Você está lendo estas palavras agora mas também está consciente dos sons do ambiente e ouvindo os sons ao seu redor e lendo, você também pode sentir os movimentos do seu corpo ao respirar, inspirando e… expirando… inspirando e…expirando… e à medida em que você continua vendo as palavras na tela você também pode sentir a língua em sua boca… os lábios… o nariz… a temperatura do seu rosto… inspirando uma profunda sensação de paz, que acompanha o ritmo da respiração, com os ombros subindo… e descendo… subindo e descendo… lentamente… os músculos relaxando nos ombros e em todo o rosto e com os músculos relaxados você sente agora também os dedos dos pés… e ao sentir os pés…as mãos… você escuta os sons ao redor e sente junto de tudo isso uma profunda sensação de paz e de alegria… que se espalha por todo o corpo e te dá vontade de sorrir…pois é possível lembrar um momento de muita alegria.. inspirando e expirando… e enquanto lembra este momento muito agradável e alegre, você pode simplesmente levar os sentimentos com você junto de sua inspiração e expiração…inspiração e expiração… inspiração de uma profunda sensação de paz…

O que é hipnose?

Se você leu as palavras acima, e sentiu uma mudança interna, você acaba de ser hipnotizado. Este texto foi escrito por mim em 2011, quando estava estudando os efeitos da hipnose através de um livro muito interessante de Richard Bandler, um dos criadores da Programação Neurolinguística. O que é mais interessante é que ele começa o Workshop (espécie de Curso intensivo de final de semana) dizendo que a hipnose não existe. Mas como todas as pessoas ali presentes tinham pago para conhecer mais sobre hipnose, ele não ia discutir a existência ou não… quer dizer, a hipnose não existe no sentido de que é apenas um grupo de técnicas que colocam em ordem estímulos auditivos (palavras faladas ou escritas) com as sensações corporais a fim de modificar o estado mental e/ou emocional. 

Assim, uma conversa qualquer, mas motivadora e inspiradora, poderia ser considerada hipnose. Um filme de terror, que vai inserindo sons impactantes com imagens fortes, também vai modificando o estado de quem está assistindo, bem como a própria TV, que consegue por vezes mudar tanto que a pessoa fica surda, não ouvindo, por exemplo, uma pessoa chamando.

Em suma, a hipnose não existe como uma unidade ou como uma abstração. Quem estuda hipnose estuda formas de dispor os estímulos a fim de provocar uma mudança na pessoa que está disposta a ser hipnotizada. Com isso, podemos dizer que temos uma definição do que é hipnose.

No caso do texto acima, nós temos um esquema simples: uma sequência de estímulos físicos verdadeiros (ler as palavras, ouvir os sons do ambiente, sentir a respiração), ligados a estímulos eliciados como paz, relaxamento, sorriso. A sequência é disposta a fim de ter no começo mais estímulos físicos verdadeiros, depois uma mistura deles e, no fim, mais estímulos eliciados.

Se pensarmos em um hipnotizador, talvez a primeira imagem que vem à mente é de uma pessoa com um pêndulo, dizendo frases como “Você está se sentindo mais calmo, seus olhos estão pesando”… e depois, o hipnotizador faz cenas de circo: faz com que a pessoa coma cebola como se fosse maçã, faz a pessoa ser espetada com agulhas e não sentir nada, faz a pessoa se lembrar de quando tinha três anos de idade. Isto tudo é irrelevante, torna a hipnose apenas um espetáculo. Mas dadas as características inusitadas, há mais de um século que a hipnose vem sendo pensada – seriamente – como uma importante ferramenta de transformação psíquica e de cura para as doenças mentais.

Freud e a hipnose

Na faculdade de psicologia, nós estudamos a história da psicanálise e descobrimos que Freud foi um importante divulgador da hipnose no começo de sua carreira e, ao mesmo tempo, foi uma pessoa que, depois, lutou e argumentou contra os efeitos desta técnica.

Quando ainda era um jovem médico, Freud estudou com Charcot, um médico francês que fazia demonstrações públicas (como estes hipnotizadores de TV atuais) de como os sintomas neuróticos podiam ser curados apenas com a hipnose. E mais: ele demonstrava que os sintomas histéricos também podiam ser criados com a hipnose.

Com a influência de Charcot, Freud começou a utilizar a hipnose em seu consultório e publicou suas descobertas e curas. Porém, com o tempo, ele percebeu duas coisas. Primeiro, a hipnose não tinha um efeito duradouro na cura dos sintomas. Os sintomas desapareciam para dar lugar a outros sintomas. Segundo, para hipnotizar, ele tinha que sugerir mudanças para os seus pacientes, assumindo a responsabilidade pela sugestão e retirando do paciente a autonomia, já abalada pela doença, e a capacidade de tomar decisões e cuidar de sua própria vida.

