Aristóteles, em Segundos Analíticos, propõe que o método de pesquisa científica seja formado por duas etapas: 1) a indução dos princípios explicativos de acordo com a observação de um fenômeno e 2) a dedução das conclusões partindo das premissas – as quais incluem os princípios induzidos. Assim, as etapas ocorrem do seguinte modo:  primeiramente, o cientista observa que determinados atributos encontram-se presentes no ente.

No segundo momento, o pesquisador elabora uma explicação científica – a partir das afirmações que são feitas sobre os atributos presentes no ente – e que são inferidas partindo de princípios explicativos. Não obstante, o conhecimento resulta da passagem da observação para as razões intrínsecas ao conhecimento desse fenômeno. A etapa indutiva é formada por generalizações que partem da observação. Os princípios explicativos encontrados durante esta etapa são utilizados como premissas do raciocínio silogístico – durante a segunda etapa.

Após fazer a experiência, o pesquisador deve decompor os enunciados (os quais constituem suas observações) em elementos que compõem as observações e, assim, deve destacar as relações que existem entre os fatos experimentados.

O silogismo é considerado um processo dedutivo por extrair verdades particulares de verdades universais. As verdades universais podem ser colhidas ou por indução ou por intuição. Todavia,  Aristóteles reconhece que a “indução não é um raciocínio, mas sim um ser conduzido do particular ao universal”(REALE, 2009, p. 230). Essa condução só se faz possível devido à experiência. Para o Estagirita, o inteligível não se encontra separado da realidade do Devir, haja vista que aquele está implicado na experiência.

Em Metafísica, Aristóteles também trata sobre a questão da relação existente entre conhecimento e experiência. O fundador do Liceu afirma que em alguns seres dotados de memória e de audição, o conhecimento se dá, inicialmente, através da experiência. Essa afirmação significa que a partir várias experiências iguais, ocorre uma generalização sobre as regularidades do fenômeno observado : “Os animais são naturalmente dotados de sensação; mas, em alguns, da sensação não nasce a memória, ao passo que em outros nasce. Por isso, estes últimos são mais inteligentes e mais aptos a aprender do que os que não tem capacidade de recordar” (MET., A(I), I, 980a 72).

E ainda : “Ora, enquanto os outros animais vivem com imagens sensíveis e com recordações, e pouco participam da experiência, o gênero humano vive também da arte e de raciocínios” (MET., A(I), I, 980b 26). As duas citações confirmam que tanto a sensação quanto a memória são elementos imprescindíveis ao aprendizado e, também, ao saber. Para adquirir o conhecimento – eidenai – passa-se por esses níveis(sensação e memória) de modo obrigatório.

Nota-se, também, a ligação existente entre experiência e memória, porquanto, ao se viver um fato algumas ou muitas vezes, devido à posse da faculdade de rememorar, é possível unificar o que já foi vivido em um só conceito. Logo, ocorre um processo de universalização.

De acordo com o Estagirita,  aprendemos ou através de indução – a qual procede partindo de particulares – ou por demonstração – a qual parte de universais. Todavia “é impossível vir a considerar os universais sem ser através de indução” (Arist,.Segundos Analíticos, I 18, 81a 38). E também não há possibilidade de realizar a indução sem usufruir de sensação devido ao fato de que esta se dá com relação aos particulares. Desse modo, Aristóteles conclui: “Assim, não é possível tomar conhecimento de tais e tais coisas; pois não é possível nem a partir dos universais sem indução, nem através de indução sem a sensação” (Arist,. Segundos Analíticos, I 18, 81a 38).

Um pouco mais adiante, na obra Segundos Analíticos(I), o filósofo afirma a impossibilidade de haver ciência partindo da sensação, porque a ciência se dá através de demonstrações universais e visa conhecer os universais. Entretanto, não é possível perceber os universais por não haver sensação dos mesmos. Assim, ao observar que determinada coisa ocorre várias vezes, pode-se obter uma demonstração já que “o universal é evidente a partir de uma pluralidade de particulares” (Arist., Segundos Analíticos, I 31, 87b 39). O argumento é reforçado com a afirmação de que existem problemas relacionados à falta de sensação, devido ao fato de que o homem obtém o universal através do ver:

Assim, a partir da sensação, surge recordação – como dizemos – e, a partir da recordação que ocorre frequentemente a respeito do mesmo fato, surge experiência; pois recordações numericamente múltiplas são uma única experiência. E a partir da experiência, ou a partir de todo universal que repousa na alma – um único concernente a muitos, que sejam um só e o mesmo em todos eles -, surge princípio de técnica ou de ciência – de técnica, se for concernente ao vir a ser, mas, de ciência, se for concernente ao que é (Arist., Segundos Analíticos, II 19, 100a 3).

Fica evidente, pois, que o processo de apreensão dos princípios se dá da seguinte forma: 1)  inicia-se na sensação; 2) passa pela recordação(isto é, pela fixação na mente) e; 3) passa pela experiência – repetição do ato de fixar na mente.  Enfim, chega-se à definição universal. Por conseguinte, foi exposto a relação existente entre sensação e conhecimento de modo aquela participa no processo deste.

Referências Bibliográficas:

ARISTÓTELES. Segundos Analíticos, livro I. In: Cadernos de Tradução Nº. 7. Campinas: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas/Unicamp, 2002.

ARISTÓTELES. Segundos Analíticos, livro II. In: Cadernos de Tradução Nº. 4. Campinas: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas/Unicamp, 2004.

REALE, G.História da filosofia:Filosofia pagã e antiga, v. 1. São Paulo: Paulus, 2003.

REALE, G. Metafísica, v. I. São Paulo: Edições Loyola, 2001

Michelle Vaz é graduanda em Filosofia