Olá amigos!

Se traduzirmos o título deste texto “A psicologia da solidão” mudando a palavra psicologia (psique = alma em grego; logia = estudo) teríamos “O estudo da alma na solidão” ou, talvez melhor, “O estudo da alma solitária”. O tema foi sugerido por uma querida leitora, a Lorena, e portanto, espero poder conversar com vocês a respeito.

Bem, para quem acompanhou o texto de ontem, O Estado e a Educação para Platão, terá visto que a concepção de Sócrates e de Platão cita a ideia de que o homem é um animal político (ζῷον πoλίτικoν, zoon polikiton). Conhecemos já a ideia de que o homem é um animal racional (Ζωον λογικον, zoon logikon), não é mesmo? Ou seja, o homem é um ser que participa da natureza, mas, para além dos outros seres, possui razão. Mas o que quer dizer que o homem é um animal político?

Em grego, pólis significa cidade. Para quem ainda se lembra das aulas de história, cada cidade na Grécia Antiga possuía autonomia com relação às demais, de forma que falamos em Cidade-Estado. Por isso, o texto anterior teve no título a palavra Estado. Em certo sentido, poderíamos substituí-la por Cidade-Estado, na medida em que o conteúdo circunda a educação na cidade.

Enfim, quando dizemos que o homem é um animal político queremos dizer (este é o principal sentido) de que o homem é um animal que vive na cidade (pólis). Político é uma declinação, na língua grega. Se fôssemos traduzir literalmente teríamos: “O homem é um animal da cidade”.

Estou dizendo tudo isto porque interessa no nosso problema do estudo da alma solitária. O homem recluso, o eremita, o anacoreta, o místico do deserto, é aquele que foge do convívio social. Porém, como pode? Se o homem tem em sua natureza – de acordo com os filósofos gregos – a essência do convívio na cidade, do convívio social, como pode querer viver isolado? Por si mesmo?

Já disse em outros textos que a psicologia centra seu estudo no indivíduo, na individualidade. Independente da abordagem teórica (psicanálise, comportamental, cognitiva, social, humanista, existencial, fenomenológica ou outra) o que importa, no final das contas, é o indivíduo, quer dizer, como a teoria (sobre o geral) vai conseguir dar conta dos sentimentos, pensamentos, sensações, atitudes e comportamentos de uma pessoa única, uma pessoa que é irrepetível?

A dicotomia indivíduo X sociedade (ou grupo, ou tipo) não tem saída, no final das contas. Embora seja realmente equivocado extrapolar conceitos de um grupo para entender um indivíduo – do latim individuus (indivisível) – continua sendo útil ter formas mais gerais de compreensão. Na clínica, continua sendo importante ter uma orientação sobre características, traços, caráter, personalidade, estrutura, doença, enfim, o nome que se queira dar, que possa aproximar a compreensão do sujeito que ali está.

Enfim, sem querer me alongar em questões epistemológicas, que não interessam a todos, gostaria de comentar o meu entendimento que faço da questão da solidão.

Introversão versus Extroversão

Um dos critérios que utilizamos para saber se uma pessoa é introvertida (mais voltada para si mesma) ou mais extrovertida (mais voltada para o mundo e para os outros) é a frequência com que a pessoa mantém contatos sociais. Sem utilizar um teste psicológico, como o MBTI ou o QUATI, podemos ter um vislumbre a respeito da atitude, introvertida ou extrovertida, de alguém apenas perguntando como a pessoa fica, quando tem que passar algumas horas sozinha.

Extrovertidos tem enorme dificuldade de ficar sem companhia, ainda que seja por algumas horas. Introvertidos, por outro lado, gostam e frequentemente preferem estar sozinhos ou com pessoas mais próximas, em que confiam.

Se por um lado, para um introvertido, a confiança ou nível de profundidade na relação possa ser relevante, a quantidade com quem conseguem ter relação com as outras pessoas ou a intensidade desta relação – no sentido da quantidade de pessoas presentes e conversando ao mesmo tempo – possui mais importância. Quer dizer, ambientes agitados, com muitas pessoas falando ao mesmo tempo podem representar um ambiente hostil, na pior das hipóteses, e um ambiente cansativo, na melhor.

Estudos da neurociência indicam que introvertidos não conseguem manter a sua tranquilidade quando possuem muita estimulação ao seu redor. É como se o sentimento fosse de que estão se perdendo ou “entrando em parafuso”. Extrovertidos, ao contrário, precisam de mais estimulação para se sentirem bem, o que faz com que – se não tiverem estimulação o suficiente – tenham que buscar fora de si, no mundo, com os outros.

Um de meus amigos no mestrado, uma pessoa muito extrovertida, disse que não conseguia ficar meia hora sozinho em casa. No mínimo, tinha que ligar para alguém logo. Como disse, pessoas introvertidas levariam este desafio de forma normal, mas, ao invés, poderiam se sentir estranhos em ambientes superpopulosos. Inclusive, muitos diagnósticos de Síndrome do Pânico não seriam feitos se as pessoas diagnosticadas vivessem em cidades menores.

Conclusão

A alma (ou psique) de uma pessoa solitária tem grandes chances de ser uma pessoa introvertida. É raro encontrar uma pessoa extrovertida que queira estar só. Se isto acontecer, será por pouco tempo, não mais que horas ou dias. Uma pessoa que busca a solidão, quase sempre, portanto, é provável de ser uma pessoa introvertida.

Entretanto, não devemos pensar na pessoa que possui seus momentos de solidão nos extremos das possibilidades desta busca. Talvez a questão não seja não ter contato algum e sim não gostar de ter um certo tipo de contato. Introvertidos podem ser péssimos para falar, mas bons escritores. E vejo isto nos atendimentos online, em que digitar ou enviar um email é mais fácil do que ligar a webcam.

Solidão é sinônimo de isolamento. Isolar vem do latim, insula, ilha. Mas, “nenhum homem é uma ilha”, como dizia John Donne, e isto também significa que se ficássemos em uma ilha, ainda assim seriamos um animal político, porque, não perderíamos uma característica que, ao lado da razão, nos faz humanos: a linguagem.

Psicólogo Clínico e Online (CRP 06/145929), formado há 16 anos, Mestre (UFSJ) e Doutor (UFJF), Instrutor de Mindfulness pela Unifesp. Como Professor no site Psicologia MSN venho ministrando dezenas de Cursos de Psicologia, através de textos e Vídeos em HD. Faça como centenas de alunos e aprenda psicologia através de Cursos em Vídeo e Ebooks! Loja de Vídeos e Ebooks. Você pode também agendar uma Sessão Online, Terapia Cognitivo Comportamental, Problemas de Relacionamentos, Orientação Profissional e Coaching de Carreira , fazer o Programa de 8 Semanas de Mindfulness Online. E não se esqueça de se inscrever em nosso Canal no Youtube! - no TikTok -, e Instagram! Email - psicologiamsn@gmail.com - Agendar - Whatsapp (11) 9 8415-6913