David Hume nasceu em Edimburgo, em 1711, foi filósofo, historiador, ensaísta. Este importante pensador escocês e empirista aponta para “um novo cenário do pensamento”, em sua obra Tratado da natureza humana (1739- 1740), ao introduzir o método experimental do raciocínio nos assuntos morais. Embasou-se na observação e na aplicação do método experimental baconiano à natureza humana, ao sujeito do conhecimento. Esta ciência é vista como a mais importante, pois as outras ciências guardam com ela uma relação de dependência.

Um dos objetivos de Hume é encontrar os limites do conhecimento humano – os quais vão se revelar na experiência. A experiência passa a ter lugar central na filosofia do século XVIII e, principalmente na filosofia de Hume pelo fato de passar a fundamentar as ciências e, ainda, por ser reduzida à princípios. A fim de apresentar os princípios do processo de conhecimento, o filósofo descreve o funcionamento da mente através de noções como: percepções, impressões, ideias, hábitos, sensações, emoções, experiência etc. Como tais noções são de suma importância para o pensamento em questão, realizaremos uma breve abordagem da teoria epistemologia humeana e destes conceitos. Tomaremos por objetos principais as noções de percepção, experiência e hábito, mas também apontaremos a relação destas entre si e com os outros principais conceitos da epistemologia humeana. Para tal, concentramo-nos nas obras Investigações sobre o entendimento humano (1748)  e  Tratado da natureza humana (1739- 1740), pois nelas centram-se nossos objetos de análise.

Um dos princípios mais importantes da ciência da natureza humana de Hume, apresentada tanto no Tratado da natureza humana e na Investigação sobre o entendimento humano, é o princípio de que todo o conhecimento relativo ao mundo embasa-se em percepções, nas experiências. As percepções são definidas como fenômenos que se dão no espírito humano (mente) através da sensação interna ou externa. As percepções garantem a existência do objeto, já que ele só é percebido quando existe. As percepções são distintas umas das outras e também se ligam entre si através da relação de semelhança.

São consideradas os conteúdos da mente humana e dividem-se em duas classes: “impressões” e “ideias”. Aquelas são sensações mais vívidas e fortes advindas da experiência, são emoções e paixões (origem interna), e sensações (origem externa) percebidas de modo imediato. Segundo Hume, as impressões são “nossas percepções mais vívidas, sempre que ouvimos, ou vemos, ou sentimos, ou amamos, ou odiamos, ou desejamos ou exercemos nossa vontade (HUME, Investigação sobre o entendimento humano, p. 34). Tais impressões podem, ainda, ser de dois tipos: impressões externas (ligada às sensações) ou impressões internas (ligadas à reflexão, às emoções e paixões). O termo “impressão”, segundo o filósofo, significa a própria impressão, o que restringe sua teoria ao campo fenomênico – por tratar das percepções enquanto tais e não questionar como as impressões são produzidas na mente humana ou espírito.

As ideias são concebidas como cópias das impressões, sendo que as tem como base e origem. Todavia, são cópias menos vívidas e fortes – por tal motivo, não podem ser confundidas com as impressões. São ideias o pensamento e o raciocínio. Distinguem-se em ideias simples e ideias complexas: as ideias simples são cópias de alguma impressão e, como tendem a se agregarem entre si, formam as ideias complexas. Estas, por sua vez, são associações de ideias simples através dos princípios ou de semelhança, ou contiguidade no tempo e no espaço ou de causalidade; ou ainda, são formadas pela imaginação. Os princípios que originam a associação de ideias na mente também fazem com que a mente seja transportada de uma ideia a outra. Segundo Hume, estes são os princípios de coesão, de união entre as ideias simples. Estas, na imaginação, assumem o lugar de conexão indissolúvel – que as une na memória. Deve-se ter em mente que a realidade das ideias, tanto simples quanto complexas, dependem de terem impressões correspondentes.

Como se sabe, a realidade da ideia depende de uma impressão que lhe corresponda, da qual se origine. Ao utilizar-se das faculdades do pensamento, da imaginação e da memória, o homem tem em sua mente imagens imperfeitas.  Como aponta Hume, a imaginação e pensamento se originam através dos sentidos e ligam-se, pois, de modo intrínseco à experiência. Assim, pode-se notar que a distinção entre sentir e pensar se centra quanto ao grau de intensidade, já que sentir é ter percepções mais vívidas, sensações; enquanto pensar consiste em ter percepções mais fracas, ou seja, as ideias. Este ponto justifica a duplicidade de toda percepção: “Ela é sentida de maneira vívida como impressão e é pensada de maneira esmaecida como ideia” (CONTE, 2010, p. 213).