Deste modo, Freud foi um importante divulgador da hipnose e, ao mesmo tempo, um crítico ferrenho da sua eficácia.

Milton Erickson

Logo no começo, eu disse que estava estudando um livro do Richard Bandler sobre hipnose. O Bandler, por sua vez, estudou com Milton Erickson, um importante médico psiquiátrico dos Estados Unidos, que revolucionou as técnicas de hipnotismo. A grosso modo, podemos dizer que antes de Erickson, havia apenas uma técnica de hipnotizar, muito parecida com esta técnica do pêndulo, para o qual o paciente deveria ficar olhando até estar no estado hipnótico.

Erickson, então, desenvolveu diversas técnicas diferentes e as mais eficazes técnicas de hipnose são aquelas que utilizam, depois de o paciente já estar em um estado alterado, histórias e contos que visam ressignificar os pensamentos e sentimentos do paciente. Pois é verdade que uma técnica de hipnose como esta acima, neste texto, é passageira. Alguém pode ler e sentir realmente uma sensação de paz, mas esta sensação de paz passará depois de alguns instantes ou em alguns dias.

Neste sentido, Freud tinha razão sobre os efeitos apenas temporários da hipnose. Mas quem estuda a hipnose nos dias atuais diz que Freud não sabia utilizar a fundo a hipnose, já que, se a técnica for mais profunda, ela poderá tocar não só as sensações corporais, não só os pensamentos e emoções, mas um nível muito mais profundo: o que pensamos sobre os nosso próprios pensamentos, quer dizer, os paradigmas que organizam a nossa vida.

Por exemplo, imagine alguém que tem uma crença profunda e arraigada que não poderá ser mais bem sucedido que seu pai, a fim de não magoá-lo. Embora este pensamento possa ser inconsciente, ele estará organizando, tal qual um paradigma, toda a vida do sujeito ou, ao menos, a sua vida financeira e profissional. Se este pensamento for modificado através de uma história que desfaça a necessidade desta crença, o sujeito poderá ser bem sucedido sem fazer a relação entre o seu sucesso e o sucesso do pai.

Conclusão

Atualmente, o Conselho Federal de Psicologia reconhece os benefícios da hipnose e a considera, junto da acupuntura, um recurso auxiliar para o tratamento psicológico. Em uma nota de orientação para os profissionais da psicologia, eles dizem:

“Em relação à hipnose, por exemplo, a Comissão de Orientação e Fiscalização (COF) do CRP SP recomenda que o profissional observe a Resolução CFP nº 013/00, que aprovou seu uso. A condição para que o profissional aplique esse recurso é a sua capacitação adequada e devida comprovação, de acordo com o disposto no Código de Ética Profissional do Psicólogo e, ainda, que seja utilizado na medida em que se fizer necessário, dentro dos padrões éticos, garantidos a segurança e o bem-estar da pessoa atendida. Isso significa que é vedada ao psicólogo a utilização, por exemplo, da hipnose como instrumento de mera demonstração fútil ou de caráter sensacionalista ou que crie situações constrangedoras às pessoas que estão se submetendo ao processo hipnótico.

A hipnose, como recurso auxiliar dos psicólogos, avançou, a exemplo da Escola Ericksoniana, no terreno psicológico, em sua aplicação prática e no valor científico, e ganhou o reconhecimento não só do CFP, mas da comunidade científica internacional e nacional. Essa prática foi reconhecida na área de saúde, como campo de formação e como recurso técnico capaz de contribuir nas resoluções de problemas físicos e psicológicos, tanto do ponto de vista terapêutico como de recurso coadjuvante”.

Psicólogo Clínico e Online (CRP 06/145929), formado há 16 anos, Mestre (UFSJ) e Doutor (UFJF), Instrutor de Mindfulness pela Unifesp. Como Professor no site Psicologia MSN venho ministrando dezenas de Cursos de Psicologia, através de textos e Vídeos em HD. Faça como centenas de alunos e aprenda psicologia através de Cursos em Vídeo e Ebooks! Loja de Vídeos e Ebooks. Você pode também agendar uma Sessão Online, Terapia Cognitivo Comportamental, Problemas de Relacionamentos, Orientação Profissional e Coaching de Carreira , fazer o Programa de 8 Semanas de Mindfulness Online. E não se esqueça de se inscrever em nosso Canal no Youtube! - no TikTok -, e Instagram! Email - psicologiamsn@gmail.com - Agendar - Whatsapp (11) 9 8415-6913