirmos, é entender o próprio desejo. Para simplificar, podemos dizer que o desejo se relaciona com o que queremos (e o que queremos mas não sabemos que queremos, ou seja, o que ainda é inconsciente).
No final das contas, a decisão de começar, terminar e/ou recomeçar um relacionamento vai depender do desejo. Ao menos, do desejo de uma das partes.
O problema é que o desejo é traiçoeiro, ou seja, ele pode aparecer na ausência: que não é nada mais do que querer o que não se tem. Por outro lado, quando há a vontade de reatar quando há a saudade, é importante investigar se não se trata de posse.
Portanto, não existe uma resposta pronta e válida para todos. No final de cada dia, temos que nos perguntar: “o que eu quero?” e lidar com as consequências do próprio desejo – e, talvez, com o sofrimento relacionado.
Dúvidas, sugestões, comentários, por favor, escreva abaixo!
Por que as pessoas hoje se preocupam em ter relacionamentos apenas pelas afinidades e objetivos comuns e não gostam da pessoa em si com todos os defeitos que ela tem? Onde tem relacionamentos baseados numa vida ultra colorida esquecendo que a vida é uma montanha russa?
Boa noite professor! E quando sentimos a falta da pessoa porém quando ela esta com a gente não vemos a hora dela ir embora o que seria isso professor?
Um grande abraço.
Maravilhoso texto! Bem desenhadinho tudo o que realmente acontece, curioso como somos complexos não é mesmo? Parece que no fundo percorrer o caminho parece ser mais interessante (ao menos inconscientemente) do que a chegada, pq sempre desejamos o que não temos, viver é realmente um mistério.
Felipe, texto muito bem escrito.
Você instiga a arte da dúvida e auto-crítica, de uma maneira positiva é claro. Repensar nossos conceitos é fundamental, pois só assim saberemos de fato o que nos interessa e qual caminho devemos traçar.
Devemos saber que todas as atitudes aplicam perdas e ganhos, temos de saber lidar com isso.
De grandes sonhos vem grandes conquistas.
Olá Jessamine!
Na verdade, uma coisa não exclui a outra. A ideia de ter objetivos em comum é que, segundo diversas pesquisas, quando os objetivos são muito diferentes, tendem a gerar brigas e, eventualmente, ocasionar o término. Por exemplo, uma pessoa quer ter filhos e a outra não. Portanto, não há um objetivo importante em comum. No curto prazo, isso pode ser tranquilo de lidar, mas com o tempo pode gerar conflitos.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Sérgio!
Talvez um conflito entre querer e não querer ou então gostar de algumas características da pessoa e não de outras…
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Terminei um namoro recentemente e assim como os anteriores (2) com um passar da média de 8 meses, havia aquela acomodação, que meus parceiros não enxergavam ou não admitiam, pensavam que meu amor estava conquistado e garantido, e mesmo com meu esforço e persistência, eles não entendiam e nem se esforçavam da mesma forma, acabei terminando e hoje entendi que apesar de ter que haver atracao, paixão e desejo a prioridade é o envolvimento com alguém com que eu tenha afinidade e que possua uma visão e mentalidade parecidas com a minha pelo menos em relação a relacionamentos e claro afinidade pq depois que a paixão esfriar é isso que resta. Obrigada pelo texto, parabéns, muito bom e esclarecedor! :)
Boa noite professor!
Trabalhar as diferenças talvez seja isso a não aceitação de algumas características. Se todos fossem iguais que graça teria ???
Grato professor
O que fazer quando um já não tem assunto com o outro e qualquer coisa é motivo para discutir?
Verdade Sérgio!
Como dizia James Hillman, a metáfora da psicologia é a existência da individualidade.
Oi felipe tudo bem sou estudante de psicologia 6 semestre e estou com confritos internos, a pessoa que estou é muito boa pra mim estamos a 10 anos juntos 2 filhos mas o relacionamento esfriou e muito tanto q a vontade de separar é grande mas tenho medo de perde uma pessoa especial e me arrepender. A cituaçao esta dificil pois parecemos 2 irmaos e todos nos precisamos de carinho, o q devo fazer nesse caso?
Olá Regiane,
Neste caso é importante fazer terapia, ok?
A terapia vai te ajudar a entender melhor a relação e a avaliar o que deseja.
Olá Rosangela!
Esta é uma questão interessante. O diálogo é fundamental para um relacionamento. Quando não há diálogo ou quando as brigas são frequentes, é preciso avaliar o que está acontecendo. Se o desejo é continuar com o relacionamento, é preciso mudar. E cada um tem 50% da responsabilidade, como sabemos…
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Vinicius de Moraes não disse “que seja eterno enquanto dure”, e sim, “que seja infinito enquanto dure”. Perdão pela correção, mas eu sou apaixonada por este soneto, e entre eterno e infinito tem uma diferença.
Ah, amei o texto. Muito bom!!!!
Verdade Clycia, obrigado!
Prezado,
Tenho procurado muito na internet e não encontro um texto que responda a mesma pergunta trazida aqui, mas pelo olhar dá crença de desamor citada na TCC. Que tal se você nos presenteasse com um texto assim? Por que insistimos na crença de sempre “ter” (ou estar com) alguém?
Farei sim! Obrigado pela indicação!