Ao contrário do que podemos imaginar a princípio, nem sempre a psicologia busca mudar profundas causas psíquicas, escondidas e inconscientes. Em muitas situações, é mais simples mudar o ambiente.
Olá amigos!
Ontem eu recebi um email de um querido leitor. Não vou contar os detalhes, claro, por ser um email pessoal. Mas a resposta que lhe dei creio que pode ser útil para muita gente. Na verdade, acredito que pode ser útil para todos nós olharmos por esta perspectiva de tempos em tempos.
Em muitos e muitos casos que aparecem no consultório de psicologia, não se trata de mudar o que está dentro, o “interior”, a personalidade, a essência individual. Em muitos e muitos casos, é muito mais fácil, simples e prático mudar o que está fora, o exterior, o ambiente.
Por exemplo, uma criança de 5 anos de idade, que acabou de entrar para a escola e não se adaptou aos colegas nem aos funcionários, pode ser transferida para outra escola e, instantaneamente, fazer amizades e passar a gostar muito de ir para a escola.
Este é um exemplo, apenas um dos muitos que podemos pensar, de como é mais simples, fácil e prático mudar o que está fora e não procurar mudar o jeito da criança interagir ou ser.
Podemos pensar em outras situações no trabalho e nas relações sociais também e ficará claro o que queremos dizer aqui com esta mudança exterior. Um chefe que chama o funcionário de imbecil ou burro, uma amiga que sempre reúne argumentos para te deixar para baixo chamando a suposta amiga de feia ou gorda, um pai que grita o tempo todo e para quem nada parece ter sido feito com perfeição são outros exemplos de que a questão pode ser mais externa do que interna.
A frase acima: “antes de se autodiagnosticar com depressão ou baixa autoestima, assegure-se primeiro de não estar rodeado de babacas” é atribuída erroneamente a Freud. Segundo pude investigar, ela foi dita por Steven Winterburn: “Before you diagnose yourself with depression or low self esteem, first make sure you are not, in fact, just surrounded by assholes”.
Mudar o que está fora, não o que está dentro
Uma grande parte da psicologia é introvertida, ou seja, tem a tendência de buscar a interioridade do sujeito. Evidentemente, este é um ponto de vista válido que traz muitos resultados importantes na clínica. Mas a perspectiva extrovertida não deve ser desconsiderada.
Em outras palavras, a investigação das causas do comportamento não deve ser buscada apenas no modo como o sujeito interpreta o seu ambiente, mas também no próprio ambiente.
E, de novo, podemos pensar em alguns exemplos simples para entendermos esta perspectiva que é bastante forte na psicologia comportamental.
1) Se você tem o vício de ficar horas e horas em frente ao seu computador, tablet ou smartphone… o que acontece se o ambiente te força a parar? Como quando a internet é cortada por um problema técnico ou falta luz em seu bairro?
2) Se você está de dieta e não quer comer bolachas recheadas e nem chocolate, não seria melhor mudar o seu ambiente e não comprar este tipo de alimento? Afinal, se você tiver que ir até o supermercado para comprar, talvez não vá, e não coma.
3) Se você acabou de terminar um relacionamento e não quer de jeito nenhum tentar uma reaproximação, de nada adianta ficar vendo fotos antigas de vocês juntos ou investigando o perfil (dele/dela) nas redes sociais, não é mesmo?
Bem, estes são exemplos pontuais que nos ajudam a ilustrar como em muitas situações, podemos mudar a nossa maneira de pensar, sentir e nos comportar sem ter que investigar o passado longínquo, sem ter que encontrar razões intrínsecas, sem ter que analisar sonhos ou complexos.
Uma piada para ilustrar
Durante longo tempo, mesmo sendo homem já feito (com mais de 40 anos), ele não conseguia dormir direito. Não era uma insônia pelas preocupações do momento, ou felicidade por ter conseguido o que queria: tinha medo do monstro embaixo da cama.
Todos podiam ver suas olheiras fundas e sua cara de cansado, o que era tão evidente que seu amigo lhe perguntou:
– O que você tem? Você não parece estar lá muito bem!
– É que não consigo dormir. Posso lhe confessar uma coisa?
– Claro! Não é para isso que servem os amigos? Pode confiar em mim.
– Então… é que… (vacilou ele)…é que eu tenho um medo desde pequeno. Não consigo dormir porque fico imaginando que tem um monstro embaixo da minha cama.
– Porque você não procura um psicólogo?
– Boa ideia, respondeu ele. Talvez seja isso o que eu tenha que fazer.
Na semana seguinte se reencontraram. O rosto já estava melhor e o amigo lhe perguntou:
– Procurou o psicólogo? Está fazendo terapia ou análise?
