Antigamente, mas não necessariamente há muito tempo atrás, as meninas tinham o hábito de ter e manter um diário. Lembranças, sonhos, vontades tudo era anotado com regularidade.
Mais recentemente, com o surgimento e popularização da Internet, os diários viraram diários virtuais, blogs. Quando comecei a publicar as matérias de psicologia, ainda como um blog no blogger, tive contato com centenas de blogs, também, em sua maioria, de garotas.
Indepente da questão de gênero, tais pessoas publicavam sobre os mais variados assuntos. Alguns mais pessoais, outros menos. Um sobre moda, outro sobre cinema e outro sobre poesias originais.
Pouco tempo depois, com o nascimento e crescimento das redes sociais, os blogs foram lentamente caindo em desuso, embora existam milhares de pessoas que continuam escrevendo.
Sendo em um caderninho trancado a sete chaves em uma gaveta de armário ou para ser lido por quem quiser, o hábito de escrever é muito salutar. Em muitos casos, escrever é o melhor remédio.
Mas por que?
Bem, em primeiro lugar é um ato de coragem colocar para fora o que se sente e pensa. Enfrentar a folha em branco, ou a tela, e ir devagar e sempre criando um sentido – ou desfazendo sentidos.
Em segundo lugar, ao contrário de falar, escrever é uma atividade solitária. É preciso ter tempo para ficar sozinho. Como se diz, passar a compreender que não é possível tirar férias de si mesmo.
E, em terceiro lugar, escrever nos permite ter autoconsciência. Autoconsciência significa refletir. Grafando as palavras em um objeto externo, podemos olhar o que temos pensado como podemos olhar para nós mesmos no espelho.
A diferença enrtre falar e escrever
Segundo o filósofo do desconstrutivismo, Derrida, a nossa cultura grego-romana valorizou mais o falar do que o escrever. O sábio, o mestre, não escreve. Prefere falar com seu discípulo. Assim foi com Socrates e Epiteto.
Outros, como Platão e Aristoteles, escreveram e muito. Porém, nem por isso o argumento de Derrida é invalidado, porque o fundamental da sabedoria era passado de boca para ouvido. Seriam os conhecimentos esotéricos (embora muitos duvidem de que tenha valor ou que tenha de fato acontecido).
De toda forma, a perspectiva falocentrica (que valoriza a fala em detrimento da escrita) se consolidou.
A psicologia clinica, a seu modo, também é herdeira desta tradição. O sujeito sofredor precisa falar. E o sujeito sofredor precisa de alguém não só para lhe ouvir, como precisa de alguém para lhe ajudar a pensar ou a interpretar.
Com isso, questiona-se a viabilidade de um trabalho individual, solitário, de escrita.
Quase que exceção à regra, temos a técnica da imaginação ativa da psicologia junguiana. Entre outros comportamentos valorizados ligados à arte, temos a escrita como uma ferramenta de autoconhecimento.
Ao invés da associação livre, quem quiser e estiver em um processo de análise junguiana deve expressar, mais para si mesmo, o que quer que lhe venha. E ter um themenos (um lugar só seu) para ter espaço para se reencontrar.
Quando digo que escrever pode ser o melhor remédio, não pretendo desdenhar de outras técnicas ou até medicamentos se necessários.
Entretanto, com a escrita cria-se um arquivo e alimenta-se a memória. Não raro encontramos, quando escrevemos, idéias que já estavam ali há muito tempo. Só tínhamos e esquecido. Ao reencontrar um pensamento perdido, ficamos espantados e dizemos algo como – “nossa, olha, eu já pensava assim há anos!”
Ou então: – “olha como eu pensava diferente!”
Pelo bem do arquivo, como os poetas memorialistas mineiros, recomenda-se não jogar nada fora. Nem uma frase escrita em um papel de pão.
Por outro lado, também existe a técnica de escrever e não ler imediatamente. Dar tempo e espaço para que o pensamento se assente. Para evitar a autocritica e não permitir que a crítica paralise as palavras a serem escritas depois.
Por fim, e estas são as últimas dicas, devemos:
– escreva com regularidade. Os antigos diários, como o próprio nome já indica, são alimentados todos ou quase todos os dias.
– esqueça as regras. Erros de ortografia e gramática são só erros de ortografia e gramática. Não que não sejam importantes, apenas não devem estancar o fluxo de pensamentos.
– se você gosta que os outros leiam o que você escreve, sem problemas. Somente atente para ter ao menos uma possibilidade de poder escrever o que é secreto e por demais pessoal em um local igualmente secreto, com cadeado ou senha.
Oi Felipe
A atividade da escrita é realmente muito interessante e altamente reflexiva. Na adolescência iniciei a escrita de diários, como uma experiência pessoal. Sempre gostei de escrever e as questões principais que me levaram a escrever diariamente coisas pessoais de uma forma bem livre foram mais ou menos essas: será que tenho assuntos internos suficientes para preencher uma página por dia? Será que as minhas ideias e pensamentos sempre vão ter originalidade? Até onde vou conseguir manter o hábito de escrever e o que vai se revelar na escrita?… Enfim, muitos questionamentos que me deixaram curioso. Escrevi diários por uns 5 anos. Foi muito interessante mesmo, e também útil, para que eu pudesse elaborar coisas que aconteciam na minha vida.
Algum tempo atrás, eu ainda tinha os diários guardados, mas os reli com calma (e me surpreendi com muitas coisas escritas), aproveitei algumas ideias que havia estocado e me desfiz de todo o resto. Hoje mantenho há quase um ano um diário de sonhos num blog (privado), onde registro detalhadamente todos meus sonhos quase diariamente. A experiência é incrível.
Olá, Felipe, concordo com seu texto. Agora em 2015, criei meu diário pessoal, e deixo aqui o endereço caso alguém queira visitar.
https://disembosom.wordpress.com/
Olá, Felipe. Estou cursando o 3° ano do ensino médio e pretendo fazer faculdade de psicologia, mas tenho algumas dúvidas relacionadas à formação. Assim que eu terminar a faculdade de psicologia eu poderei trabalhar em um consultório, escola e em alguma empresa ou é necessário ter algum tipo de especialização sobre essas áreas onde o psicólogo pode atuar? Quando eu termino a faculdade é preciso me especializar em uma das áreas da psicologia? Mesmo depois de ter me especializado em psicanálise, posso trabalhar em outros lugares fora do consultório? Quanto tempo demora uma especialização em psicanálise?
Agradeço desde já pela resposta e estou gostando muito do seu blog, com certeza é um dos melhores. Sucesso!
Escrevo todos os acontecimentos marcantes da minha vida, no meu diario. Até meus sonhos sao registrados. amo escrever.
Eu escrevo faz um bom tempo já. Quando eu entrei em uma fase muito difícil, eu escrevia muito mais, uns 3 textos por dia!! Hoje eu já não escrevo textos deprimentes igual antes, optei em escrever textos de autoajuda para ajudar outras pessoas e pretendo crescer com isso. Estou me preparando para começar a escrever um livro esse ano, se puder me dar algumas dicas fico agradecida. Beijos.
Olá José Matheus,
Depois de ter a graduação você poderá atuar em qualquer uma das áreas da psicologia (exceto talvez a psicologia do trânsito que exige especialização prévia).
Sobre psicanálise, veja aqui – https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/2014/01/os-melhores-cursos-de-psicanalise.html
Olá Thalyne,
Uma dica que poderia lhe dar desde já é o livro O Mensageiro Milionário.
Atenciosamente,
Felipe de Souza