Olá amigos!
Ontem eu publiquei aqui no site o texto os 12 delírios e síndromes mais raros e desconhecidos. E é muito curioso ver como a psicologia frequentemente é associada ao campo das doenças mentais. O motivo é evidente, mas isto acaba tendo, por assim dizer, um efeito colateral. A ideia popular de que quem vai a um consultório de psicologia tem um problema sério, a ideia de que para ir a um psicólogo tem que ser louco ou estar profundamente desequilibrado.
Como pesquiso todas as áreas da psicologia e como o nosso site é um dos mais acessados em língua portuguesa, vejo e recebo muitas questões que não imaginaria de princípio. Uma delas é “Você teria coragem de a um psicólogo?” Eu fiquei tão profundamente instigado por esta pergunta que decidi fazer um texto só para respondê-la. Afinal, por qual motivo uma pessoa teria o pensamento de que tem de haver coragem para ir no psicólogo? Qual seria a representação social, segundo Moscovici, do papel da psicologia na sociedade?
A representação social da psicologia
É fato que se perguntarmos para as pessoas como é o local de trabalho de um psicólogo, a maioria vai imaginar e descrever um consultório, talvez com um divã. E quando alguém sonha em fazer a faculdade de psicologia, é raro que não pense de trabalhar com psicologia clínica. Difícil encontrar alguém que diga que quer trabalhar com psicologia do trânsito ou mesmo trabalhar com pesquisa e ensino nas universidades.
Quer dizer, até para quem quer estudar e trabalhar na área, a representação social instantânea é a identificação da psicologia com a psicologia clínica. Dessa associação rápida vem a ideia de que a procura pelo serviço de psicologia se deve à loucura, perturbação mental e emocional, ou por quem está passando por uma crise.
Durante a faculdade de psicologia, o estudante – como não poderia deixar de ser – passa a ter uma visão da realidade da atuação. Entende que a psicologia não se resume à clínica e que a clínica também pode acontecer tendo por base diferentes abordagens: behaviorismo, cognitivo-comportamental, humanismo, psicanálise, psicologia analítica, psicologia individual, psicologia positiva, existencial, fenomenológica, só para citar as principais.
Com isso, e percebendo a necessidade de fazer a própria terapia, o estudante também passa a ampliar a sua visão do sentido de ser atendido. Alguém pode procurar um profissional da psicologia para melhor uma habilidade (como aprender a falar em público) ou para entender melhor as suas relações pessoais, com amigos e familiares. Os motivos são os mais variados e são tão variados como são os indivíduos, porém, o que quero deixar claro é que as pessoas que procuram a psicologia não estão necessariamente loucas.
Não devemos fazer essa associação entre psicologia clínica e loucura. Os casos reais de loucura existem e aparecem, é certo, mas muito menos do que um recém formado poderia esperar.
O estudante também desfaz essa representação social ao perceber que uma pessoa provavelmente vai encontrar um profissional da psicologia, em outros locais: vai encontrar quando for tirar a Carteira Nacional de Habilitação, quando for participar de uma entrevista de emprego, em uma avaliação psicológica para concursos, dentro das empresas no setor de Recursos Humanos, nos hospitais, nas escolas, nos serviços públicos como CRAS, em ONGs, em disciplinas nas faculdades.
Segundo a Associação de Psicologia Americana, APA, em 2007 os profissionais estavam trabalhando (nos Estados Unidos):
– 29,8% em faculdades, universidade e outros ambientes acadêmicos;
– 18,8% em empresas, governos ou outros ambientes;
– 13, 7% em hospitais;
– 11,1% em escolas;
– 11,3% em outros serviços humanos;
– 7,7% na prática privada;
– 7,1% em ambientes de prática médica administrada.
Embora os dados sejam dos Estados Unidos, eles mostram como as áreas de atuação são múltiplas e não se resumem à psicologia clínica
Você teria coragem de ir a um psicólogo?
Uma querida amiga me contou esses dias que ela começou a fazer terapia quando era mais nova. O seu objetivo era o autoconhecimento, entender melhor suas relações com as outras pessoas e conseguir criar relacionamentos amorosos mais profundos e duradouros. O que chamou a atenção foi ela dizer que sua mãe mentia para os outros sobre aonde ela tinha ido, quando ela ia nas consultas com a psicóloga.
Depois a sua mãe entendeu que a psicologia não é apenas para loucos. Como sua mãe ainda pensava isso no começo, ela mentia e não contava aonde ela realmente estava – com um certo receio da opinião pública de que sua filha seria considerada perturbada, só por ir às consultas.
Engraçado observar que isso aconteceu há pouco tempo, há menos de uma década. Talvez seja um erro da classe profissional que até hoje não conseguiu mostrar para todo mundo que um profissional da psicologia não aparece só quando aparece uma doença mental, uma psicopatia, um caso de um serial killer.
Por este motivo, é muito estranho para quem já está na área ver este tipo de pergunta: “Você teria coragem de ir a um psicólogo?” porque isto significa que há um grande mal entendido. Por que alguém teria que ter coragem para buscar um tratamento psicológico? Por que haveria o medo de consultar um especialista em saúde mental (note bem – saúde) para ajudar na melhoria da qualidade de vida?
