Olá amigos!
Quando era pequeno e aprendi a ler, achava estranho a palavra “Drogaria”. Afinal, se as drogas eram proibidas, se era errado tomar drogas, se devemos dizer não às drogas, como pode um lugar não só se chamar drogaria como vender drogas?
O título deste texto não faz referência a uma droga para melhorar a memória, mas sim a um famoso livro de filosofia, de Jacques Derrida intitulado “A farmácia de Platão”. Neste livro, Derrida utiliza o Fedro, de Platão, para invalidar o argumento do filósofo grego com o próprio argumento dele, tática inovadora do desconstrutivismo. Ou seja, desconstruir um argumento com o próprio argumento.
Tendo em vista objetivos maiores, criticar a predominância da fala em detrimento da escrita na tradição ocidental, Derrida é brilhante ao utilizar a etimologia da palavra fármaco, que, assim como droga em português pode significar remédio ou veneno. No contexto do livro de Platão, a escrita seria um fármaco (ϕάρμακον) para a memória. Então, temos a questão, a escrita é um remédio ou um veneno para nos lembrarmos das coisas?
Se bem me recordo, no pequeno diálogo Fedro, Platão conta um mito sobre o surgimento da escrita. No Egito, local dos mistérios perdidos, um homem apresenta ao faraó uma invenção revolucionária, um remédio, um fármaco para a memória: a escrita. O faraó acompanha o raciocínio do inventor e, quando ele termina, dá o seu verdito. A escrita não é um remédio para melhorar a memória. É, justamente, o contrário. Ao escrever, você confia na escrita, e deixa de forçar o trabalho interno para guardar as informações.
É interessante como as duas opiniões, embora opostas, fazem sentido. Escrever um telefone em um pedaço de papel para usar depois é útil para trazer de volta o dado que precisamos, que é, precisamente, a definição da memória, da recordação: trazer do passado para o presente um pedaço de informação (imagem, texto, som). Porém, ao escrever nós deixamos de utilizar a memória. Ficamos dependentes do papel em que o que queremos foi escrito e, portanto, não ampliamos a nossa capacidade mnemônica.
Lembro de um caso que aconteceu na Universidade aonde estudei. Um professor estava para apresentar um artigo importante de autoria própria. Todas as informações que precisava estava em seu pendrive, o power point com os slides, as imagens ilustrativas, as referências bibliográficas. Mesmo sendo um teórico conceituado e professor há muitas décadas, ele ficou sem ação quando o pendrive deu problema. Ao invés de falar “de cabeça”, ele pediu desculpas e se retirou…
Quer dizer, hoje não utilizamos apenas o papel. Temos toda a informática ao nosso dispor: cd’s, dvd’s, pendrives, hd’s externos, notebooks e pcs, tablets, smartphones. A pergunta platônica – como não poderia deixar de ser – continua em voga: Será que toda esta tecnologia é salutar para a memória ou será apenas uma muleta imaginária para que não precisemos nos lembrar mais?
Esta não é apenas uma questão filosófica, acadêmica, de uma torre de marfim distanciada do mundo. Esta é uma questão prática principalmente para os educadores de todas as áreas. Como forçar uma criança a guardar conhecimentos quando ela sabe que o google pode responder quase tudo em menos de um segundo? E não só para as crianças: será que não estamos ficando cada vez mais preguiçosos ao usar as nossas habilidades cognitivas?
Ora, quem se dá o trabalho de guardar o telefone de alguém, o aniversário, o email? Não há como não sentir um pouco de desapontamento quando a internet cai ou a bateria acaba e precisamos com urgência de uma informação que está fora, em toda esta tecnologia, e não dentro.
Se a prática leva à perfeição, o treino da memória não deveria consistir em confiar em lembretes de papel ou um amontoado de silício, plástico, ferro, alumínio dos nossos computadores. Como se diz, a diferença entre o remédio e o veneno é a quantidade. Saber encontrar a justa medida para expedientes como esses é sempre necessário.