A ordem e a sucessão temporal das impressões e das ideias também consistem em pontos que as diferenciam. Com a finalidade de encontrar qual é a ordem da dependência, Hume toma a ordem da primeira aparição da percepção. É através da experiência constante que as impressões simples sempre precedem as ideias que lhes correspondem, haja vista que tal ordem não pode ser invertida.  Logo, o primeiro princípio da ciência da natureza humeana é formulado: “Todas as nossas ideias simples, em sua primeira aparição, derivam de impressões simples, que lhe correspondem e que elas representam com exatidão” (HUME, Tratado da Natureza Humana, 2001, p. 28).

A anterioridade das impressões, enquanto um princípio da natureza humana, é comprovadas pelo filósofo através de dois argumentos. O primeiro argumento expõe que, ao analisar as ideias compostas do homem, sempre se descobre que elas se decompõem em ideias simples copiadas de uma impressão anterior: “se analisamos nossos pensamentos ou ideias, por mais compostos ou sublimes que sejam, sempre verificamos que se reduzem a ideias tão simples como eram as cópias de sensações precedentes. Mesmo as ideias que, à primeira vista, parecem mais distantes desta origem mostram-se, sob um escrutínio minucioso, derivadas dela (IEH,Seção II)”. Portanto, cada ideia complexa tem suas ideias simples ligadas umas às outras, conforme uma sequência lógica – a qual nem sempre é evidente.

O segundo argumento aponta que quando o homem tem defeitos em algum órgão sensorial, não pode formar as ideias correspondentes às impressões por não receber determinado tipo de impressão, o que implica, pois, que a ausência de estímulos nos órgãos dos sentidos ou a falta de algum deles acarreta a falta de ideias na mente. A anterioridade das impressões como princípio da ciência humeana rebate a tese das ideias inatas, considerando-se que: o homem só tem ideias após ter impressões, e que se deve considerar as impressões como originárias.

Após o estabelecimento do primeiro princípio de sua ciência, o filósofo distingue, mais uma vez, impressões e ideias: as impressões e também as ideias podem ser simples ou complexas e as ideias. Ideias simples e também as impressões simples não podem ser separadas, e por isso, não podem ser analisadas. As impressões complexas são compostas por várias impressões simples, podendo, pois, serem subdivididas e analisadas. Elas nos são dadas de imediato como complexas. As ideias complexas, por sua vez, são cópias das impressões complexas ou ainda podem ser o produto de diversas combinações ocorridas na mente humana.

A mente humana possui a faculdade da memória – cuja função é reproduzir as ideias – e a faculdade da imaginação – a qual pode combinar as ideias de diversos modos entre si. Nota-se, pois, que o princípio da cópia, isto é, primeiro princípio da ciência humeana, não se aplica às ideias complexas, já que estas podem também ser formadas pela imaginação. A faculdade da imaginação compõe, transpõe, aumenta ou diminui os dados que são obtidos através da experiência dos sentidos: “todas as ficções por ela produzidas, se analisadas, resolvem-se em “percepções” prévias advindas dos sentidos. A nossa capacidade de imaginar está, portanto, confinada aos limites da experiência” (SMITH, 1995, p. 73).

Pode-se notar que tanto imaginação quanto o pensamento limitam-se à experiência, à percepção –  e que, assim,  não há liberdade do pensamento humano. Segundo Hume, hábito e experiência são princípios que operam sobre a imaginação, contribuindo para considerar os objetos conforme eles aparecem à mente humana para formar ideias intensas e vivas. A experiência auxilia com relação às concepções de objetos no passado, já o hábito orienta com relação ao que se pode esperar no futuro.

