Olá amigos!

Desde o seu início que a psiquiatria tem uma forte tendência de criar listas de classificação dos transtornos mentais. Algumas destas classificações são raras, no sentido de que são pouco utilizadas pelos profissionais e/ou porque são raramente diagnosticadas. Muitas delas são inclusive desconhecidas dos psiquiatras e dos profissionais da saúde como psicólogos clínicos, psicanalistas (que usam outro método de classificação) e dos psicoterapeutas.

A lista abaixo foi reproduzida em diversos sites. Encontrei em espanhol duas versões e, depois, a versão que creio ser a original, escrita pelo psicólogo Dr Jeremy Dean. Entretanto, o texto abaixo não é uma tradução literal do texto de Dean. Utilizei-o como base e escrevi com minhas próprias palavras.

Em primeiro lugar, é útil descrever o que é delírio. Delírio vem do latim delirium que significa literalmente “sair do trilho”. Em geral, a  melhor forma de explicar um delírio é comparando-o com a realidade. Entretanto, esta definição de oposição com o que é real nem sempre é eficaz, já que um delírio pode ser compartilhado com outra pessoa, como no folie à deux (“loucura a dois”).

Porém, simplificando, podemos dizer que uma pessoa em delírio apresenta pensamentos e sentimentos que não condizem com a realidade, por exemplo, dizem ser personagens históricos como Napoleão ou dizem que estão sendo perseguidas, observadas, vigiadas. Em alguns delírios aparecem figuras bizarras como monstros, extra-terrestres, bichos, etc.

A definição do delírio como o que aparta a pessoa da realidade é também utilizada com um critério especial: a pessoa em delírio não consegue diferenciar o real do delírio, ou seja, não se trata de uma fantasia, de uma criação artística, de uma fuga de ideias. A pessoa realmente acredita que o delírio é real.

1. Síndrome de Otelo

A Síndrome de Otelo vem, evidentemente, do famoso personagem de Shakespeare. Na peça Otelo, o Mouro de Veneza, o personagem principal tem o pensamento obsessivo de que a sua mulher o está traindo.

Assim, na Síndrome de Otelo a pessoa pensa que o seu parceiro ou parceira está tendo um caso, a despeito de todas as provas e evidências em contrário.

Segundo os especialistas, não se trata de um simples caso de ciúme, embora o ciúme seja o principal sentimento da Síndrome. Como o ciúme se torna um pensamento obsessivo que não cessa, a pessoa portadora passa a realizar todo tipo de comportamento para encontrar a suposta prova da traição: checa o celular, invade emails, persegue na rua e, em casos extremos, chega à violência física.

Para ler depois (em inglês):

2. Delírio de Cotard (Síndrome do Morto-Vivo)

O nome do delírio vem do neurologista Jules Cotard (1840–1989) que descreveu os sintomas desta doença mental extremamente rara, na qual a pessoa pensa que está morta, não existe ou não possui os órgãos internos de seu corpo. Cotard também nomeou como delírio de negação, le délire des négations.

Em princípio, este tipo de alucinação estaria presente em casos diagnosticados de esquizofrenia e para os especialistas deveria ser considerado como uma alucinação deste transtorno e não como um transtorno à parte.

Referências (em inglês):

3. Delírios de Capgras

Joseph Capgras foi o médico francês quem descreveu este tipo de delírio e, assim como no caso de Cotard, o seu nome ficou marcado como sinônimo do tipo de delírio que analisou. No delírio de Capgras, o portador tem o delírio de que uma pessoa próxima tenha sido substituído por um impostor que, embora idêntico fisicamente, não é a mesma pessoa.

Por exemplo, um homem pensa que sua esposa foi substituída por outra pessoa idêntica. Mas, apesar de ser idêntica, não é a mesma pessoa. Trata-se de uma impostora que finge ser sua cônjuge.

Em geral, o delírio de Capgras é causado por esquizofrenia, demência ou dano cerebral.