Prezado Felipe, eu fiz alguns comentários em outros posts seus e percebi que os mesmos não ficaram no post. Eu fiz algum comentário inoportuno?
Agradeço desde já; debora
Maravilhosos assuntos adoro!Podem continuar.um forte abraço e muito obrigada por tudo!
Gostar muito eu iria se falasse um pouco sobre hipnotismo.
E quanto ao curso de Psicologia grátis é possível eu faze-lo?
Olá Débora,
Não querida.
O que aconteceu é que a semana passada foi atípica pelo falecimento de minha tia-avó.
E com isto, mais de 50 comentários ficaram para aprovação e só hoje estou conseguindo responder com calma a todos, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Cristina!
Fico muito feliz com a sua avaliação!
Caso tenha alguma sugestão para novos textos, estamos sempre abertos, ok? Basta comentar!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe, sinto muito pelo falecimento de sua tia. Espero que a família supere e que fique guardado o que foi bom. Eu tento fazer isso como estratégia de minimizar o sofrimento. Como quase sempre…eu acho que fiz algo errado ou magoei alguém..probleminha que eu tenho que tratar sabe. Abraços. Débora
Olá José!
Sim, se você está se referindo ao nosso Curso de Psicologia Online Grátis.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Débora,
Então, esta é uma estratégia fantástica.
Uma das pessoas mais felizes que conheci tinha, digamos, um mecanismo interno desde pequena: sua memória era sempre de fatos positivos e alegres! Quer dizer, ela simplesmente não conseguia se lembrar dos pontos negativos! Então imagine o que isto faz na qualidade das emoções, não é mesmo?
Sobre probleminhas a tratar, sempre recomendo a terapia.
Eu mesmo voltei a fazer há pouco e tem me ajudado muito com os meus probleminhas, digamos. Como são pequenos problemas, vamos deixando para depois, mas vemos que, quando tratamos, deveríamos ter tratado antes.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe!
O titulo do texto engana, comecei a ler achando que ia encontrar algumas sugestao
para melhorar a memória…….???
Olá Maria Teresa,
Sinto decepcioná-la com o título, rsrs.
Este título ficou como aquelas manchetes dos grandes jornais que parecem uma coisa e no fundo são outra, né?
Mas é que não encontrei outro título melhor para resumir todo o conteúdo do texto. Afinal, o texto tem que mostrar o que título prometeu e, neste sentido, penso que o título não é tão enganador assim.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Aparecida!
Ótima sugestão!
Em breve, prometo escrever um texto sobre hipnotismo, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Maria Teresa, se eu não estiver errado na interpretação, parece que a melhor sugestão deixada no texto para melhorar a memória, é exercitá-la. Hoje dispomos de uma infinidade de “memórias acessórias” às quais recorremos em nosso cotidiano, e pearece que o uso excessivo dessas “memórias acessórias” torna a nossa memória cerebral um pouco preguiçosa. Então, uma boa dica é tentar memorizar coisas memorizáveis, como datas, alguns números importantes e utilizados com frequência, senhas etc. Fazer atividades como sudoku, palavras cruzadas etc também são bons exercícios. O essencial é manter nossa máquina trabalhando! Abraços!
Bom dia! Adorei o texto como todos os outros que eu já li. O engraçado é que minha filha de seis anos (que aprendeu a ler a pouco tempo) sempre me pergunta porque na farmácia está escrito drogaria, ela sempre fala mas mãe não se vende remédio lá? E eu tento responder da melhor maneira possível… como tudo na vida minha filha pode ser usado para o bem e o mal, de certa forma “remédio é droga” tudo depende de como você fará uso disso. Bom só queria deixar aqui meus agradecimentos pelos textos publicados são muito esclarecedores… obrigada!
Valeu Felipe, desculpe reclamar!!!
seus artigos sao muitos bons, continue nos prestigiando.
obrigada.
Olá Débora!