A única explicação, para mim, é que a psicologia é associada com a loucura. Outra explicação plausível é de que o psicólogo é visto como alguém como uma espécie de bola de cristal, tão capaz em sua profissão que teria uma habilidade sobrenatural de ler mentes. E outra explicação seria de que o profissional poderia ficar criticando o que está “errado”, como se a tarefa do clínico fosse ficar criticando e apontando as falhas e sofrimentos como faz frequentemente um moralista que vê a sombra projetada nos outros.
Bem, para concluir, eu devo dizer que os estudantes e os profissionais frequentemente fazem terapia. Fazem terapia e frequentam o consultório de um profissional pelos mais variados motivos. Fazemos isso porque, por termos estudado e rompido esta representação social equivocada, sabemos da importância da terapia, para a atuação profissional na área psi mas também porque sabemos como é incrível… incrivelmente bom ter pelo menos um momento durante a semana para dedicar a si mesmo e se conhecer.
Veja também – 9 Razões para fazer terapia
Felipe, acho muito interessante desmistificar esse preconceito. Excelente abordagem.
Olá Raquel!
Penso que levará um tempo ainda para desfazer esses mal-entendidos. Mas devemos fazer a nossa parte, não é mesmo?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
gostei muito desta abordagem,esse preconceito infelizmente até hoje tem afastado muitas pessoas de procurar ajuda psicológica, trazendo assim mais mal a si, há que enfrentar e buscar sempre ajuda. Pois sempre é de grande valia.
Olá Angela!
É verdade!
Obrigado por comentar!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Gostei muito desse texto. Infelizmente estou lutando contra esse preconceito pois vários amigos estão me orientando a consultar um psicólogo e estou procrastinando.
Tenho a tendência de achar que nesse século XI pra tudo aquilo que sentimos e nos comportamos tem um nome científico e clínico e que antigamente as pessoas passavam por situações e sintomas como os nossos, mas viviam se suportavam… porém estou me reeducando e quero me esforçar a procurar um profissional que me ensine a me controlar e não culpar ou “vitimar” meu comportamento em um nome científico.
Desculpe se estou sendo grosseira mas é que realmente precisava ler esse assusto e corrigir minha opinião.
Muito obrigada.
Bem, algo parecido aconteceu com minha mãe acho que vai fazer um pouco mais de um mês. a mãe dela foi ao médico e depois do médico constatar que sempre apareciam certas dores que só ela sentia, mas os testes não revelavam nada, acabou indicando para ela um psicólogo e minha mãe e boa parte da família ficou falando ‘uai, qual foi o motivo dele ter receitado um psicólogo? a senhora não está louca. Psicólogos são para gente louca’.
Eu acho incrível que em pleno ano de 2015 ainda existem pessoas que pensam que a única área de um psicólogo é a ‘para tratamento de loucos’.
Eu nunca estive com um profissional de verdade, digo isso pois na empresa onde estava tinha umas garotas que eram da área da psicologia, mas eram muito… novatas na área ,acredito eu. eram facilmente manipuláveis e eram do tipo que se achavam. Eu fiz um teste vocacional e a área da psicologia foi a que mais agradou. Principalmente quando o assunto é em relação ao cérebro humano e minha maior vontade é estudar o comportamento de uma pessoa que se encontra em um hospício, ter que ver seu comportamento, fazer anotações, testes e ver quais as probabilidades do raciocínio e por aí vai. Assim que começar a trabalhar de novo pretendo encontrar um profissional bem experiente aqui em BH para ver como é uma consulta.
Deveriam passar na TV aberta filmes que mostram que o Psicólogo pode fazer muito mais do que só ‘tratar loucos’.
Felipe Souza, Obrigado pela indicação dos filmes que mostra um pouco da psicologia que me mostrou. O conto chinês foi o que mais me agradou até o momento. Vlw o/
Bom, eu estou terminando esse ano meu ensino médio, e desde o ano passado tenho essa profissão como sonho,principalmente a clinica.Meus parabéns você é um grande profissional.
Eu adorei o texto e me fez querer ainda mais a faculdade de psicologia….
sou apaixonada e curiosa para saber o que se passa na cabeça das pessoas.
Felipe, você saberia me explicar o que é o autoconhecimento que é proporcionado pela psicologia e como que se chega a ele, o processo?
Olá Igor!
Esta é uma pergunta muito ampla. É um pouco difícil responder. Isto porque cada linha da psicologia vai definir um tipo de autoconhecimento e cada linha também vai definir um método, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Como a gente se autoconhece? Tenho 18 anos e não sei mt bem o que quero como profissão penso em fazer faculdade de enfermagem mas tenho medo de não ser o que eu quero. Como a gente sabe ou perdou alguém?
Olá Thalia,
Uma excelente maneira é fazer terapia ou orientação profissional (para a escolha da faculdade).
O perdão normalmente envolve lembrar do ocorrido e não sofrer pelo que aconteceu ou não querer “se vingar”.
Atenciosamente,
Felipe de Souza