Olá amigos!

Hoje vamos falar sobre o modelo cognitivo na Terapia Cognitiva, modelo este que é fundamental para o entendimento desta abordagem da psicologia. Apesar de sua enorme profundidade teórica e prática, o modelo cognitivo é simples de entender. Em suma, podemos dizer que todos nós temos interpretações a respeito do mundo e dos eventos e, com isso, não são os eventos, fatos ou situações que causam problemas ou dificuldades, mas sim, o modo como interpretamos as situações.

No livro de Judith Beck, Terapia Cognitiva, Teoria e Prática, vemos um exemplo muito interessante. A autora coloca cinco possíveis reações de supostos leitores do livro. Ou seja, ao ler um livro (estar de frente de um conteúdo novo), as pessoas podem:

1) Achar que o livro é excelente e será de grande utilidade e sentir entusiamo

2) Achar que o livro é muito simples e que não acrescentará nada e sentir decepção

3) Achar que o livro é desperdício de tempo e dinheiro e sentir aborrecimento

4) Achar que o livro tem conteúdo e pensar, ao mesmo tempo, que terá que aprender tudo o mais rápido que puder e sentir ansiedade

5) Achar que o livro é difícil e pensar que não tem inteligência para acompanhar e sentir tristeza

Ou seja, o objeto, o livro, é idêntico para todos. Mas apesar desta objetividade do conteúdo, cada pessoa terá uma reação, uma interpretação e, consequentemente, terá reações emocionais e sensações corporais condizentes com o seu modo de pensar.

A autora do livro, Judith Beck, então resume: “a terapia cognitiva baseia-se no modelo cognitivo, que levanta a hipótese de que as emoções e comportamentos das pessoas são influenciados por sua percepção dos eventos. Não é uma situação por si só que determina o que as pessoas sentem, mas, antes, o modo como elas interpretam uma situação”

O modelo cognitivo na prática clínica

O modelo cognitivo, portanto, é fundamental para a atuação profissional do psicólogo de abordagem cognitiva ou cognitiva-comportamental. Mas antes de mostrarmos na prática, é importante entendermos que existe uma hierarquia neste modelo:

1) Crenças centrais

2) Crenças intermediárias (regras, atitudes, suposições)

3) Pensamentos automáticos

4) Emoção

As crenças centrais são normalmente desconhecidas pelo próprio sujeito e consistem em ideias gerais, globais, rígidas e generalizadas para centenas de situações que a pessoa vivencia em seu dia-a-dia. O último exemplo, acima, do sujeito que se considerava pouco inteligente para compreender o livro poderia ter uma crença de que não era capaz de compreender nada, de que era burro, de que não tinha inteligência suficiente para entender os conceitos do autor.

As crenças intermediárias se baseiam na crença central. O mesmo leitor que tem a crença central de que é burro pode ter a atitude de que odeia ser incompetente e uma regra de que deve se esforçar muito para se superar, ou, talvez, a regra inversa de que não adianta se esforçar já que não irá compreender nem memorizar o que está sendo dito ou lido. Na regra também encontramos suposições que podem ser úteis (se esforçar mais) ou desfuncionais (não adianta tentar).

Por sua vez, as crenças centrais e as crenças intermediárias (regras, atitudes, suposições) dão espaço para o surgimento de pensamentos automáticos. O que é curioso é que frequentemente o sujeito que busca terapia acaba se espantando com o fato de ter estes pensamentos automáticos. Quando o terapeuta o ajuda a ouvir estes pensamentos e a questioná-los, confrontá-los, contradizê-los, o paciente passa a aprender mais sobre si e passa a conseguir perceber e mudar.

De acordo com o tipo de pensamento automático, uma emoção aparecerá e permanecerá se o pensamento for mantido. Como vimos no primeiro exemplo, um pensamento gera um tipo de emoção. Se o livro for considerado simples demais, temos uma decepção. Se o livro for considerado difícil demais, temos tristeza e assim por diante.

O caminho da terapia a partir do modelo cognitivo

Tendo em vista o modelo cognitivo, o terapeuta cognitivo experiente poderá abordar nas sessões os pensamentos automáticos, relacioná-los às crenças intermediárias ou crenças centrais de acordo com a avaliação inicial do paciente e do momento no qual o processo terapêutico está.

A grosso modo, podemos dizer que a meta maior da terapia é modificar as crenças fundamentais, as crenças centrais que são disfuncionais e acabam organizando a vida do sujeito, sem que talvez ele consiga perceber exatamente o que está acontecendo.

Por exemplo, se a pessoa tem a crença fundamental de que é burra ela acabará conseguindo comprovar esta crença fundamental em suas experiências, na medida em que descarta as experiências que comprovam a sua capacidade e guarda apenas as que a depreciam.

Quer dizer, se ela consegue tirar uma nota alta em uma prova, pensará que é por sorte ou que a prova estava fácil. Talvez se compare com outra pessoa da sala que foi ainda melhor. De todo modo, a nota alta não estará modificando a crença fundamental. Se a nota fosse baixa, com certeza seria uma comprovação de que realmente não tem nenhuma facilidade mental ou inteligência.

Enfim, com o processo terapêutico da terapia cognitiva os pensamentos automáticos são observados e começa uma jornada de autoconhecimento no qual a observação por parte do próprio sujeito de como as suas crenças estão estruturando o seu mundo e de como é salutar questionar estas crenças básicas e modificá-las por crenças mais funcionais, ou seja, mais positivas.

Conclusão

O modelo cognitivo é um conceito fundamental para a teoria e prática clínica dentro da psicologia cognitiva. Em resumo, podemos compreender que há um modelo teórico que auxilia na prática e que compreende uma hierarquia de funções cognitivas que começa nas crenças centrais, passa pelas crenças intermediárias (ou regras, atitudes, suposições) e pelos pensamentos automáticos até as emoções e sensações corporais.

Para a terapia cognitiva não são os fenômenos no mundo que são de um jeito ou de outro mas sim o modo como interpretamos estes fenômenos que o transformam em fatos positivos ou negativos, construtivos ou destrutivos.

Lembrei-me agora de uma história, para concluir, de dois sujeitos. Um era um bem sucedido empresário, com família estruturada, filhos e emocionalmente equilibrado. O outro era um presidiário, preso por tráfico, viciado e emocionalmente desequilibrado.

Quando perguntaram a eles o motivo de eles terem a vida que tinham, eles responderam: “Também, com o pai que eu tive”.

Acontece que os dois eram irmãos e, portanto, tinham o mesmo pai. Enquanto um utilizou o exemplo do pai para copiá-lo e seguir na vida do crime, o outro rechaçou aquela vivência e foi para um caminho totalmente outro.

De toda forma é muito interessante como a justificava para a vida de cada um se deu pelo mesmo motivo: a relação com pai. Ou seja, não é o fato (a relação com o pai) que determina o que se pensa, sente ou acredita mas é a interpretação a respeito desta relação que faz com que cada um siga um determinado caminho.