É justamente esta a ideia!
Existe um livro muito importante sobre a terceira idade, chamado “A Velhice”, de Simone de Beauvoir em que ela faz um levantamento muito interessante sobre fatores que influenciam no bem estar nesta idade. Diversas pesquisas apontam que deixar o cérebro ativo, cultivar a intelectualidade, faz com que a memória não se perca com os anos.
Por isso, a ideia do texto – além de falar do Platão e de Derrida – é fazer uma reflexão sobre o não uso da memória em função da tecnologia.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Cedimara!
Que curioso sua filha ter tido o mesmo questionamento que eu tinha! rsrs
Realmente, um remédio é uma droga, que pode curar ou não. Sem querer extrapolar os limites do texto, é muito interessante também o questionamento da homeopatia, que argumenta que a alopatia não cura, mas faz com que o paciente mantenha uma condição crônica.
Por exemplo, se temos uma alergia, podemos tomar um anti-histaminico. Assim, não curamos a causa da alergia, apenas aliviamos o sintoma e deixamos a doença intacta. Com a homeopatia, fazemos com que, aos poucos, o corpo consiga reagir de forma adequada e não alérgica.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Maria,
Críticas são sempre bem vindas!
Como disse antes, de certo modo, você tem razão. O título é um pouco ambíguo e dá margem a interpretação de que falaríamos de um remédio para melhorar a memória, não é? rsrs
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Simone de Beauvoir é fantástica! eu li “Tête-à-tête” e “O segundo sexo” e adorei ambos, mas não sabia desse…
Olá Débora,
Este livro é bastante conhecido na gerontologia. Estudamos também na faculdade de psicologia, em psicologia do desenvolvimento. É um livro bastante grande, mas que pode ser lido tranquilamente pelo interesse nos capítulos individuais:
Parte I: O ponto de vista da exterioridade
Capítulo 1: A velhice e a biologia
Capítulo 2: Os dados da etnologia
Capítulo 3: A velhice nas sociedades históricas
Capítulo 4: A velhice na sociedade de hoje
.
Parte II: O ser-no-mundo
Capítulo 5: Descoberta e assunção da velhice – vivência do corpo
Capítulo 6: Tempo, atividades, história
Capítulo 7: Velhice e vida cotidiana
Capítulo 8: Alguns exemplos de velhices
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe ,muito bom o texto,muito obrigado.
Da mesma forma como os colega acima, pense ser sobre melhorar a memória, mas o texto foi bem colocado.Gostaria de entender porque tenho essa ansia de ler sobre tudo, de ter conhecimento de todo tipo de conteudo[desde criança]? Será algum tipo de transtorno? E o pior é que minha memória não consegue acompanhar, parece que meu “hd” está lotado! Rsrrsrsrsrs
Olá Mario!
Fico muito feliz que tenha gostado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Karina,
Bem, Freud fazia uma correlação entre o desejo de saber do cientista com a curiosidade sexual infantil. Eu penso ser esta hipótese um pouco estranha, para dizer a verdade, rsrs.
Cada pessoa tem uma tendência específica. Se isto de estudar e aprender é a sua praia, a sugestão é para você aproveitar e explorar o máximo possível, inclusive em termos financeiros.
Com relação à memória, podemos dizer que a memória é basicamente repetição. Por exemplo, você nunca vai esquecer o seu nome (a não ser que tenha uma doença), não é mesmo? Mas você pode esquecer a palavra Unbewusstsein (que é inconsciente em alemão) muitas vezes até repetir e repetir até guardar.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Boa tarde Felipe, preciso ler e fazer uma resenha do capítulo 2, sou farmacêutica e estou fazendo pós em gerontologia, mas está bem complicado achar o livro, tu podes me ajudar? Fico no aguardo.
O Livro do Derrida?
Eu tinha ele em francês Andréa, então, infelizmente não sei como você poderia encontrá-lo, ok?
Ficarei te devendo essa.