Como a psicologia comportamental explica o amor? Neste texto, vamos explicar o conceito de reforço positivo através da psicologia comportamental de Skinner e entender a frase “O que é o amor exceto outro nome para o uso do reforçamento positivo?”
Olá amigos!
Hoje gostaria de conversar com vocês sobre uma frase de B. F. Skinner, na qual ele utiliza um conceito da psicologia comportamental criada por ele para definir o amor. Skinner diz: “O que é o Amor se não outro nome para reforçamento positivo?”
Se formos na fonte original, em inglês, no livro Walden Two, leremos: “What is love except another name for the use of positive reinforcement? Or vice versa”. Portanto, uma tradução mais adequada seria: “O que é o amor exceto outro nome para o uso do reforçamento positivo? Ou vice-versa”. A diferença entre a frase que lemos normalmente em português e esta segunda tradução é pequena e sutil, porém, ela será significativa para entendermos melhor a relação entre o amor e o reforçamento positivo. Para fazê-lo, nós temos que começar pelo entendimento do que é reforçamento positivo, para podermos então, compreender o que é o amor para a psicologia comportamental a partir de Skinner.
Talvez também lhe interesse – O amor para a psicanálise
O que é reforçamento positivo?
Em 1938, Skinner cunhou o termo condicionamento operante (operant conditioning), que podemos entender como a mudança comportamental de um organismo pelas consequências inseridas após o seu comportamento.
Assim, quando vamos estudar a história comportamental de um organismo (não só do homem), podemos avaliar o aumento ou a diminuição de um dado comportamento como consequência do que ocorreu após o comportamento ser emitido. Se após o comportamento ser emitido nós introduzimos um estímulo que fará o comportamento aumentar de frequência, nós temos um reforço. Se nós introduzimos um estímulo que fará o comportamento diminuir, nós temos uma punição.
Temos, portanto, 4 tipos de consequências que podem ocorrer após um comportamento e fazê-lo aumentar ou diminuir:
1) Reforçamento positivo
2) Reforçamento negativo
3) Punição positiva
4) Punição negativa
Para memorizar a distinção entre estes 4 tipos, é simples: Reforçamento é o que faz o comportamento aumentar de frequência (a pessoa ou organismo faz mais) e punição é o que faz com que o comportamento diminua (a pessoa ou organismo faz menos). O positivo ou negativo diz respeito apenas a se há a introdução de um estímulo no meio ou se há a retirada de um estímulo.
Por exemplo, quando um pai quer aumentar o comportamento do filho de estudar, pode dar um presente se ele tira um boa nota. O presente provavelmente vai aumentar o comportamento de estudar. Então temos a introdução de um estímulo que fará com que o filho estude mais, ou seja, um reforço positivo.
No reforçamento negativo, nós temos o aumento do comportamento com a retirada de um estímulo aversivo. Por exemplo, se eu estou com dor de cabeça (estímulo aversivo), eu posso tomar um remédio para que a dor cesse. Com a retirada da dor, nós temos o provável aumento do comportamento em uma situação futura – o aumento de tomar um remédio para passar a dor de cabeça.
No livro Ciência e Comportamento Humano, Skinner explica do seguinte modo:
“Os eventos que se verifica serem reforçadores são de dois tipos. Alguns reforços consistem na apresentação de estímulos, no acréscimo de alguma coisa, por exemplo, alimento, água ou contato sexual – à situação. Estes são denominados reforços positivos. Outros consistem na remoção de alguma coisa, por exemplo, de muito barulho, de uma luz muito brilhante, de calor ou de frios extremos ou de um choque elétrico – da situação. Estes se denominam reforços negativos. Em ambos os casos o efeito do reforço é o mesmo: a probabilidade da resposta será aumentada” (SKINNER, 2003, p. 81).
Na punição positiva, nós temos a introdução de um estímulo que fará com que o comportamento diminua. É punição porque faz o comportamento diminuir e é positiva porque há a introdução de um estímulo. Se a cada vez que um sujeito disser um cacoete como né, tá ou ok ele receber um tapa na cara, a tendência é que o comportamento de falar o cacoete diminua (punição) com a introdução (positivo) de um estímulo.