Alguns estudos (em inglês):

4. Folie à deux

O termo Folie à deux, em francês, significa loucura a dois. Como é utilizado na língua original, não vamos traduzir aqui. Tecnicamente, os especialistas utilizam a terminologia Transtorno Psicótico Compartilhado. Em síntese, podemos entender este transtorno como quando duas ou mais pessoas compartilham delírios e alucinações. No DSM-IV, os critérios diagnósticos são:

Critérios Diagnósticos para F24 – 297.3 Transtorno Psicótico Compartilhado 

A. Um delírio desenvolve-se em um indivíduo no contexto de um estreito relacionamento com outra(s) pessoa(s), com um delírio já estabelecido.
B. O delírio é de conteúdo similar ao da pessoa com o delírio já estabelecido.
C. A perturbação não é melhor explicada por outro Transtorno Psicótico (por ex., Esquizofrenia) ou por um Transtorno do Humor Com Aspectos Psicóticos nem se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., uma droga de abuso, um medicamento) ou de uma condição médica geral.

5. Inserção do pensamento

Este tipo de delírio acontece quando a pessoa considera que alguém colocou, inseriu, enfiou, adicionou pensamentos em sua cabeça. Em outras palavras, os pensamentos não são considerados próprios. Em geral, em casos de psicose é relativamente comum que o pensamento interno seja considerado externo ou advindo de uma outra pessoa, próxima ou distante, conhecida ou desconhecida.

Investigações:

6. Síndrome de Paris

A Síndrome de Paris aparece em pessoas que estão visitando a capital da França, Paris, e começam a descrever sintomas como alucinações, delírios de perseguição, ansiedade e outros sintomas físicos ou psicossomáticos. Apesar de que possa ser risível é uma Síndrome diagnosticada frequentemente na Cidade das Luzes.

Segundo o Dr. Dean, cerca de vinte turistas japoneses são diagnosticados e hospitalizados por ano. O motivo de eliciação da Síndrome seriam as altas expectativas projetadas na cidade. O tratamento é frequentemente simples: voltar para a sua cidade de origem.

7. Síndrome de Jerusalem

Assim como acontece na Síndrome de Paris, a cidade de Jerusalém também é um local que pode despertar certos sintomas em seus visitantes com predisposição, causando sintomas descritos na literatura como ansiedade, comportamentos obsessivos, delírios de ser um pregador (a pessoa começa a dar sermões em público – o que não fazia antes de visitar a cidade).

Outros sintomas são: começar a vestir uma toga, a cantar hino e a exaltar com todos os pulmões os versos da Bíblia.

A epidemiologia é estimada em 40 casos por ano, que exigem hospitalização e tratamento, que é, também, voltar para casa.

O Jornal Britânico de Psiquiatria publicou uma pesquisa sobre a Síndrome de Jerusalem

8. Síndrome Alice no país das Maravilhas

Penso que todos conhecem o livro Alice no país das Maravilhas. Se você, por ventura, nunca leu ou nunca ouviu falar, recomendo muitíssimo que leia. É um livro fantástico e até muito engraçado, além de ter vários níveis de leitura. A chamada Síndrome Alice no país das Maravilhas descreve o caso no qual há confusão na percepção do tempo e do espaço. Por exemplo, o tamanho dos objetos é visto como menor ou maior do que é, de verdade e o passar do tempo é frequentemente confundido, horas tornam-se minutos e minutos tornam-se horas.

O Dr. Dean alerta que na infância e em adultos antes de dormir algumas sensações semelhantes podem ocorrer, o que, por sua vez, não seria motivo para preocupação. Esta sintomatologia também pode ser causada por enxaqueca. O autor do livro Alice no País das Maravilhas e Alice através do espelho, Lewis Carrol sofria de enxaqueca e isto pode ter influenciado as suas histórias.

Algumas referências (em inglês):

9. Síndrome de Ekbom

A Síndrome de Ekbom, (que não deve ser confundida com a Síndrome das pernas inquietas), é caracterizada pela crença de que o corpo foi infectado por parasitas, germes ou outros agentes biológicos perniciosos. Foi descrita em 1930 por Karl Axel Ekbom, daí o nome.