A imaginação, segundo o filósofo, liga-se às ideias vindas dos sentidos internos e externos e pode combinar as ideias conforme os três princípios de conexão: princípio de semelhança, princípio de contiguidade e princípio de causalidade. “A associação de ideias é um mecanismo psicológico na imaginação que une nossas ideias regularmente” (CONTE, 2010, p. 215). Devido às três relações, a mente vai de uma ideia a outra ideia naturalmente. O princípio da associação por semelhança aponta que  a imaginação tende a encontrar semelhanças de todos os tipos entre as suas ideias, de modo a associá-las.  Ao observar um objeto que nos remete a outro, voltamo-nos ao objeto percebido pelos sentidos de modo imediato. O segundo princípio de associação é o da contiguidade no lugar e no tempo, o qual nos leva a comparar objetos idênticos. E o terceiro princípio é o da causa e efeito, e leva-nos a relacionar o que vem antes e depois de um determinado objeto. É através destes princípios que o filósofo acreditou explicar a maior parte das crenças, sentimentos e ideias formados na mente humana.

A análise humeana das inferências causais também deve ser perscrutada de modo cuidadoso, considerando-se sua importância basilar nesta epistemologia e por caracterizar a natureza da filosofia de Hume, além de levantar um grande debate e suscitar controvérsias quanto às interpretações feitas por estudiosos acerca da refutação de Hume à noção tradicional de causalidade. Hume inicia sua análise acerca das inferências causais dividindo o conhecimento humano em dois campos, conforme seus diferentes objetos: o conhecimento relativo às relações entre ideias e o conhecimento relativo às questões de fato. O primeiro campo do conhecimento humano tem como fundamento as relações entre ideias, alcançadas pelo raciocínio e através de relações lógicas. São as proposições que limitadas a operar com conteúdos ideais, não se referindo ao que existe ou ao pode existir.

O princípio de não-contradição faz-se fundamental neste campo do conhecimento. Entre os conhecimentos que lidam com relações entre ideias, encontram-se a Matemática, a Aritmética e a Geometria. A sua verdade ou falsidade podem ser demonstradas a priori (não dependendo da existência de algo ou da experiência) ao se investigar a correção do raciocínio e das relações lógicas. Tal conhecimento não tem por objeto, pois, o fato concreto: “Proposições desse tipo podem ser descobertas pela simples operação do pensamento, independentemente do que possa existir em qualquer parte do universo” (HUME apud CONTE, 2010, p. 216). Deste modo, nota-se que o limite deste âmbito de conhecimento encontra-se nas proposições que são fundamentadas em conteúdos ideais, autoevidentes ou inferidos de modo legítimo de proposições autoevidentes, por isso são indubitáveis.

Já o campo do conhecimento relativo às questões de fato é composto por juízos empíricos que mostram as conexões e as relações que dizem dos fenômenos concretos. As questões de fato são, pois, um tipo de objetos da razão humana e não implicam o princípio de não-contradição, pois do mesmo modo que uma questão de fato é possível, pode se dar seu oposto.

Não há como demonstrar a verdade ou a falsidade da proposição que dizem das questões de fato, posto que “não é contraditório que a natureza possa mudar, e que um objeto aparentemente semelhante aos de que tivemos experiência possa vir acompanhado de efeitos diferentes ou contrários” (HUME, Investigações, 2004, p. 66). Fica claro que a natureza da evidência inerente aos raciocínios relativos às questões de fato que não estão presentes aos sentidos imediatamente fundam-se na relação de causa e efeito. É somente através desta relação que o homem pode ultrapassar a evidência da memória e também os sentidos.

As ideias de causa e efeito são diferentes, o que acarreta que não se pode descobrir na causa, ao analisá-la e independentemente da experiência, seu efeito. É esta a refutação de Hume à noção tradicional de causalidade, haja vista que sobre a causalidade, só se pode saber que se refere a uma conjunção constante de objetos e que vem de uma inferência da mente de um objeto em relação a outro. Não obstante:

“todo efeito é um acontecimento distinto de sua causa. Ele não poderia, por isso mesmo, ser descoberto na causa, e sua primeira invenção ou concepção a priori deve ser inteiramente arbitrária. E mesmo após ter sido sugerido, sua conjunção com a causa deve parecer igualmente arbitrária, pois há sempre muitos outros efeitos que, para a razão, surgem como tão perfeitamente consistentes e naturais quanto o primeiro” (HUME, Investigações, 2004, p. 45).