E, por fim, na punição negativa, nós temos a retirada de um estímulo que faz com que o comportamento diminua em sua frequência. Se o filho tirar uma nota ruim na escola, o pai pode retirar um estímulo como o celular, o que fará com que o comportamento de tirar notas ruins diminua.
O amor como uso do reforçamento positivo
Sabemos como é difícil definir o amor. Se formos estudar historicamente, veremos tentativas de definição já no Banquete, de Platão. Este, aliás, seria um excelente livro para começarmos a estudar os diversos tipos de amor. O amor romântico, idealizado, o amor erótico, sexual, o amor entre amigos. Mas passando da filosofia grega para a psicologia comportamental, nós podemos dizer que o amor acontece e permanece como resultado do uso do reforçamento positivo.
Para começarmos a análise da frase de Skinner “O que é o amor exceto outro nome para o uso do reforçamento positivo? Ou vice-versa” e, tendo em vista o que aprendemos no tópico acima, vamos utilizar alguns exemplos.
Qualquer observador atento, verá que uma criança pequena, de 4, 5 anos é bastante interesseira. Como o mundo ainda “gira ao redor do seu umbigo”, ela avalia quem ela gosta mais pelo que ela recebe. Se perguntarmos se ela gosta mais da avó materna ou avó paterna, ela poderá dizer: “Gosto mais da minha avó paterna porque ela me dá mais presentes”. E é até interessante notar como muitos adultos continuam mantendo este padrão egoísta. De toda forma, na formulação de Skinner, nós temos que o amor faz uso do reforço positivo. E esta é uma afirmação simples de entender e simples de observar:
Quando um casal está começando um relacionamento, tudo o que há, praticamente, é reforço positivo. Eles se dão presentes, elogios, carícias. Trocam todo tipo de contatos que são prazersos. E quando começa uma briga?
Uma briga começa quando não há o reforço positivo, seja quando há uma punição positiva (a introdução de um estímulo aversivo) ou a punição negativa (a retirada de um estímulo agradável). Por exemplo, quando há uma crítica (punição positiva) ao invés do elogio (reforço positivo), quando não há resposta no whatsapp (punição negativa) ao invés da resposta imediata (reforço positivo).
Eu peguei o exemplo de um começo de um relacionamento porque fica mais claro que quase tudo gira em volta do reforçamento positivo. Além dos comportamentos observáveis, temos que levar em conta o que a neurociência vem descrevendo sobre as substâncias do amor. Quando uma pessoa se apaixona, há a liberação de “substâncias do amor”, que, é claro, vão influenciar também o comportamento.
Leia também – O Amor e outras drogas – Curso de Neurociências Grátis
Com a gradual diminuição destas substâncias, a paixão diminui. Mas o reforçamento positivo, seja em que razão for, não precisa diminuir. Se não diminui, encontramos os relacionamentos duradouros que, apesar do tempo, continuam tão estimulantes quanto no início.
Talvez também lhe interesse – O amor para a psicanálise
muito bom,preciso ser reforçado!
Olá Jonathan!
Obrigado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Café filosófico
Cpfl cultura
Flavio Gikovate
“O Amor que se vai”
São Paulo, 30 de setembro de 2009
“Uma das ideias que venho defendendo a mais de 30 anos é a de que sexo e amor não são partes de um mesmo fenômeno, e sim, partes de dois fenômenos, dois mecanismos completamente diferentes, muitas vezes em antagonismo.
