A Psicologia da Gestalt

A Psicologia da Gestalt originou-se na Alemanha, entre 1910 e 1912. A tradução da palavra alemã “Gestalt” é complexa e os termos, em português, que mais se aproximam de sua tradução seriam “forma”, “configuração”.  Os três pesquisadores que marcaram essa corrente teórica foram Marx Wertheimer, Kurt Koffka e Wolfgang Köhler. Esses pesquisadores embasaram-se nos estudos psicofísicos – os quais relacionaram a forma e sua percepção. Seus experimentos iniciaram-se com relação à percepção e sensação do movimento. Visavam entender os processos psicológicos envolvidos na ilusão de ótica, quando o estímulo físico percebido pelo sujeito possui uma forma diferente da que corresponde à realidade.

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O fundador da Psicologia da Gestalt, Wertheimer, tomou por objeto a análise e compreensão do movimento aparente. Realizou experiências com dois pontos de luz, acendendo e apagando as duas luzes no escuro, em diferentes intervalos de tempo entre o acender de uma lâmpada e o apagar de outra e também em diferentes velocidades nesse intervalo. O pesquisador chegou à conclusão de que o movimento percebido nas luzes se dava na mente do sujeito, através da ilusão de ótica.

Kurt Koffka, psicólogo alemão, foi responsável por difundir a Psicologia da Gestalt nos Estados Unidos através de palestras que dava nas Universidades. Nesta época, a Psicologia americana centrava-se no Positivismo, e assim sendo, a Gestalt sofreu duras críticas. Köhler foi também um outro pesquisador da Psicologia da Gestalt e desenvolveu pesquisas com macacos na época da Primeira Grande Guerra. Este pesquisador visava conhecer a capacidade mental dos macacos. Em 1935, tornou-se o presidente da APA (Associação Psicológica Americana).

A teoria da Gestalt tem como ponto inicial e principal objeto a percepção. De acordo com os gestaltistas, o processo da percepção encontra-se entre os estímulos fornecidos pelo meio e a resposta do indivíduo. Destarte, o que é percebido pelo indivíduo e como é percebido são importantes elementos para que se possa compreender o comportamento humano. Assim como para o Behaviorismo, a Gestalt entende a Psicologia como uma ciência que estuda o comportamento, todavia, com suas diferenças teóricas – os behavioristas estudavam o comportamento pela relação estímulo-resposta e desconsideravam os conteúdos conscientes devido à impossibilidade de controla-los de modo científico. De acordo com os gestaltistas, o comportamento deveria ser observado em seus aspectos mais globais e deveria haver a consideração das condições que alteram a percepção do estímulo. Como justificativa a essa teoria, embasavam-se na teoria do isomorfismo – esta pressupunha uma ideia de unidade no universo e pressupunha que a parte sempre se relacionava ao todo. Quando se vê somente a parte de um determinado objeto, por exemplo, há a tendência da restauração do equilíbrio da forma e isso garante que se entenda o objeto que se está percebendo. “Esse fenômeno da percepção é norteado pela busca de fechamento, simetria e regularidade dos pontos que compõem uma figura (objeto)” (TEIXEIRA, 2007, p.60).

 É nos fenômenos da percepção que a Gestalt descobre as condições para a compreensão do comportamento do homem. A maneira como se percebe o estímulo provocará o comportamento humano. Vale explicitar alguns princípios fundamentais e a partir dos quais a percepção se configura: 1) ” o todo é mais do que a soma das partes”; 2) princípio de fechamento; 3) princípio de proximidade; 4) princípio de semelhança; 5) a relação entre figura e fundo. Faremos algumas breves explanações acerca destes princípios respectivamente. O princípio número 1 significa que ao se observar um objeto, há a tendência de se perceber a totalidade do objeto. O princípio número 2 afirma que há a tendência de se buscar na memória algum elemento que seja próximo do objeto, na questão de conteúdo e forma, para facilitar a compreensão do mesmo.  O princípio número 3 significa que, ao se perceber um objeto, há a tendência de que ele seja agrupado de acordo com a relação de proximidade que ele possui com outro objeto. O princípio número 4 diz da tendência do homem de agrupar os elementos de acordo com suas semelhanças. Por fim, na relação figura/fundo, uma parte emerge do todo e se discrimina do resto da gravura. A parte que emerge é a figura e os outros elementos são o fundo. Assim, o objeto que se percebe de modo imediato é sempre a figura.

O conceito de insight é de suma importância para a Gestalt. É definido como um evento cognitivo no qual a relação e a ligação de eventos psicológicos conferem forma à figura e fazem com que o sujeito compreenda a figura formada.

Como se pode observar, gestaltistas eram também adeptos da concepção inatista do homem e do apriorismo kantiano. Não obstante, o comportamento cognitivo do homem seria resultado de estruturas inatas – às quais são inerentes ao sujeito. De acordo com esta perspectiva, a aprendizagem é determinada pela capacidade de perceber do sujeito e também por um sistema nervoso maduro. A aprendizagem ocorre, pois, de dentro para fora e liga-se à prontidão que o aluno tem em aprender. A prontidão, por sua vez, depende da maturação neurológica do aluno e é esta que determina a motivação e o interesse do aluno durante a aprendizagem. O trabalho do professor, dentro desta perspectiva teórica, seria o de dar auxílio ao aluno, seria o de reorganizar o campo de percepção daquele de acordo com o conteúdo

Michelle Vaz é graduanda em Filosofia