Outro problema proposto e respondido por Hume diz de como se alcança o conhecimento da causa e efeito. A resposta rompe com toda a tradição filosófica anterior ao afirmar que a experiência é que permite ao homem fazer inferências sobre causas e efeitos.  Destarte, as relações causais só podem ser estabelecidas e o conhecimento acerca das questões de fato só pode se dar partindo da experiência: a experiência passa a ser o que confere respaldo a uma nova concepção de causalidade. Hume questiona, ainda, como o homem pode justificar as inferências feitas partindo da experiência. A resposta é que, do fato de verificar que um determinado objeto vem acompanhado de um determinado efeito, inferimos que os outros objetos de aparência semelhante serão sucedidos por efeitos semelhantes: “Ou seja, observando a conjunção constante de objetos semelhantes, a partir da repetição, somos levados a inferir o aparecimento do primeiro desses objetos a existência e o aparecimento de outro objeto. Ao primeiro, chamamos causa, ao segundo chamamos efeito” (CONTE, 2010, p. 218).

Todavia, para os casos não observados, não se pode estender a experiência de uma conjunção constante de fenômenos, de modo intuitivo. A experiência passada fornece informação segura e imediata sobre os objetos determinados que lhes foram dados e somente durante um determinado período de tempo. Deste ponto, surge uma nova questão para o filósofo: qual seria a razão de estender a experiência semelhante à explicitada acima ao tempo futuro ou, ainda, a objetos os quais podem ser semelhantes somente em aparência?

Primeiramente, Hume afirma que não há raciocínio ou processo de entendimento envolvidos após a experiência das operações (da imaginação) de causa e efeito. Contudo, as inferências são feitas por termos obtidos da experiência de uma conexão constante, com contiguidade e sucessão regulares, de modo que passam a conceber como natural que de uma determinada causa venha determinado efeito. A resposta final ao questionamento é de que um argumento não pode levar a mente a inferir de uma causa um efeito, já que a mente é conduzida por outro princípio. As inferências causais só podem ser feitas, portanto, após a observação da conjunção regular dos objetos ou eventos, sendo que nenhum processo de raciocínio daria ao homem o conhecimento de como se dá a relação entre causa e efeito.

Este outro princípio que leva a mente a fazer estas inferências causais sem estarem embasadas na observação e na experiência, é o costume (hábito). O hábito é tudo o que vem de uma repetição passada, sem acrescentar novo raciocínio ou conclusão, e nele toda crença humana se origina. Ele é um princípio de associação que não depende do raciocínio, tendo origem em experiências passadas de associação de impressões que tendem a se repetir, é um instinto que a natureza colocou no homem. É devido a este princípio que “a partir da simples sucessão conjugada, nós inferimos o nexo necessário” (CONTE, 2010, p. 220). A razão é indiferente à repetição e o que leva o homem a fazer inferências causais – dependentes da experiência da repetição – é um mecanismo subjetivo da imaginação ou um sentimento denominado hábito. O hábito/costume é concebido por Hume como o princípio mais fundamental que o homem pode identificar nas conclusões extraídas da experiência.

Logo, o filósofo define tal princípio: “Sempre que a repetição de algum ato ou operação particulares produz uma propensão a realizar novamente esse mesmo ato ou operação, sem que se esteja impelido por nenhum raciocínio ou processo do entendimento, dizemos invariavelmente que essa propensão é o efeito do hábito” (HUME apud CONTE, 2010, p. 220).

Ao constatar a contiguidade e a sucessão entre dois fenômenos, a necessidade da conexão entre os dois fenômenos também é inferida, sendo um fenômeno causa e o outro efeito. Após ser formado em nós pela experiência, o costume gera em nós uma crença, a qual nos dá a impressão de conexão necessária entre causa e efeito. O costume é entendido, pois, como um princípio da natureza o qual é universalmente reconhecido e conhecido por seus efeitos. Porém, destes fenômenos pode-se observar somente a contiguidade entre eles, a experiência da contiguidade, da proximidade temporal leva o homem, pelo hábito, a postular os fenômenos em uma relação de causalidade. O hábito é uma disposição inata, uma espécie de instinto natural que nenhum raciocínio pode produzir ou evitar.

É, portanto, através do hábito como princípio que o homem supera a experiência imediata e alcança o conhecimento das questões de fato. De acordo com Hume, é devido ao princípio do hábito que a experiência humana é útil e que leva o homem a esperar, no futuro, um conjunto de acontecimentos semelhantes aos acontecimentos passados: “Sem a influência do hábito, seríamos inteiramente ignorantes de toda questão de fato que extrapole o que está imediatamente presente à memória e aos sentidos” (HUME apud CONTE, 2010, p. 221).