Nos casos de Síndrome de Ekbom é frequente que o seu portador procure inicialmente médicos especializados como dermatologistas ou infectologistas para que estes possam dar o tratamento adequado para a sua suposta infecção.

Para ler:

10. Licantropia Clínica

Apesar do nome complicado, é simples de entender do que se trata. Lýkos vem do grego e significa lobo. Portanto, licantropia é a crença da pessoa que pensa que se tornou ou está no processo de se tornar um lobo.

Os casos clínicos em que foi reconhecida a licantropia, os especialistas relataram que os pacientes descreviam também outras possibilidades de transformação: em sapos, gatos, cavalos, pássaros, hienas e até abelhas.

Não é necessário dizer que este tipo de diagnóstico é raramente dado.

Estudos sobre Licantropia (em inglês):

11. Paramnésia Reduplicativa

Este tipo de delírio acontece com mais frequência em casos de dano cerebral. A pessoa passa a crer que um lugar foi duplicado ou movido para um outro local. Por exemplo, pacientes em recuperação por traumas cerebrais severos como soldados relatam pensar que o hospital está localizado em sua cidade natal, quando, em muitos casos, está localizado de verdade em outro país.

Apresenta certa semelhança com os delírios de Cotard e de Capgras.

12. A Síndrome do Duplo Subjetivo

No folclore alemão, encontramos um figura muito interessante chamada Doppelgänger, da junção de doppel (que significa duploréplica ou duplicata) e gänger (andante,ambulante ou aquele que vaga). O Doppelgänger possui uma ação inusitada: ele tem a capacidade de reproduzir, de imitar, de agir de forma idêntica a uma pessoa, ou seja, o Doppelgänger é um duplo exato, perfeito. 

Na Síndrome do Duplo Subjetivo aparece uma ideia semelhante, de que a pessoa possui um duplo idêntico, porém com a personalidade um pouco diferente ou até uma vida inteira diversa, muitas vezes o duplo pode ser totalmente desconhecido e viver em um país estranho e muitas vezes pode ser ligada a uma pessoa próxima.

Conclusão

Como disse no início, estes 12 tipos de delírios (às vezes utiliza-se a palavra síndrome indistintamente) são raros porque são diagnosticados poucas vezes e também podemos ver a sua raridade pelo pouco uso ou conhecimento de quem trabalha na área.

De maneira geral, os melhores especialistas são aqueles que utilizam o famoso critério da Navalha de Occam, conhecido por todo aquele que tiver estudado epistemologia: não devemos dar explicações desnecessárias para os fenômenos observados. Em resumo, é a lei da parcimônia: entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem” (as entidades não devem ser multiplicadas além da necessidade).

Tendo esta lei em mente, podemos incluir facilmente muitos destes delírios na esquizofrenia ou em casos de psicose ou transtorno obsessivo, por exemplo. Portanto, não seria necessário ter um critério diagnóstico para a maioria destes delírios considerados por muitos como diagnósticos à parte.

Psicólogo Clínico e Online (CRP 06/145929), formado há 16 anos, Mestre (UFSJ) e Doutor (UFJF), Instrutor de Mindfulness pela Unifesp. Como Professor no site Psicologia MSN venho ministrando dezenas de Cursos de Psicologia, através de textos e Vídeos em HD. Faça como centenas de alunos e aprenda psicologia através de Cursos em Vídeo e Ebooks! Loja de Vídeos e Ebooks. Você pode também agendar uma Sessão Online, Terapia Cognitivo Comportamental, Problemas de Relacionamentos, Orientação Profissional e Coaching de Carreira , fazer o Programa de 8 Semanas de Mindfulness Online. E não se esqueça de se inscrever em nosso Canal no Youtube! - no TikTok -, e Instagram! Email - psicologiamsn@gmail.com - Agendar - Whatsapp (11) 9 8415-6913