Olá amigos!
Neste texto, farei uma resenha própria de um excelente livro da Editora Juruá, Gestalt-Terapia: Cuidando de Crianças – Teoria e Arte, da psicóloga Sheila Maria da Rocha Antony. Ao final, colocarei todo o currículo dela, mas antes, gostaria de comentar sobre o livro como um todo.
Bem, a Gestalt-Terapia é uma das abordagens mais utilizadas dentro da psicologia clínica. É importante notar que esta abordagem não possui uma relação direta com a teoria da Gestalt do início do século XX.
Veja a diferença – Psicologia da Gestalt (teoria) versus Gestalt-Terapia e seu surgimento e As fronteiras de contato em Gestalt Terapia
No livro, portanto, a Sheila utiliza a Gestalt-Terapia no processo terapêutico com crianças. Logo de início, na Apresentação, há uma concepção fantástica quando ela explica porque usou a palavra cuidado no título:
“O termo cuidado deriva da história do significado do conceito ôntico de cura. A ligação entre estas duas palavras, cura e cuidado, ilumina o sentido e significado do processo psicoterapêutico que tem por fundamento a relação humana instituída entre o terapeuta e o outro que busca ajuda para o seu sofrimento… a psicoterapia é um processo de cura” (ANTONY, 2012, p. 9)
A fábula da cura, trazida por Heidegger, também é interessantíssima e fica como dica para vocês adquirirem o livro.
Ainda na apresentação, ela responde a uma dúvida frequente dos psicólogos clínicos que estão começando ou estão desejando começar a atender crianças. Em nossa formação é comum o foco estar voltado todo para o atendimento de adultos (em alguns universidades). Por isso, pode surgir a dúvida de como atender crianças de todas as idades. O erro mais básico, e vejo isto nas supervisões, é tratar as crianças com as mesmas técnicas e métodos dos adultos. E está é uma outra contribuição do livro. Ela diz:
“A criança não aceita ter um terapeuta observador e neutro que não é participativo nem espontâneo, que não se mostra aberto ao contato e disponível ao encontro verdadeiro. O psicoterapeuta de crianças pode e deve interagir, brincar com a criança, rir, tocar respeitosamente a criança com abraços, apertos de mão, beijo (quando esta solicita e permite); falar de si como pessoa e de sua vida (guardando os devidos limites e entendendo qual é a necessidade da criança); evitar exercer um controle demasiado das sessões (planejar e cumprir as atividades propostas sem escutar a vontade da criança”) (ANTONY, 2012, p. 11).
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Sumário do Livro Gestalt-Terapia: Cuidando de Crianças – Teoria e Arte
INTRODUÇÃO (21, 22, 23, 24)
I – A GESTALT-TERAPIA: SEUS PRINCIPAIS CONCEITOS (25, 26)
Neste capítulo, a autora introduz os principais conceitos da Gestalt de uma forma simples e clara. Para mim, foi a possibilidade de reecontro de conceitos fundamentais da prática da Gestalt-Terapia e, para quem não conhece a abordagem, será uma ótima introdução. Os conceitos trabalhados são 4:
1.1 Autorregulação e ajustamento criativo (27, 28, 29, 30)
1.2 Contato (o ser de relação) (31, 32, 33)
1.3 Awareness e consciência (34, 35, 36)
1.4 Campo e subjetividade (37, 38, 39)
II – BRINCANDO E CONSTITUINDO O “EU” (41, 42, 43, 44)
Este pequeno capítulo argumenta sobre a importância da brincadeira. Como a autora diz ao longo do livro, brincar é uma coisa séria, pois permite que a criança fantasie, crie seu mundo, estabeleça relações com os objetos, com os outros e consigo. A autora cita rapidamente o fort da de Freud e também faz o levantamento da brincadeira com o desenvolvimento infantil em períodos como dos 8 aos 12 e antes.
III – A CRIANÇA EM TERAPIA (45, 46, 47, 48, 49)
Neste capítulo, a autora descreve o que considera ser fundamental na observação das sessões e nos objetivos terapêuticos
3.1 O método fenomenológico: conhecendo o ser em situação (50, 51)
IV – O PSICOTERAPEUTA EM CENA (53)
Neste capítulo, lemos as principais concepções a respeito da terapia Gestáltica, não só com crianças, mas também com pacientes de todas as idades. Abaixo, cito uma lista completa do que a autora considera ser valioso para a prática da psicoterapia. Excelente capítulo.
4.1 A presença do terapeuta (53, 54, 55, 56)
V – O VALOR DAS TÉCNICAS COMO EXPERIMENTO (57, 58, 59)
A partir do capítulo V, a autora começa a descrição de técnicas práticas, descrevendo-as conceitualmente primeiro no capítulo V e no capítulo seguinte com mais detalhes de técnicas específicas.
5.1 As técnicas (60)
5.1.1 Expressivas (60)
5.1.2 Projetivas (61)
5.1.3 Integrativas (62, 63)
VI – A ARTE NA TERAPIA (65)
Neste capítulo, como dito acima, podemos ler as técnicas descritas em detalhes, junto da utilização de exemplos clínicos. Este capítulo, a arte como técnica, é, em minha opinião, central em toda a obra, sendo por si só muito valioso.