Faz-se necessária a análise da natureza da crença como resultado da conjunção costumeira de objetos, isto é, a origem da crença se dá pela conjunção do objeto com algo presente à memória ou aos sentidos. É por meio da força do hábito que a imaginação concebe o objeto. A crença é um modo de sentir, é a concepção de um objeto mais vívido, forte do que o advinda da imaginação por si só. É a crença que dá ao homem a impressão de estar diante de uma conexão necessária e é ela que leva o homem a crer que quando há uma causa, deve-se seguir um efeito – o que se aplica inversamente. A crença é a chave para resolver o problema proposto pelo filósofo: a causalidade passa a ser concebida por Hume como emotivo-arracional, passando do âmbito objetivo – argumento ontológico racionalista – para o subjetivo – emoção, sentimento.

Toda crença que se refere a fatos ou à existência efetiva de coisas provém somente de algum objeto presente à memória ou aos sentidos, ou vem de uma conjunção habitual entre determinados objetos.  A crença é, pois, entendida como uma operação inevitável da alma, é uma espécie de instinto natural o qual não pode ser impedido ou produzido pelo raciocínio ou por algum processo do entendimento: “Crença, segundo Hume, é, pois, uma ideia que fortalece as conexões que foram derivadas do hábito e permite ao homem  optar por determinadas conexões causais e por determinadas expectativas quando, diante de um fato, procura diferenciar aquilo que é considerado uma ficção da imaginação daquilo que é conhecimento de fato” (CONTE, 2010, p. 222). À vista disso, entende-se que a crença é algo sentido pela mente e que é responsável por diferenciar as ideias vindas do julgamento e as ficções da imaginação. Sendo assim, a crença é definida como uma ideia vívida ligada a uma impressão presente. A crença na conexão causal é injustificada quanto a razão demonstrativa, por ser produto inerente da imaginação com assistência do hábito.

Fica evidente que o conhecimento acerca das questões de fato funda-se na experiência e só se dá por causa do hábito e da crença. A conjunção constante entre fenômenos é revelada pela experiência, mas não a conexão necessária da causalidade: “É nesse sentido que se pode dizer que a causalidade é uma forma nossa de perceber o real, uma ideia derivada da reflexão sobre as operações de nossa própria mente que tem como origem a ação do hábito sobre a imaginação por ocasião de experiências repetidas e não uma conexão necessária entre causa e efeito, uma característica do mudo natural” (CONTE, 2010, p. 222).

O hábito é visto por Hume também como instrumento de sobrevivência, um instinto que está de acordo com  a sabedoria da natureza  e dele derivam as inferências causais. A mente possui uma disposição natural que leva o homem a confiar no curso dos eventos e o leva a poder realizar inferências. As inferências causais tem como base, pois, um processo inconsciente, um instinto advindo da sabedoria da natureza. Há a necessidade de se agir para sobreviver e a necessidade de se ter instintos para poder agir. Fica evidente que através do hábito, a natureza impele o homem à ação. Nota-se, ainda que o estatuto da razão é alterado, tendo sua posição central tomada pelos instintos, os quais passam a ser valorizados, assim como as sensações e os sentimentos.

No decorrer deste breve texto, expusemos de modo sintético a teoria do conhecimento de Hume e seus principais conceitos, bem como os limites do conhecimento do homem segundo o filósofo. Podemos notar, então, que Hume inova a epistemologia ao afirmar que o homem só pode conhecer o que lhe vem da experiência – questões de fato -, ao propor uma nova visão acerca da noção de causalidade, entre outras inovações de grande importância.

Referências Bibliográficas

Conte, J. A natureza da filosofia de Hume. Anais do III Colóquio Internacional de Metafísica, Natal, RN, 2010. v 17, n. 28, jul./dez. 2010, p. 211-236

HUME, D. Investigações sobre o entendimento humano e sobre os princípios da moral. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Editora UNESP, 2004

_______ Tratado da natureza humana. Trad. Déborah Danowski. São Paulo: Editora UNESP/Imprensa Oficial do Estado, 2001.

SMITH, Plínio. O Ceticismo de Hume. São Paulo: Loyola, 1995.

Leia mais: http://jus.com.br/artigos/22542/limites-da-experiencia-hume-e-a-construcao-de-uma-ciencia-a-respeito-do-homem#ixzz30nKN4Klk

Michelle Vaz é graduanda em Filosofia