O amor, eu defino como sendo o sentimento que a gente tem por aquela pessoa que é muito especifica e muito especial, cuja presença provoca em nós a sensação de paz, aconchego e harmonia. Então amor é, parece ter haver com a primeira experiência de existência de todos nós, ou seja, com a experiência uterina. O amor corresponde a um remédio para a dor do desamparo que nasce no momento em que nós nascemos. Ou seja, vivemos num útero nos primeiros momentos da nossa existência, de lá saímos depois de meses de aconchego, aconchego que é o único registro cerebral, e lá, dentro do útero com a mãe o bebe vive uma situação paradisíaca, digamos assim, usando a metáfora bíblica, e existe depois disso, a expulsão do paraíso, que corresponderia ao nosso momento de big-bang, o momento do nascimento. A partir dessa expulsão do paraíso começa a surgir as dores, os desconfortos e o esta subjetivo correspondente ao desamparo, a uma sensação de desproteção, de insegurança de medo que é exatamente a manifestação visível no rosto de qualquer criança que nasce. A criança nasce com um ar de apavorado com toda razão, ou seja, há uma mudança para a pior, a condição uterina é uma condição maravilhosa, é o paraíso, e o nascimento é a expulsão do paraíso.”
“O amor é parte de um prazer que o Schopenhauer chamava de prazer negativo, ou seja, é uma remédio para a sensação desagradável de desamparo, ou seja, é o prazer que deriva do fim da dor do desamparo, o aconchego é o remédio para o desamparo, por isso é interpessoal, é paz e é um prazer negativo.”
Olá Thiago!
Obrigado por compartilhar o pensamento de Gikovate conosco!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
estou adorando seus post, tem aumentado o meu conhecimento, e me dado muitas respostas ao que eu não entendia, adoro fazer estas leituras, e agradeço por me proporcionar esse alcance, que DEUS o abençoe sempre.
Sou poeta e estudante de psicologia. Formado em teologia.
Acredito que, o blogger acima citado será interessante.
Fala por si mesmo.
segue link:
http://poemasdalma.blogspot.com/
Czar D’alma – escritor e poeta.
Ola Felipe!
Já nos encontramos no ABPMC em Fortaleza e desde entao,sou seu fã!
Bom,com estas informações fico pensativo e relutando com algumas ideias….
Mas amo a psicologia comportamental.
Olá Loro!
Acho que você está me confundindo com alguém, rsrs.
Mas tudo bem!
Abraços
Tem casal que se não brigar, termina… o amor pode ser reforçador, mas não confundamos reforçador com prazeroso… um reforçador pode muito bem ser aversivo em certo nível, por que não? Uma mulher pode facilmente se apaixonar por um homem que a trate mal, por exemplo, muito mais do que alguém que não brigue com ela… quando damos conteúdo a o que é um reforçador ou punição, entramos num registro de engodo, jamais podemos generalizar que um elogio é reforçador e que críticas são punitivas, a não ser que se queira transformar a análise do comportamento em uma pedagogia.
Olá Prof. Felipe de Souza!
Sou psicóloga e utilizo a abordagem cognitivo comportamental em meus atendimentos. Gostei do seu texto, Skinner é ótimo, objetivamente falando. :)
Existem inúmeras forma para definirmos o amor ele é um sentimento transcendental quando compartilhado de maneira saudável entre nós. Saudável no sentido de fazer o Bem ao próximo sempre. Bom, deixo minha breve reflexão, porque realmente merece.
quais são as referências? o walden two?
Olá Renata!
No texto eu cito o livro Ciência e Comportamento Humano.
gostei muito!
gostei muito do seu artigo, acabei de concluir o curso, minha segunda formação…. Estou apaixonada pela psicologia. Obrigada
Uma Promessa Antiga, mas que a cada dia torna-se mais real (Quase Psicólogo).
A Ciência do Comportamento representa aquilo pela qual possuo como valor.
Quanto ao texto, confesso ter esperado algo mais filosófico. Parabenizo a iniciativa e agradeço por disponibilizar-nos esse material e referências de qualidade.
Olá professor Felipe sou estudante de psicologia entrei por caso no seu blog por está fazendo pesquisas sobre comportamento de reforço tanto positivo quanto negativo. Vou mim inscrever no seu canal.
Sou estudante ainda de Psicologia, mas sempre cultivei um grande amor por Psicologia Comportamental, e passei só pra agradecer suas postagens, tem agregado muito em minha vida, e em elaboração de novas ideias, além de ajudar na faculdade também. Parabéns pela sua página!!