6.1 Brincando com os fantoches (66)
6.1.1 Exemplo clínico (66, 67)
6.2 Manuseando a argila (68, 69)
6.2.1 Exemplo clínico (70, 71)
6.3 Trabalhando com a caixa de areia (72, 73)
6.3.1 Exemplo clínico (74, 75, 76, 77, 78, 79)
VII – CUIDAR É ESSENCIAL (81)
O último capítulo é finalizado com algumas dicas e orientações para os pais terem o cuidado (no sentido dito na apresentação) com seus filhos, como exemplos, podemos citar: a importância do diálogo, do carinho, do perdão, dos limites, dos elogios, da individualidade, do incentivo aos talentos, etc. Todos estes itens são descritos em detalhes também.
7.1 De pais para filhos (81, 82, 83)
REFERÊNCIAS (85, 86, 90)
Considerações sobre o livro
Eu gostei muito do livro da Sheila Antony. Além de poder ser utilizado como uma introdução básica aos princípios da Gestalt, a autora é muito competente em trazer toda a sua experiência clínica para poder ajudar outros profissionais no cuidado com as crianças. Evidentemente, os conteúdos e conceitos podem ser estendidos à pacientes de outras faixas etárias.
Na época da faculdade, estudei a Gestalt e foi com prazer que pude reencontrar no livro da Sheila, uma ótima escritora. Especialmente o capítulo VI é de fundamental importância prática para quem lida com crianças no consultório e pode ficar perdido ou não ter à sua disposição alternativas de técnicas.
Como disse na descrição do Sumário, gostaria de compartilhar um trecho do capítulo IV, “O Psicoterapeuta em Cena”:
A autora faz uma lista do pensa ser valioso para o terapeuta:
- Levar a criança a valorizar a relação, a interação com o outro;
- Criar um clima de segurança e confiança, de modo a permitir a expressão livre e autêntica da criança;
- Agir com aceitação, permissividade, flexibilidade, empatia, sem julgamento e expectativa;
- Ser ativo, interativo, criativo, dinâmico, porém acompanhando o processo, os interesses e as necessidades da criança;
- Saber lidar com situações de conflito, sem envolver-se com identificações projetivas;
- Reconhecer e confirmar toda forma de autoexpressão, a fim de valorizar o modo de ser da criança, destacando sua capacidade de ajustamentos criativos, seus talentos e habilidades;
- Perguntar de maneira clara, direta e breve usando palavas simples
- Não fazer perguntas enquanto a criança estiver em atividade (brincando, desenhando) para não interromper sua concentração e seu processo produtivo espontâneo;
- Saber reconhecer as necessidades não preenchidas da criança, a fim de elaborar objetivos terapêuticos específicos;
- Observar, aceitar, respeitar as resistências da criança;
- Não infantilizar a criança. Crianças não gostam de ser tratadas como “criancinha”.
- Ser aberto, honesto, autêntico, acolhedor, ético.
- Estar completamente presente, disponível, buscando o contato mesmo que a criança evite
- Ter claros os próprios limites para ajudar a criança a conhecer e a organizar os próprios limites na relação com o outro e com o ambiente;
- Lembrar que a criança é figura no processo. A terapia, acima de tudo, é dela e para ela;
- Acolher os pais e construir com eles uma aliança para que se sintam parte importante do processo terapêutico da criança;
- Saber que os outros sistemas (social, escolar, cultural) influenciam na formação da criança e nos conflitos emergentes; (ANTONY, 2012, p. 55-56).
Sobre a Autora:
Especialista em Psicologia Clínica com formação emGestalt Terapia. Mestre em Psicologiapela Universidade de Brasília (UnB). Psicóloga clínica da Secretaria de Estado de Saúde doDistrito Federal (SES/DF), lotada no Centro de Orientação Médico Psico-Pedagógico –COMPP, desde 1990, onde é coordenadora do Programa de Transtorno de Déficit deAtenção/Hiperatividade (TDAH). Membro fundador e docente do Instituto deGestalt Terapia de Brasília (IGTB).
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Meu caro e douto Prof. Psicólogo !
Antecipo-lhe meu pedido de desculpas e péço-lhe que não me interprete como “explorador gratuito do conhecimento alheio” rssss.. Como já lhe disse antes, percebo em você uma grande expertise no campo da Psicologia e também demonstra grande prazer em escrever e divulgar seus conhecimentos sobre essa “maravilha”, portanto, péço-lhe que, se possível, escreva sobre o “nascimento psíquico” uma vez que este deve ser diferente do nascimento orgânico. Já lí alguma coisa a respeito, mas, não ficou claro.
Sou Administrador de empresas, portanto, leigo no assunto, mas, gosto de aprender sobre assuntos intrigantes, inclusive, estou buscando cursos na área de Psicanálies e Psicologia que seja possível faze-lo à distância, uma vez que trabalho todos os dias, viajo muito a trabalho e não poderia frequentar sala de aulas.
Obrigado!
Ronivon.
Olá Ronivon,
Legal ver seu comentário novamente por aqui!
Olha, para ser sincero, não conheço esta teoria a respeito do nascimento psíquico.
Vou dar uma pesquisa no que este conceito quer dizer especificamente e prometo escrever um texto em breve, ok?
Grande Abraço!
Atenciosamente,
Felipe de Souza