– Não, sabe que não? Tive uma ideia melhor: estou dormindo no chão. Assim não tem como ter um monstro embaixo da cama!
Conclusão
Uma crítica que é frequentemente feita à psicologia comportamental e à tentativa de mudar o meio ambiente que nos cerca, em vez de buscar as causas mais profundas, é de que assim, tratamos os sintomas e não o problema em si. Embora isto possa ser uma verdade em certos transtornos (como o transtorno obsessivo-compulsivo), o alívio de uma dificuldade emocional constituiu sempre um aumento na qualidade de vida.
Se formos fazer uma analogia com sintomas físicos, se você está sentindo uma dor de dente, certamente quererá um alívio para esta dor. Este alívio pode ser transitório e impermanente, se for um problema simples. Agora, se a dor persistir, uma avaliação mais completa deverá ser feita e um tratamento mais duradouro e complexo realizado.
Ou seja, se o sujeito da piada acima continuar sentindo medo (em outras situações que não o medo de um monstro embaixo da cama), é sinal de que o medo pontual era apenas um sintoma de um problema maior. Se, depois de tratado o medo do monstro embaixo da cama com uma solução externa, não houver nenhum outro sofrimento, então estará tudo ok, ao menos por enquanto.
Felipe, pra mudar precisamos querer, certo?
Daí pensei: se as pessoas soubessem o que é uma terapia tudo seria mais fácil.
Essas questões relacionadas à insatisfações, inseguranças, inconformismos, trabalhos, bloqueios e medos na maioria das vezes são analisadas e tratadas pelo psicólogo de uma maneira simples.
Depois de um tempo, você leva o problema para o profissional e já adianta a solução – divide até as ideias rsrsr. A partir desse momento, quando nos apropriamos da nossa verdadeira responsabilidade com limites, o nível de compreensão melhora, por esse motivo aprendemos a ver as coisas por outro ângulo e sem sofrimentos.
Na minha opinião vale a pena conhecer esse universo chamado terapia! Abs,
Oi Dr Felipe. É sempre um prazer ler seus e-mails e visitar o seu site, realmente muito claro, objetivo e edificante. Aprendo muito com vc. Obrigada mesmo!
Gostaria de ler algo sobre aceitacao do corpo imperfeito, (gordo ou magro demais) e qual a relacao da não aceitacao, seguida de uma preocupocao obsessiva e perfeccionista, com o narcisismo. Será que existe relaçao entre estes aspectos?
Oi Raquel!
Eu compartilhei uma frase do DW – Learn German – que é uma página do facebook da Deutsch Welle que tem diversos cursos de alemão gratuitos – uma frase que dizia assim: “Ein Freund ist ein Mensch, vor dem man laut denken kann” – em tradução livre seria algo como: “Um amigo é uma pessoa com quem você pode pensar alto”.
Bem, os amigos, como diria Drummon no Poema de Sete Faces, são raros e poucos (para quase todo mundo, no mundo). E, assim, embora a terapia não seja uma amizade, dizendo propriamente, é também um lugar no qual podemos pensar alto e, portanto, podemos ter uma visão diferente da nossa visão e só pelo fato de dizermos em voz alta, já passamos a nos compreender melhor.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Maria!
Obrigado!
É um excelente tema! Prometo escrever de maneira específica sobre, ok? Mas desde já, gostaria de sugerir a leitura do Adler. Temos o seguinte Curso gratuito sobre a Psicologia Individual – Psicologia Individual de Alder
O Adler teve raquitismo e começou a andar com 4 anos de idade. Ele criou então a ideia de complexo de inferioridade e complexo de superioridade.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe, estou acompanhando a sua pagina a pouco tempo, mais fico encantada com os seus artigos, eles são bastante claros e a conclusão então, nem se fala, parece que abre uma luz na cabeça da gente. ultimamente estou vendo umas cadeiras na faculdade na qual já tirei alguns exemplos dos seus artigos pra facilitar o entendimento da turma em apresentações de trabalhos.
Vendo a sua clareza, acredito que irá me ajudar a esclarecer minhas ideias sobre um assunto. Gostaria que publicasse algo sobre ejaculação precoce, como podemos melhorar esse situação através da psicologia, a onde entra o psicológico nesse assunto físico. É mais ou menos isso, mais em fim algo que trate do assunto de forma mais clara.
Obrigada pela atenção!
Abç!
Erika Cardoso
Há, se puder indicar algum livro ou material onde eu posa encontrar algo pra um maior entendimento sobre esse assunto sitado no comentário a cima, ficarei grata!
Olá Erika!
Obrigado pelos elogios!
Fico feliz que esteja gostando do site!
Já escrevemos sobre este tema.
Veja aqui – Ejaculação Precoce – Problema de Funda Emocional
Atenciosamente,
Felipe de Souza