O Vigário e sua fantástica busca por um caminho justo, sem pedras, sem perdas, sem nada além de sua malinha com uma muda de roupa e água. Na correria de seus dias cantava sobre sua vida, tão distinta de muitas outras vidas que por ali passavam.

Eu observara aquele homem, sua face era calma e sua voz como de um canto lírico. Homem que poucos chegavam perto, pois trajava uma simples roupa remendada de um tecido cru, calçava sandálias de couro e andando sobre aquela praça, observava e admirava até uma simples pedra no chão. Naquele tarde, passei pelo vigário, andando pelo parque, ouvi uns ruídos de alguém falando alto, clamando como se estivesse cantando uma poesia. Este homem cujo nome era Vigário dizia:

“Qual é a lei da vida?, qual é a lei da existência plena?, vocês que passam de um canto para o outro, sem conhecer a ninguém, apenas interessados pelos seus próprios interesses, e despreocupados com a sede que outros possam sentir… Sim?! Vocês que me olham espantado, pensam que sou louco, pensam que minha face soa como de um mendigo perigoso.

Eu parei perto de uma árvore próxima aquele parque e como não querendo nada ouvia suas palavras…

– Amigos, ou filhos desse sistema cartesiano, qual foi à última vez que deram conta de que vocês são vida, não um objeto, vocês são seres humanos em construção, não em desordem, o que é a família?, o que é o amor?, se todos somos asfixiados pelo medo, pela intolerância, pelo próprio “EU” desconhecido. Qual foi a última vez que vocês deram um descanso emocional a vocês mesmos?  Abraçaram alguém, ou disse a alguém que o ama muito, quanto tempo levamos buscando por algo que no fim é supérfluo… Qual é nosso sonho?, o que precisamos para sermos felizes?!

A vida é curta, e cheia de pedras no caminho, muitas vezes pedras pequenas mais que carregamos como se fossem uma montanha, por quê?! … Apenas por não construir uma vida calma e plena, apenas porque vivemos na correria deste mundo sem amar a nós mesmos.

Este homem estava certo, olhei para alguns pássaros que ciscavam migalhas no chão e pensei, “São livres”…, enquanto nós somos presos, por sentimentos, por cobiças, por desilusão, por injustiça, por não darmos tempo para nossa própria existência que passa por nós muitas vezes sem percebemos.

Escrito por: Ana Feitosa

Estudante de Administração pela Faculdade Carlos Drummond de Andrade, São Paulo - SP. Escritora desde 2006.