Carl Gustav Jung nasceu em 26 de julho 1875, na Basiléia, Suíça. Ao longo de toda sua vida, foi um grande estudioso da alma humana. Interessado por uma ampla variedade de livros desde sua infância graduou-se em medicina psiquiátrica em 1900. Rapidamente sua carreira evoluiu e iniciou seus primeiros trabalhos de pesquisa, tendo sempre como interesse central desvendar o que se passava no espírito do doente mental. Diferente de outros médicos de sua época tratava cada paciente com humanidade, como indivíduo e não como um diagnóstico a ser descoberto.

Após um período de estreita convivência com Freud, seguido de um rompimento abrupto, causado por diferenças básicas de posições, Jung realizou um mergulho em seu mundo interno, mergulho este que impulsionou a realização da maior parte de sua obra. Por isso podemos dizer que a obra de Jung é prática, pois parte das vivências com seus pacientes e do confronto com seu próprio inconsciente.

Um conceito muito utilizado na prática junguiana é o do inconsciente. O inconsciente, segundo Jung é “a totalidade de todos os fenômenos psíquicos em que falta a qualidade da consciência” (Os arquétipos e o inconsciente coletivo, p.69). Nele está contido tudo o que um dia foi consciente e logo após reprimido por ser doloroso demais para permanecerem na consciência, bem como lembranças rudimentares que foram perdidas por serem muito primitivas para tornarem-se conscientes. A estes conteúdos, Jung denominou “inconsciente pessoal”, e afirmou que ele é constituído em sua maioria por complexos.

No entanto, e é neste ponto que se encontra o diferencial da psicologia analítica, existem conteúdos do inconsciente, que jamais passaram pela consciência. São conteúdos – instintos, funções e formas – que estão presentes em todo tempo e em todo lugar. Eles formam o que Jung denominou de “inconsciente coletivo”, por serem universais e uniformes e não participarem da individualidade do ser humano.

No inconsciente coletivo encontram-se todos os arquétipos. Eles representam todas as situações tipificadas da nossa vida e são ativados dependendo das situações que vivenciamos. Por exemplo: arquétipo materno e paterno – quando vivenciamos a relação com nossos pais ou nossos filhos; arquétipo do casamento – quando nos unimos amorosamente a alguém; arquétipo do velho sábio – ao nos depararmos com uma situação de ensino/aprendizagem; arquétipo da criança – situações que despertam o lúdico dentro de nós; e assim por diante.
Todo arquétipo possui um lado positivo e um lado negativo e dependendo das nossas vivências pessoais, valorizamos mais um ou o outro polo. Este desequilíbrio é prejudicial à nossa saúde psíquica além de atrapalhar nossas relações sociais e pessoais. A consciência, segundo Jung “propicia um trabalho bem ordenado de adaptação, isto é, põe freios aos instintos e, por isso, é indispensável. Só quando o homem possui a capacidade de ser consciente é que se torna verdadeiramente homem” (Os arquétipos e o inconsciente coletivo, p.147).

Para ampliar nosso grau de consciência e promover a cura, este modelo junguiano do inconsciente atribui aos arquétipos uma energia criativa. Dessa forma, ao acessar os conteúdos arquetípicos, iniciamos um processo criativo de transformação. Para acessarmos os arquétipos a psique se utiliza de símbolos. Os símbolos se manifestam por meio de vivências significativas do nosso dia a dia, através dos nossos sonhos e desenhos, quando lemos mitologia ou contos de fada. Esta é a linguagem do inconsciente. Através dos símbolos, acionamos maneiras criativas de solucionar conflitos, contidas nos próprios arquétipos.

A função do símbolo é ser um intermediário, um “mediador” entre o consciente e o inconsciente. Uma vez que o símbolo surge do lado criativo do arquétipo, ele vem prenhe de significado. A parte consciente da psique capta esse significado para utilizá-lo na solução de conflitos, ou no próprio processo de amadurecimento do indivíduo.

Além disso, o símbolo também é um transformador psíquico de energia. Isto significa que ele possui um caráter de cura e restauração. É ele o responsável pelo movimento da psique, uma vez que alivia as tensões de um conteúdo do inconsciente coletivo que quer se manifestar, dando sentido e atingindo o consciente, evitando, desta forma a formação de novas aglomerações de energia.

Em determinados momentos de vida, torna-se difícil encontrar esta comunicação com o inconsciente por estarmos muito envolvidos com atividades cotidianas e burocráticas, ou por termos vivenciado algum sofrimento profundo, ou porque esta comunicação nunca foi valorizada em nosso ambiente.

O terapeuta junguiano, por meio de métodos expressivos verbais e não verbais – sonhos, desenhos, sand play, mitologia, contos de fada, entre outros – ajuda o paciente a acessar seu inconsciente, encontrando o caminho da cura. Esses métodos precisam ser utilizados justamente porque a linguagem do inconsciente é simbólica e os dois juntos – terapeuta e paciente – vão decodificá-la, aproximando-se do inconsciente e gerando um processo de verdadeira transformação.

Autora: Luciana Ximenez